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Nota

EUA x China: Tarifaço favorece agro e Centro-Oeste e traz prejuízo bilionário ao Sudeste

16 de abril de 2025
13:44

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, com a imposição de impostos para importações, impacta a economia brasileira como um todo, mas de modo regional desigual. Enquanto o Centro-Oeste deve ganhar estimados de R$ 6,94 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) regional como consequência das mudanças no mercado internacional, na outra ponta, o Sudeste deve ser mais prejudicada, com uma perda estimada de R$ 7,16 bilhão. O PIB é a soma de riquezas produzidas em uma região, incluindo bens e serviços, e serve como indicador do desempenho econômico.

A análise, realizada por uma simulação do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica Aplicada (Nemea) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta que o Centro-Oeste deve sentir os efeitos da valorização e aumento de exportações de produtos como soja e outros produtos agrícolas, além de derivados do petróleo – o ganho nacional deve ser de cerca de R$ 796 milhões. Estados como Bahia, Maranhão e Piauí devem ser beneficiados, enquanto Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro — os três com maior PIB do país, segundo dados mais recentes do IBGE — devem registrar perdas.

A projeção utiliza modelos de Equilíbrio Geral Computável (EGC) considerou o cenário esperado após as medidas anunciadas por EUA e China entre 7 e 11 de abril. Os EUA impuseram impostos de importações da China em 145% e sobretaxas de 25% sobre automóveis e aço e a China respondeu elevando em 125% as tarifas para produtos americanos. Nesta quarta-feira (16), o governo Trump reagiu à retaliação impondo tarifas ainda mais altas a produtores chineses e produtos como veículos elétricos e seringas passaram a ser taxados em até 245%. Na prática, isso significa que outros mercados serão acionados para atender a demanda de ambos os gigantes econômicos.

“Os resultados regionais derivam basicamente dos setores, dos produtos beneficiados ou prejudicados nessa guerra comercial”, explica o pesquisador do Nemea Edson Paulo Domingues, que integra o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG. “Você estaria concentrando atividade produtiva relativamente no agro, agropecuária, na soja, e diminuindo a participação da indústria, o que pode ser um problema em termos de industrialização”, completa. Segundo Domingues, a expectativa de retração se deve, sobretudo, ao esperado desempenho negativo da indústria, fortemente concentrada no Sudeste. A produção e as exportações de segmentos como metal ferroso, equipamentos de transporte, produtos químicos e farmacêuticos devem recuar.

Guerra comercial: Custos ambientais vão além do momento

No Nordeste, o impacto da guerra comercial entre EUA e China também é desigual entre os estados. Se no saldo o balanço é positivo (R$ 1,8 bilhão), nas entrelinhas, apenas Bahia, Maranhão e Piauí devem sair ganhando, juntos, cerca de R$ 2,4 bi. Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe, por outro lado, devem amargar perdas de aproximadamente R$ 609 milhões.

A disparidade pode estar associada ao redesenho das cadeias comerciais na área de expansão do agronegócio no Cerrado no Matopiba — região de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. “O cerrado foi devastado com as monoculturas de soja e milho. Tem também a devastação com a produção do carvão vegetal que foi alimentar as siderúrgicas e a ocupação das áreas cada vez maiores com o eucalipto. E isso é claro que causa um impacto enorme na sustentabilidade e biodiversidade da região”, diz a bióloga Mônica Meyer, em reportagem da Pública que mostra os impactos do agronegócio no Cerrado.

Atualização: Governo Trump impôs mais 100% de tarifas sobre produtos chineses durante o dia 16 de abril

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