EP 88 Supremacia branca e privilégio – com Lia Vainer
No 7 de setembro o Brasil celebra sua Independência, cuja história é cercada de mitos e invenções simbólicas. Também cheia de mitos é a criação de uma suposta identidade nacional, que em muitas leituras se estrutura a partir da lenda da democracia racial. Nela, se vende a ideia que a convivência entre diferentes raças é pacífica no Brasil, que o racismo é algo raro e que pouco gera pouca influência na estrutura de nossa sociedade. Amparado por esse discurso está também o mito da meritocracia, que desconsidera que as pessoas não partem de condições iguais para produzir, trabalhar e progredir. Esses conceitos tentam apagar ou minimizar o quanto os fatores raciais determinam profundamente a formação da pirâmide social brasileira e estão ligados a boa parte das questões que ainda não foram solucionadas no país.
Qualquer olhar mais dedicado sobre o Brasil mostra que tanto a suposta democracia racial quanto a meritocracia não param em pé. A sub representação em espaços de poder, como o STF, que em 130 anos de história só teve 3 pessoas negras como membros da corte, espelha apenas uma das facetas dessa realidade nas instâncias de poder. Já a violência que assassina pessoas negras e indígenas no país e faz com que suas mortes não comovam tanto, ilustra outra dimensão do mesmo fenômeno no debate público.
Mas o racismo, que produz a ideia de branquitude como sinal de virtude e superioridade, se reproduz também nas nuances da vida privada. O Pauta Pública 88 traz uma reflexão mais profunda sobre o privilégio das pessoas brancas, que influencia tanto as dinâmicas sociais nas esferas públicas, como os relacionamentos privados. A convidada para a conversa é a professora e doutora em psicologia social Lia Vainer. Formada pela USP e hoje professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lia estuda racismo, branquitude, relações interraciais e é autora de Entre o Encardido, o Branco e o Branquíssimo: Branquitude, Hierarquia e Poder na Cidade de São Paulo, publicado pela Veneta em 2020 e “Famílias Interraciais: tensões entre cor e amor“ publicado em julho de 2023, pela editora Fósforo.