Segundo dois levantamentos distintos obtidos pela Agência Pública, Pablo Marçal (PRTB), que disputa a prefeitura de São Paulo, teve mais destaque na cobertura da imprensa que seus concorrentes durante o mesmo período, entre agosto e setembro, aumentando sua popularidade junto aos eleitores.
O primeiro e mais recente levantamento feito pelo professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), cientista político do Instituto Informa e pós-doutorando do INCT Representação e Legitimidade Democrática (Redem) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fábio Vasconcellos, indica que Marçal foi o candidato com maior crescimento na cobertura da imprensa após as convenções partidárias, que aconteceram no final de julho.
Ele avaliou como os cinco candidatos com mais intenção de voto na disputa em São Paulo apareceram em veículos jornalísticos e sites que publicaram conteúdo sobre as eleições desde o início do ano até 17 de setembro. A pesquisa buscou menções em 1,2 mil sites.
Marçal, que era o nome com menor destaque na imprensa antes das convenções, praticamente quadruplicou suas menções em reportagens, o maior crescimento em comparação a todos os outros quatro candidatos.
“Esse comportamento de embate, agressivo, leva a imprensa, por razão dos seus valores de notícia, a começar a falar mais dessa pessoa, seja na perspectiva crítica, seja meramente de reprodução do que aconteceu, o que é muito ruim, mas aconteceu. Aí ele rompeu a bolha do digital – ele faz uma transferência da sua popularidade do digital para o ambiente institucional da política”, avalia Vasconcellos.
No levantamento de Vasconcellos, Marçal teve um novo ganho de visibilidade após o primeiro debate da Rede Bandeirantes, em 8 de agosto. Ele seguiu em alta com o início da campanha eleitoral e também após o debate no programa Roda Viva, da TV Cultura.
“É aquela velha máxima: falem mal, mas falem de mim. Numa campanha eleitoral, se você consegue dominar a agenda eleitoral, você tem uma vantagem competitiva. Ao invés da imprensa estar falando das propostas de Nunes, Boulos, de Tabata, a imprensa está ocupando energia e espaço para falar de Pablo Marçal”, acrescenta.
Recorte de uma semana entre Marçal x Boulos
Outro levantamento, realizado pelo especialista em monitoramento de redes Pedro Barciela, que é autor no blog “essa tal rede social”, buscou links de matérias que mencionam no título Marçal ou demais candidatos entre 22 e 28 de agosto. O resultado é que Marçal foi o tema de 4 mil matérias no período, mais de três vezes a quantidade de conteúdos sobre o seu adversário Guilherme Boulos (PSOL). Na época, Marçal esteve em ascensão nas pesquisas de intenção de votos em São Paulo, chegando figurar em empate técnico no primeiro lugar junto com Boulos e Nunes.
“Marçal trabalha com as deficiências do jornalismo declaratório de forma muito eficiente”, afirma o pesquisador. Ele aponta que algumas das matérias sobre o político são baseadas nas falas ou respostas de Marçal. Um dos exemplos é uma série de matérias que repercutem o que o político disse após a Justiça Eleitoral de São Paulo decidir pela suspensão de perfis nas redes sociais por abuso de poder econômico.
“O empresário Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo, afirmou ser alvo de perseguição”, traz uma reportagem. Uma das falas da live que é reproduzida na matéria é: “Eu sou só um garoto de 37 anos. Acabei de entrar na política. Estão tão preocupados comigo por quê?”.
A reportagem conversou com Fabiana Moraes, jornalista e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Esse tipo de superatenção dispensada a ele pelo jornalismo, isso vai se repetir com outras figuras, como Trump e Milei, todos muito parecidos nessa ‘ética do achaque’ […] Esse componente do achaque, que vai funcionar como um entretenimento, vai fazer com que Marçal, Trump, [Javier] Milei alcancem muito mais espaço”, avalia.
Moraes, que é autora do livro Pauta é uma arma de combate (2022, Arquipélago Editorial), cita uma reportagem que repercute uma provocação de Marçal sobre Boulos em um dos debates. Segundo ela, é preciso que o jornalismo cubra todos os candidatos, mas é preciso se perguntar “por que declarações ofensivas são trazidas, reiteradas e vão ser superdimensionadas nas redes do jornalismo […] O jornalismo sempre foi atrás de audiência. Mas é preciso ter uma responsabilidade enorme. [É preciso se perguntar se] isso é interesse público ou do jornal em engajar, em ter cliques e, portanto, mais tráfego, mais receita”, completa.