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Militares ligados a Bolsonaro e Salles criam empresa de carbono após deixar governo

15 de setembro de 2023
11:44
Este artigo tem mais de 1 ano

Um endereço residencial em Águas Claras, a 20 km do centro de Brasília (DF), é a sede de uma recém-aberta empresa de consultoria para projetos de créditos de carbono. A Free Tres tem um capital social de R$ 20 mil e, como sócios, cinco militares da reserva ligados ao bolsonarismo e sem experiência prévia no tema. Dois deles são parte da vasta lista de militares que tiveram cargos de chefia no Ibama durante a gestão de Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente. Somados, eles receberam, pela aposentadoria militar, quase R$ 93 mil de remuneração militar somente em julho deste ano.

Em 22 de abril, quatro dias antes da empresa ser registrada oficialmente na Junta Comercial do Distrito Federal, o coronel reformado do Exército Manoel Fernandes Amaral Filho, um dos sócios da Free Trees, foi um dos convidados do CBN Mercado Inteligente, programa semanal da emissora em Manaus. 

Na entrevista, o militar da reserva explicou a atuação da empresa: “Ela levanta aquelas áreas que têm ativo com capacidade de capturar créditos de carbono e traz até as certificadoras para que eles atestem que aquilo ali é fato. Do outro lado, a gente procura as empresas, os ramos industriais, os ramos econômicos, que precisam adquirir créditos e apresentamos também”.

Formado na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 1990, Amaral Filho atuou por um ano na Minustah, a missão de paz da ONU no Haiti comandada pelo Brasil. A operação era chefiada na época por Luiz Eduardo Ramos, que anos depois foi ministro-chefe da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro (PL). Na gestão de Ramos, Amaral Filho foi assessor da pasta e comandou a Secretaria Especial de Relações Institucionais da Segov. Em julho de 2020, ganhou cargo na Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), onde permaneceu até o fim do governo.

Do Ibama de Ricardo Salles, saíram dois dos sócios da Free Trees. 

O coronel reformado Rezende Guimarães Filho foi superintendente da autarquia no Amapá entre 2019 e 2020, e depois comandou o órgão no Amazonas entre 2020 e 2021. De lá, saiu direto para a Suframa, onde ficou até o fim do governo. Também coronel reformado, Danilo Mitre Filho teve vida mais curta no governo de Jair Bolsonaro: foram menos de cinco meses à frente do Ibama do Pará. Em 2022, ele tentou se eleger deputado estadual no Amazonas pelo Patriota, mas não teve sucesso.

Infográfico mostra a relação dos militares que criaram empresa de créditos de carbono, mostrando o cargo que tinham no governo Bolsonaro e a relação com o ex-presidente e seu ministro Ricardo Salles
Crédito: Bruno Fonseca/Agência Pública

A lista de sócios da Free Trees inclui ainda mais dois militares influentes. 

Claudio Barroso Magno Filho não teve cargos no governo passado, mas foi figura frequente na Praça dos Três Poderes durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi colega de Magno Filho na Aman. O militar teve reuniões particulares com o vice-presidente Hamilton Mourão e esteve mais de uma dezenas de vezes no Palácio do Planalto. 

Como revelou a Agência Pública, o general reformado esteve nos corredores do poder em Brasília como lobista do Forbes & Manhattan, banco canadense associado às mineradoras Belo Sun e Potássio do Brasil. Ele é irmão do também general reformado Waldemar Barroso Magno Neto, que foi presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) durante o governo Bolsonaro.

O mais recente sócio da empresa é o coronel reformado Carlos Roberto Sucha. Também formado na Aman, um ano depois de Magno Filho e Jair Bolsonaro, Sucha foi chefe da Assessoria de Temas Institucionais da Vice-Presidência durante todo o governo de Bolsonaro. Antes disso, foi responsável pela segurança pessoal de Lula entre 2005 e 2009, atuou na Usina Hidrelétrica de Itaipu e no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do ex-presidente Michel Temer.

As informações sobre a Free Trees foram obtidas por meio de consulta no CruzaGrafos, ferramenta desenvolvida pela Abraji e pelo Brasil.IO.

A Pública procurou os sócios da empresa por meio de contatos pessoais e os informados pela empresa à Receita Federal, mas não obteve retorno até a publicação.

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