Buscar
Nota

Médico antiaborto vai representar CFM em audiência sobre violência contra mulheres

17 de maio de 2024
12:45

O Conselho Federal de Medicina (CFM) escolheu ser representado pelo médico bolsonarista e abertamente antiaborto Raphael Câmara na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência e Assédio Sexual Contra Mulheres, na Câmara de Vereadores de São Paulo, que investiga a interrupção dos procedimentos de aborto legal na cidade.

Câmara defende a tese de que todo aborto é crime – inclusive nas situações previstas na lei: estupro, risco à vida da gestante ou diagnóstico de anencefalia do feto.

Ele é ex-secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro e foi o autor da Resolução CFM 2.378/24, publicada em abril, que impede a realização do aborto legal para mulheres vítimas de estupro com gestação de mais de 22 semanas.

No governo Bolsonaro, Câmara defendeu a abstinência sexual como método de prevenção da gravidez na adolescência e editou uma cartilha que recomendava práticas consideradas ultrapassadas e violentas por autoridades da saúde – como cortes na vagina para facilitar o trabalho do médico e até empurrões na barriga da gestante.

Ele ainda relatou uma resolução do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) que obriga a notificação dos estupros atendidos por médicos aos órgãos policiais. A mesma medida foi editada pelo Ministério da Saúde poucos meses após ele ter entrado no governo. Essa e outras medidas da gestão bolsonarista foram revogadas no ano passado por dificultarem o aborto legal pelo SUS.

A CPI intimou o comparecimento do presidente do CFM, José Iran da Silva Gallo, que escolheu mandar Câmara em seu lugar. A sessão ocorrerá no próximo dia 21, às 11h, na Câmara paulistana.

A audiência vai discutir o fechamento do serviço de aborto legal do Hospital Vila Nova Cachoeirinha, ocorrida em dezembro do ano passado. A unidade era a que mais realizava procedimentos autorizados pela Justiça em São Paulo. Com a suspensão, pacientes em gestação avançada encontram dificuldades para interromper a gravidez, mesmo nos casos previstos na lei, na capital paulista.

A Agência Públicamostrou que a prefeitura de São Paulo interrompeu o serviço sem denúncias de irregularidades e que a administração municipal está sendo investigada pelo Ministério Público por ter acessado prontuários de pacientes que fizeram aborto na unidade nos últimos anos – o que é ilegal, porque os dados são sigilosos. 

Médicas do serviço de aborto legal do hospital foram punidas pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), o que despertou o temor entre profissionais de saúde e pacientes de sofrerem perseguição mesmo tendo cumprido a lei. O presidente do Cremesp, Angelo Vattimo, também foi convocado para a audiência da CPI, mas ainda não confirmou presença.

O pedido para a audiência foi feito pelo mandato coletivo Bancada Feminista do PSOL, representado pela covereadora Silvia Ferraro. “Vamos ouvi-lo, pois assim ficará nítido que a resolução do CFM atenta contra a autonomia e a vida das mulheres. Será uma forma de comprometer a Câmara Municipal com o cumprimento das leis que permitem o aborto legal e a retomada dos procedimentos no hospital em questão”, disse Ferraro.

Edição:

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Notas mais recentes

Brasil Paralelo gastou R$ 300 mil em anúncios contra Maria da Penha


Kids pretos, 8/1 e mais: MPM não está investigando crimes militares em tentativas de golpe


Investigação interna da PM do Maranhão sobre falsos taxistas estaria parada desde julho


Semana tem reta final do ano no Congresso, Lula de volta a Brasília e orçamento 2025


Ministra defende regulação das redes após aumento de vídeos na “machosfera” do YouTube


Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes