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Reportagem

Em 2004, Brasil deu US$1,7 milhão para treinamento forças de paz paraguaias

Documento da Embaixada de Assunção mostra que o Ministério da Defesa pagou treinamento para tropas paraguaias integrarem missão da ONU no Haiti

Reportagem
4 de julho de 2011
17:00
Este artigo tem mais de 13 ano

Pouco mais de dois anos após assumir o comando da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah), em junho de 2004, o Brasil enviou dinheiro ao Paraguai para que o pais vizinho integrasse as forças de paz na ilha caribenha. A informação consta de um telegrama da Embaixada dos Estados Unidos em Assunção vazado pelo WikiLeaks – e que a Agência Pública divulga com exclusividade.

O documento atesta que, em julho de 2006, o governo brasileiro havia confirmado a destinação de 1,7 milhão de dólares para o Exército paraguaio. “Os fundos serão utilizados para reparar 40 veículos blindados e prover equipamentos, uniformes e treinamento para um pelotão de capacetes-azuis que irão integrar o contingente brasileiro”, escreveram os diplomatas estadunidenses.

Um oficial do Exército paraguaio, cujo nome foi mantido em sigilo, revelou à Embaixada que o grupamento a ser enviado ao Haiti consistiria em cinco oficiais e 25 praças. A informação viria a provar-se precisa cinco meses depois, quando, em dezembro de 2006, Brasil e Paraguai assinaram um memorando de entendimento para a incorporação de “um pelotão de fuzileiros formado por trinta militares paraguaios, constituído por tenentes (no máximo cinco), sargentos e cabos/soldados, para cumprir as tarefas que lhe forem designadas como integrante do Batalhão Brasileiro na Minustah”.

Em conversa com diplomatas estadunidenses, o militar também confidenciou que o Brasil queria treinar os soldados paraguaios numa escola especializada na formação de tropas de paz, localizada em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Porém, acabou concordando em permitir que a preparação acontecesse no país vizinho, sob a orientação de uma equipe brasileira que desembarcaria no Paraguai em duas semanas.

“O oficial disse ao DAO que os brasileiros decidiram apoiar as tropas paraguaias porque políticos do país subiram o tom de suas reclamações sobre o Mercosul e a Usina de Itaipu”, afirma o telegrama, que continua com o comentário dos funcionários da Embaixada: “Sempre que o Paraguai se queixa ou ameaça quebrar acordos envolvendo o Mercosul e Itaipu, o Brasil oferece financiamento a alguns programas para fazer os paraguaios felizes.”

Após duas semanas de insistência, por volta das 19 horas de hoje, dia 4 de julho, o Ministério da Defesa finalmente respondeu à reportagem da Pública.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Ministério reconheceu a autenticidade do memorando de entendimento assinado entre Brasil e Paraguai publicado na matéria – e que oficializa a participação de tropas paraguaias na missão de paz da ONU comandada pelas forças armadas brasileiras no Haiti.

Porém, os militares negaram que o governo do país tenha repassado ao vizinho o valor de 1,7 milhão de dólares em 2006 para financiar o treinamento de capacetes-azuis paraguaios.

Segundo a assessoria de imprensa da Defesa, o Brasil destina, sim, desde 2007, dinheiro ao Paraguai em troca de sua participação na Minustah. Porém, o repasse de verbas se dá via Ministério de Relações Exteriores. E o valor é de 120 mil reais por ano.

O documento é parte de 2.500 relatórios diplomáticos referentes ao Brasil ainda inéditos que foram analisados por 15 jornalistas independentes e estão sendo publicados nesta semana pela agência Pública. LEIA MAIS

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