O céu de Belém está sob estrita vigilância durante a 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30). Nem tão longe dos discursos e das negociações climáticas, a Polícia Federal (PF) monitora um enxame de pequenas aeronaves não tripuladas (ARPs) os populares drones. Entre 31 de outubro e 16 de novembro, o Centro Integrado de Controle de Aeronaves Remotamente Pilotadas e Contramedidas (CIC-ARP/CM) detectou exatas 2.358 dessas aeronaves sobrevoando áreas sensíveis da capital paraense. “Um recorde para eventos internacionais no Brasil”, explicou sob reserva uma fonte familiarizada com o tema. Os dados parciais obtidos pela Agência Pública devem sofrer alteração até o final da COP30, que entrou em sua última semana.
A operação, coordenada pela PF, tem a participação das Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Aérea) e demais órgãos de segurança pública. O aparato anti-drone foi distribuído em pontos estratégicos: o Aeroporto Internacional, o Porto de Outeiro, o Parque da Cidade — epicentro da conferência — e a própria Superintendência da PF no Pará. A maior concentração de atividade ocorreu nos arredores da sede da PF e no Parque da Cidade, que juntos somaram 1.324 detecções até 16 de novembro. O dia 15 de novembro, feriado da Proclamação da República, foi o dia mais movimentado, com 128 drones detectados. Na data, a Marcha dos Povos concentrou nas ruas de Belém cerca de 30 mil pessoas, de 65 países. Elas reivindicavam, principalmente, o fim do uso de combustíveis fósseis, medida considerada a mais urgente e eficaz contra as mudanças climáticas.
190 drones exigiram ação direta
Dos mais de dois mil drones detectados, 190 exigiram uma ação direta, ou seja, foram forçados a parar, um procedimento batizado no jargão técnico de mitigação. “Todos esses que foram mitigados, teoricamente, a PF interferiu na comunicação, controle do drone, e fez algo que o dono do drone não queria”, explica a fonte. A tecnologia permite assumir o controle do aparelho e interromper a possível ameaça de forma direcionada. De forma complementar, foram utilizados jammers, que atuam bloqueando os sinais de controle remoto e GPS, fazendo com que o drone perca o comando ou retorne automaticamente.
Os equipamentos de detecção da Polícia Federal permitem a identificação de aeronaves em um raio de até 10 quilômetros. Quando um drone se aproxima demais da chamada blue zone, a área de segurança máxima do evento, os operadores da PF assumem o controle, numa neutralização que pode ocorrer em até 2 quilômetros de distância. As opções são variadas. “Ele pode descer com o drone numa zona de pouso segura, ficar com o drone no alto até acabar a bateria, ou mandar o drone para o local de onde ele decolou”, detalha a fonte. A escolha da zona de pouso não é aleatória e revela a principal preocupação por trás da operação. “Tem que ser longe do evento, porque se o drone tiver alguma bomba, não pode descer próximo, por questões óbvias”.
Além de neutralizar os aparelhos voadores, a tecnologia permite identificar a localização exata do piloto. Isso levou a nove “abordagens” formais. Segundo a fonte, a abordagem tem um caráter mais educativo. “O aparelho vai dizer em qual local você está, aí a PF manda uma equipe [que] te aborda mesmo”, conta. Os policiais explicam que o voo é proibido, conforme as normas estabelecidas pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), que desde outubro alterou temporariamente as regras durante a Conferência.
A operação na COP30 faz parte de uma expertise que a PF começou a desenvolver em eventos como a cúpula do BRICS. A mesma vigilância se estendeu aos deslocamentos da comitiva presidencial, com o sistema criando uma bolha de proteção móvel em torno do comboio.

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