O General Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Bolsonaro, foi recebido pelos parlamentares bolsonaristas de pé em salva de palmas ao chegar para seu depoimento hoje (26) na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) de 8 de janeiro.
Em sua fala, ele repetiu sua defesa na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e resumiu os atos golpistas como uma “besteira” feita por “curiosos”. Também defendeu como uma “manifestação política, pacífica” o acampamento na frente do Quartel General do Exército, de onde saiu parte dos vândalos. “Eu nunca considerei o acampamento algo que endereçasse a segurança institucional”, avaliou, mesmo que o GSI, pasta que ele comandava, tenha recebido relatórios da Abin que afirmam justamente o contrário, como revelaram reportagens da Agência Pública.
Questionado sobre os relatórios, que também apontaram a existência de neonazistas e supremacistas brancos nas manifestações que contestavam a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o general disse que os desconhecia. O desconhecimento foi repetido como resposta a outros questionamentos ao longo da oitiva. “O senhor não tinha conhecimento de nada, né general”, comentou a relatora, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Não explicou visita de golpistas, informação revelada pela Pública
Heleno também foi perguntado sobre o GSI ter recebido, em novembro e dezembro do ano passado, acampados e ao menos uma pessoa que posteriormente foi presa por invadir os prédios públicos em 8 de janeiro. A informação foi revelada pela Pública em março deste ano, mas o general usou seu direito ao silêncio e não respondeu aos questionamentos, feitos pelo deputado Rogério Correia (PT-MG) e pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES). Quando a mesma pergunta foi feita na CPI da CLDF, pelo deputado distrital Fábio Felix (PSOL-DF), Heleno disse que “a grande maioria das pessoas que eu recebi eu não conhecia”. A reportagem também foi citada em um dos requerimentos que gerou a convocação do general.
Além da homenagem inicial, a sala cheia indica que a tentativa de blindagem ao ex-ministro é uma prioridade da atual oposição. A lista de inscrição para fala é a maior das últimas oitivas, e, além dos membros e suplentes da comissão, conta ainda com oito não-membros, seis deles bolsonaristas.
A título de comparação, a oitiva do general Gustavo Henrique Dutra, ex-comandante militar do Planalto, no dia 14 deste mês, teve um total de 34 inscritos, dos quais oito eram não-membros. No final de agosto, o depoimento do General Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI de Lula, somou 36, com quatro não-membros. A última, que ouviu Wellington Macedo de Souza, ligado à tentativa de explosão de uma bomba no aeroporto de Brasília na véspera do natal, teve apenas 26 inscritos e um não-membro quis falar. “Nós temos hoje um recorde de inscrições”, disse o presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA).
Em resposta a um dos questionamentos da relatora, Heleno repetiu a estratégia de defesa de Jair Bolsonaro (PL), indicando que a proteção recebida pelos bolsonaristas seria recíproca. O general afirmou que o ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, não participava das reuniões do presidente. “Ele era ajudante de ordens da Presidência da República, não existe essa figura de um ajudante de ordens sentar na reunião com os Comandantes de Forças e participar das reuniões, isso é fantasia”, afirmou. Depois, quando deputados mostraram uma foto em que Cid aparecia em uma reunião com o Alto Comando, Heleno mudou a resposta e disse que isso acontecia “raramente”.
A narrativa da defesa do ex-presidente foi revelada hoje pela manhã pela colunista Bela Megale, do jornal O Globo. A matéria informa que os advogados de Bolsonaro podem tentar desqualificar a imagem de Cid ao afirmar, por exemplo, que sua patente mais baixa o impedia de participar de reuniões com o Alto Comando do Exército. No dia 21, foi revelado pelo colunista Aguirre Talento, do UOL, que Mauro Cid teria afirmado em delação premiada que Jair Bolsonaro sondou os comandantes das Forças Armadas sobre a possibilidade de anular as eleições para se manter no poder. O Almirante Almir Garnier Santos, da Marinha, teria aceitado. A história condiz com publicações do empresário Paulo Generoso, sócio do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), reveladas pela Pública.
Questionado se participou da reunião citada por Cid em sua delação, o ministro, vestido com uma gravata verde, cor do Exército Brasileiro, respondeu: “vou me manter em silêncio”.