Buscar
Nota

Sem Bolsonaro, agronegócio abandona comemoração do 7 de setembro

6 de setembro de 2023
15:21
Este artigo tem mais de 1 ano

Na celebração do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro de 2022, 28 tratores desfilaram como estrelas do evento, representando o agronegócio brasileiro, setor alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Questionados pela Agência Pùblica à época, alguns produtores rurais responderam que a celebração era patriota e apartidária, enquanto outros assumiram o alinhamento ao bolsonarismo. Um ano depois, agora com o ex-presidente inelegível e investigado em diversos inquéritos, nenhum dos dois grupos pretende ir às ruas. Em contraponto aos tratores e ao agronegócio, a comemoração que acontece amanhã tem a defesa da Amazônia como um dos eixos temáticos

O Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA), que reúne entidades ligadas ao setor, por exemplo, não está se mobilizando para o 7 de setembro deste ano. Em 2022, eles encabeçaram as negociações com o governo Bolsonaro para colocar os tratores no centro do desfile da Independência. Também foram responsáveis por organizar caravanas que levaram produtores rurais a Brasília e pagaram pelo trio elétrico no qual o ex-presidente e seus aliados subiram e pediram votos em meio a campanha eleitoral, que já estava a todo vapor. 

Ainda assim, Júlio Nunes disse à Agência Pública que a participação no último evento não teve relação com a ligação do movimento com o bolsonarismo. “O ato cívico militar não tem nada a ver com política partidária, às vezes as pessoas confundem, mas isso é uma festa, que nem o ano passado”, afirmou na última segunda-feira (4/9). Para justificar a desmobilização este ano, Nunes argumentou que o agronegócio vive um “mau momento”: “Está muito ruim o nosso segmento. Está todo mundo preocupado, está todo mundo descapitalizado, então não tem como fazer nada”.

Fato é que o possível uso do evento oficial para fins eleitoreiros no 7 de setembro do ano passado rendeu a Bolsonaro, Júlio Nunes e aos donos dos tratores que desfilaram em Brasília uma ação de investigação por abuso de poder político e econômico, que segue tramitando no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

A Pública identificou à época os proprietários de 24 dos 28 veículos que participaram do evento na Esplanada, e que foram citados na ação ajuizada pela coligação do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em setembro de 2022. Na lista, havia nomes de grandes empresários de implementos e maquinários agrícolas, produtores rurais e representantes de sindicatos regionais do agro. Segundo relataram à reportagem, os donos investiram de R$ 4 mil a R$ 15 mil para garantir a presença de seus veículos no desfile.

Tratores que desfilaram na celebração do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro de 2022
No ano passado, 28 tratores desfilaram na celebração do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro

“Foi um baita orgulho pra gente ter participado da comemoração dos 200 anos (da Independência), e a gente tomou um processo por uso político da data, sendo que não tem nada a ver”, defendeu Nunes,  acrescentando que o movimento era crítico à política agrícola do ex-presidente, na tentativa de desvincular a ligação do MBVA com Bolsonaro. 

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin), no entanto, identificou a participação do grupo em atos em apoio a Jair Bolsonaro. De acordo com relatórios do órgão enviados à CPMI do 8 de janeiro e obtidos pela reportagem, o grupo foi  “um dos principais articuladores dos atos intervencionistas e em apoio a Bolsonaro nos últimos anos”. O próprio Nunes é apontado pela Abin como uma “liderança de bloqueio” que contestava o resultado das últimas eleições em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. 

O principal líder do grupo, apontado pelos pares como “general” do movimento – conforme destacado no relatório da Abin – o presidente da Aprosoja, Antonio Galvan, foi um dos convidados de honra de Jair Bolsonaro no evento. Ele é alvo do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) que apura os atos antidemocráticos.

“Muitos dos caminhões que partiram em comboio para Brasília após a eleição para apoiar o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército partiram de regiões de influência do MBVA”, destaca a Abin em seu relatório, acrescentando: “O MBVA possui recursos econômicos e disposição para financiar transporte de manifestantes e ações extremistas, como as ocorridas em Brasília em 8 jan. 2023”. 

Edição:
João Canizares/Agência Pública

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Notas mais recentes

Brasil Paralelo gastou R$ 300 mil em anúncios contra Maria da Penha


Kids pretos, 8/1 e mais: MPM não está investigando crimes militares em tentativas de golpe


Investigação interna da PM do Maranhão sobre falsos taxistas estaria parada desde julho


Semana tem reta final do ano no Congresso, Lula de volta a Brasília e orçamento 2025


Ministra defende regulação das redes após aumento de vídeos na “machosfera” do YouTube


Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes