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Fundador do Patriota, hoje no PL, compartilhou fake news sobre Lula e Lulinha

Desinformação rodou em grupos de Telegram de Adilson Barroso e Fabiana Bolsonaro (PL), eleita deputada estadual em SP

Reportagem
18 de outubro de 2022
14:00
Este artigo tem mais de 1 ano

No dia 14 de outubro, no grupo de Telegram “Fabiana Bolsonaro 22”, com quase 15 mil membros e no grupo “Bolsonaro e Adilson”, com 40 mil membros, o político Adilson Barroso, 58 anos, fundador e ex-presidente do Patriota, atualmente filiado ao PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, compartilhou desinformação sobre Lula e seu filho, Fábio Luís Lula da Silva. 

A primeira mentira tratava de um boné com a sigla “CPX” que Lula usou em visita ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, na quarta-feira da semana passada, 12 de outubro. Os bolsonaristas afirmaram, sem provas, que o boné mostrava uma ligação de Lula com o crime na favela. Moradores do Complexo do Alemão apontam racismo e mentira. Na verdade, a sigla CPX estampada no boné é uma abreviação de Complexo e é usada por moradores e até forças policiais para se referir ao bairro.

Segundo a plataforma jornalística de investigação de campanhas de desinformação e de checagem de fatos, o Aos Fatos, entre quarta (12) e quinta-feira (13), posts fazendo falsas associações entre Lula e o crime organizado com base na sigla CPX somaram ao menos 345 mil curtidas no Instagram, 54 mil interações no Facebook e 42 mil no Twitter. A fake news continua sendo difundida nos grupos de direita.

Na mensagem, Barroso postou a imagem de Lula com o boné CPX ao lado de um fuzil com as mesmas iniciais, numa clara tentativa de ligar fatos não correlacionados entre si. “A abreviação CPX é usada no crime organizado para descrever cupincha, ou seja, comparsa — cúmplice”, diz a imagem de fake news compartilhada. O político ainda acrescentou o seguinte comentário: “Ele estava mesmo com esse chape (SIC). Abra o olho enquanto a tempo”. A desinformação, no entanto, não angariou reações dos membros em nenhum dos grupos citados acima. 

Já outra fake news compartilhada nestes grupos afirma que “vários políticos de esquerda são os acionistas da Petrobrás, por isso, o PT não quis a CPI”. A mensagem afirma que a Veja desta última segunda, 17 de outubro, traria revelações sobre “a riqueza do Lulinha”, Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente — a Revista Veja não publicou nenhuma informação relacionada ao tema. 

A mensagem ainda faz uma série de afirmações sem apresentar provas, dizendo que Fábio Luís seria “sócio majoritário dos Frigoríficos JBS (Friboi), SÓCIO majoritário da Telefonia OI, Proprietário de SEIS Fazendas que somadas dão um total de 1.400.000 hectares. Criador de mais de 500.000 cabeças de GADO no Estado do PARÁ. Sócio majoritário da cooperativa de Frigoríficos em Gurupi-TO. Cooperfrigu, este frigorífico exporta cocaína para toda Europa. Hoje seu meio de transporte é um Jato Executivo avaliado em CINQUENTA Milhões de Dólares. Um ABSURDO … para quem era FUNCIONÁRIO PÚBLICO cuidador de ZOOLÓGICO”. A longa mensagem termina: “Vamos tirar CINCO minutos para mudar o Brasil , faça sua parte! REPASSAR GERAL URGENTE!!!”. A desinformação angariou reações de ao menos 27 membros nos grupos de Telegram citados na reportagem.

Ainda segundo o Aos Fatos, não há registros de que filhos de Lula são donos de frigoríficos. “Esta peça de desinformação é inspirada em um boato que circula há anos nas redes sociais, de que Fábio Luís Lula da Silva, também conhecido como Lulinha, teria sido sócio da JBS. Em 2015, Wesley Batista, então presidente-executivo do grupo, negou que Lulinha fosse sócio da companhia”.

Um dos grupos onde as mensagens foram compartilhadas leva o nome da deputada estadual eleita por São Paulo no último 2 de outubro, Fabiana B. [como consta na urna eletrônica], 29 anos, que obteve 64,5 mil votos. Filha de Adilson Barroso, ela se intitula Fabiana Bolsonaro nas redes e descreve em sua conta no Twitter ser CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador). Em 2020, ela foi vice-prefeita de Barrinha, município próximo a Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. A região é o nicho político de pai e filha. 

Reprodução de publicação do político Adilson Barroso (PL) na rede social Instagram.
Adilson e sua filha Fabiana, deputada eleita no último pleito

Já Adilson foi deputado estadual entre os anos de 2003 e 2007 e nesta eleição, como candidato a deputado federal pelo PL, obteve 62.445 votos, mas não foi eleito, garantindo vaga de suplente. Na descrição do perfil onde ele compartilhou desinformação, Barroso usa uma foto ao lado de Jair Bolsonaro com a seguinte mensagem: “Adilson é fundador e Presidente Nacional do Patriota por 9 anos. Amigo e Aliado do Pres. Jair Bolsonaro. Pré Candidato a Dep. Federal N 2251 no PL. Já que o Ministro Fachin me tomou o Patriota, porque o Pres. Bolsonaro ia se filiar a ele”. 

Adilson Barroso tentou em 2018 filiar Jair Bolsonaro no partido que então comandava, o Patriota, sem sucesso. Neste pleito, o candidato a deputado federal recebeu 3 milhões de reais para investir na campanha – valor que corresponde quase ao teto de 3,1 milhões para financiar as candidaturas à Câmara dos Deputados.

À esquerda Jair Bolsonaro e à direita Adilson, um homem branco com cabelos castanhos, na imagem ele usa terno e gravata azuis. Ele e Bolsonaro sorriem para a foto.
Adilson se define como “Amigo e Aliado do Pres. Jair Bolsonaro”

Segundo a coluna de Malu Gaspar, no jornal O Globo, a tumultuada tentativa de filiar Jair Bolsonaro ao Patriota fez com que Adilson Barros fosse afastado do cargo. Ele foi acusado de ter agido sem consultar os correligionários e de não respeitar o estatuto da legenda. A coluna cita que uma análise da área técnica do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontou que a legenda funcionava como um cabide de emprego para familiares de Adilson Barroso. “Só em 2018, ano em que o partido recebeu R$ 7 milhões de dinheiro público, via Fundo Partidário, os técnicos do TSE descobriram despesas de R$ 9,4 mil com ração para cachorro, R$ 2 mil com fogos de artifício e R$ 40 mil com o combustível de apenas dois veículos de uma fundação ligada à legenda”, diz a coluna publicada em 11 de junho deste ano. 

Procurado para explicar a desinformação compartilhada, Adilson não retornou até a publicação. O espaço está aberto caso o político queira se manifestar.

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