O presidente interino da Caixa Asset, Heitor Souza Cunha, saiu da sociedade da LF Consultoria no último dia 7, após reportagem da Agência Pública ter revelado que ele mantinha o negócio com Luciano Ferreira Cavalcante – o ex-assessor do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que foi o pivô do escândalo dos kits de robótica.
Depois de a sociedade ter vindo à tona, a Caixa informou por meio de nota “que está apurando o caso internamente e, constatando desvio de conduta ou conflito de interesse, vai tomar as providências cabíveis pautadas em governança”.
A matéria intitulada “Caixa Asset: Presidente interino é sócio de ex-assessor de Arthur Lira que foi alvo da PF” mostrou que Cunha detinha 20% das cotas da LF Consultoria desde 10 de abril deste ano, quando ainda ocupava o cargo de consultor de dirigentes na Caixa Asset.
Ele foi nomeado no dia 1o deste mês como presidente interino da Caixa Asset, o braço de gestão de fundos de investimento da Caixa Econômica Federal, após a demissão de Pablo Sarmento.
A reportagem foi publicada dia 4 de novembro e no dia seguinte Cunha pediu seu desligamento da empresa, conforme informações da Junta Comercial do Distrito Federal.
Ainda de acordo com dados da Junta Comercial, a LF Consultoria atua com gestão empresarial, publicidade, atividades de intermediação e agenciamento de serviços e negócios.
A Pública esteve no endereço da firma, localizada em uma mansão no Lago Sul, em Brasília. Conforme mostrou a reportagem, ao ser questionada sobre o site com a relação dos serviços prestados pela companhia, a recepcionista do local indicou o site da empresa, mas o endereço exibia um nome diferente: FCC Relações Governamentais.
Dentre as atividades informadas, destaca-se a indicação de que faz “incidência política”. “Somos uma empresa de relações governamentais especializada na defesa de interesses em ambientes regulatórios complexos”, ressalta a empresa no portal ao indicar fazer lobby junto ao governo e Congresso. “Nos Poderes Legislativo e Executivo, identificamos tendências e desenvolvemos estratégias para a defesa de interesses”, resume.
A Lei 12.813/2013 estabelece, entre outros pontos, que configura conflito de interesses no exercício de cargo ou emprego no âmbito do Poder Executivo federal “atuar, ainda que informalmente, como procurador, consultor, assessor ou intermediário de interesses privados nos órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.
Advogado de Arthur Lira
A Pública também revelou que no mesmo endereço da LF Consultoria funciona o escritório Maurício Carvalho Advogados, que pertence ao advogado do deputado federal Arthur Lira, Luiz Maurício Carvalho e Silva. Ele informou à reportagem que as empresas não têm relação. “Não tem nenhuma relação, é só um rateio de espaço físico”, afirmou Carvalho: “O Luciano é meu amigo de muitos anos já”.
Presidente do União Brasil de Alagoas, Luciano Cavalcante foi alvo da Operação Hefesto, da Polícia Federal (PF), desencadeada em junho de 2023 para investigar um suposto esquema de desvio de dinheiro na compra de kits de robótica com recursos do Ministério da Educação.
O inquérito foi trancado e arquivado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes em setembro de 2023, sob o argumento de que houve “usurpação de competência” do STF, após a PF ter encontrado indícios de suposta participação do deputado Lira no esquema.
Luciano Cavalcante fundou a LF Consultoria em 16 de junho de 2023, apenas 15 dias após deflagrada a operação da PF. As atividades da empresa que mantinha com Heitor Cunha coincidem com o ramo de atuação da empresa da filha de Luciano Cavalcante e do filho do deputado Arthur Lira, a Omnia 360, que negocia publicidade com a Caixa Econômica Federal.
Desde novembro do ano passado, o banco é dirigido por Carlos Vieira, indicado à presidência da Caixa por Arthur Lira, após acordo do parlamentar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).