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Diplomata americana fala de encontros com Jucá

Em telegramas vazados pelo Wikileaks, Lisa Kubiske cita Jucá como “fonte” da embaixada dos EUA e diz que ele reclamava de “fraqueza” de candidatura de Dilma

Reportagem
23 de maio de 2016
15:31
Este artigo tem mais de 8 ano

Em 2009, o atual ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR) admitiu, durante conversa com Lisa Kubiske, conselheira da embaixada dos EUA em Brasília, que embora seu partido houvesse fechado aliança com o PT para a disputa das eleições presidenciais de 2010, preferia o nome do senador Aécio Neves (PSDB-MG) ao da então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, já cotada como candidata petista.

As informações constam em arquivo revelado pela plataforma Wikileaks em novembro de 2010. Enviado em 10 de setembro daquele ano a Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana à época, o documento, classificado como confidencial, é intitulado “Aliança de Lula com o PMDB: mais problemas do que ganhos?” e trata, como sugere o nome, das articulações entre a legenda e o ex-presidente.

Segundo Kubiske, durante o encontro, o peemedebista “passou cinco minutos reclamando sobre a fraqueza de Dilma enquanto candidata”. “O senador Jucá admitiu que a lealdade de seu partido estava dividida entre Dilma, Serra e seu nome pessoalmente favorito, Aécio Neves do PSDB, que ele gostaria de atrair para o PMDB como candidato presidencial”, reporta a diplomata norte-americana.

O ministro do Planejamento, Romero Jucá, é citado em documentos do Wikileaks vazados em 2010 (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)

Nesta segunda-feira (23), reportagem da Folha de S. Paulo revelou conversas gravadas entre Jucá e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, ambos investigados na Lava Jato. Nos áudios, o ministro sugere a criação de um “pacto” para deter o avanço da operação.

Aécio Neves, também investigado na Lava Jato, é mencionado em dois momentos: primeiro, Jucá afirma que “caiu a ficha” de lideranças do PSDB sobre o alcance da operação; Machado comenta que “o primeiro a ser comido vai ser o Aécio”. “O que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara?”, declara. Posteriormente, Machado volta a se referir ao tucano: “O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei da campanha do PSDB…”. Jucá responde: “É, a gente viveu tudo”.

Em outro telegrama vazado pelo Wikileaks, de 21 de outubro de 2009, Jucá é citado por Kubiske como uma das fontes da embaixada dos EUA no Brasil. O então senador teria dito que a filiação de Henrique Meirelles – naquele período presidente do Banco Central e atual ministro da Fazenda – ao PMDB, pouco menos de um mês antes, confirmaria os rumores de que ele seria um “potencial vice-presidente” para Dilma. A diplomata assinala, porém, que Michel Temer, à época presidente da Câmara dos Deputados, era quem provavelmente comporia a chapa com a petista.

Em 23 de março de 2005, John Danilovich, então embaixador dos EUA no Brasil, escreveu um pequeno perfil de Jucá, que assumia o Ministério da Previdência Social do governo Lula. Danilovich informa que o peemedebista “tem sido alvo de diversas acusações de corrupção ao longo dos anos”. Narra que Jucá desviou verba de um fundo de assistência social de Roraima, retirou recursos públicos destinados a projetos de construção civil no mesmo estado e permitiu desmatamento em terras indígenas enquanto presidente da Funai.

De acordo com o relatório da Comissão Nacional da Verdade, Jucá é “responsável pelo massacre de centenas de yanomamis” em consequência das epidemias levadas pelos garimpeiros que entraram em terras indígenas com a autorização dele, então presidente da Funai. Recentemente o senador também apresentou projetos de lei flexibilizando o licenciamento ambiental e abrindo as terras indígenas à exploração econômica.

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