Buscar
Nota

O contrato secreto do Exército com uma empresa de espionagem israelense

24 de agosto de 2023
06:00

Militares negam há cinco meses explicações à Agência Pública sobre uma compra sem licitação de US$850 mil da Comissão do Exército Brasileiro em Washington, capital dos EUA. Divulgado no início do governo Lula, o contrato chama atenção pela fornecedora, a Cognyte Technologies Israel Ltd. 

É a mesma fabricante de um software comprado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para vigiar a localização em tempo real de até 10 mil alvos simultâneos, com suspeita de uso ilegal nos governos Temer e Bolsonaro, segundo noticiado pelo O Globo

O uso do software da Cognyte, chamado “First Mile”, está sob investigação da sede da Polícia Federal em Brasília e do Ministério Público Federal em Minas Gerais, sob olhares do Congresso Nacional. A PF disse à Pública por meio de sua assessoria que a investigação segue em andamento, sob cuidados da sede da corporação em Brasília. Já o MPF respondeu que só irá falar ao final da investigação.

O Exército tem negado explicações sobre seu contrato com a empresa israelense, firmado para a “renovação de licenças de interesse” dos militares, com gasto de mais de R$4 milhões na cotação atual. Também não se sabe quem, dentro do Exército Brasileiro nos EUA, tem acesso aos programas da Cognyte e quais seriam as ferramentas contratadas. 

Mas a falta de respostas não se justifica. O Serviço de Informações ao Cidadão do Exército já respondeu a pedidos similares, relatando detalhadamente processos de avaliação para a compra de programas como os da Cognyte, além da quantidade de militares com acesso a softwares similares.

Dado que a Controladoria-Geral da União não analisou o mérito do sigilo imposto pelos militares ao contrato com a empresa israelense, o caso será julgado pela Comissão Mista de Reavaliação de Informações, última instância de recursos via Lei de Acesso à Informação, como manda a lei.

Em abril, a Pública apurou que, além do “First Mile”, existem outros programas com potencial de espionagem ilegal. É o que indica um levantamento interno obtido e publicado na reportagem “Abin de Ramagem gastou R$31 milhões com ferramentas de vigilância secretas e sem licitação“.

Só entre dezembro de 2019 e outubro de 2021, o então diretor-geral da Abin e hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) gastou, sem licitação, pelo menos R$ 31 milhões em ferramentas espiãs sem nenhuma informação pública.

Somada a outros três contratos firmados com empresas divulgadas pela agência de inteligência, a cifra torna o ex-delegado da Polícia Federal (PF) – e homem de confiança do clã Bolsonaro – o ex-diretor-geral da Abin que mais gastou com tecnologias de espionagem nos últimos cinco anos.

Edição:

Precisamos te contar uma coisa: Investigar uma reportagem como essa dá muito trabalho e custa caro. Temos que contratar repórteres, editores, fotógrafos, ilustradores, profissionais de redes sociais, advogados… e muitas vezes nossa equipe passa meses mergulhada em uma mesma história para documentar crimes ou abusos de poder e te informar sobre eles. 

Agora, pense bem: quanto vale saber as coisas que a Pública revela? Alguma reportagem nossa já te revoltou? É fundamental que a gente continue denunciando o que está errado em nosso país? 

Assim como você, milhares de leitores da Pública acreditam no valor do nosso trabalho e, por isso, doam mensalmente para fortalecer nossas investigações.

Apoie a Pública hoje e dê a sua contribuição para o jornalismo valente e independente que fazemos todos os dias!

apoie agora!

Notas mais recentes

Senado vai decidir se regras em pesquisas clínicas com seres humanos devem mudar 


Com desmatamento no Cerrado em alta, governo revela como quer frear a destruição


Câmara avalia pedidos de punições mais rigorosas em casos de trabalho escravo


“Filhote do Estatuto do Nascituro” entra em pauta na Câmara para tentar impedir aborto


Inteligência artificial: Ilustradores querem pressionar Câmara sobre regulação de IA


Leia também

Abin: Parlamentares poupam órgãos que compraram programa espião da Cognyte alvo da PF

Por

Pública revelou que Aeronáutica, Exército, PRF e governos de 9 estados compraram ferramentas espiãs da Cognyte

Notas mais recentes

Senado vai decidir se regras em pesquisas clínicas com seres humanos devem mudar 


Com desmatamento no Cerrado em alta, governo revela como quer frear a destruição


Câmara avalia pedidos de punições mais rigorosas em casos de trabalho escravo


“Filhote do Estatuto do Nascituro” entra em pauta na Câmara para tentar impedir aborto


Inteligência artificial: Ilustradores querem pressionar Câmara sobre regulação de IA


Leia também

Abin: Parlamentares poupam órgãos que compraram programa espião da Cognyte alvo da PF


Como empresa de espionagem israelense alvo da PF se espalhou pelo poder público no Brasil


Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes