Cansado de meses de silêncio da Polícia Federal, um familiar do indigenista Maxciel Pereira dos Santos, ex-servidor da Funai assassinado a tiros aos 35 anos na cidade de Tabatinga (AM) em setembro de 2019, resolveu ir a campo tentar colher informações sobre os mandantes e executores do crime. No ano de 2020, Pedro* rodou Tabatinga e os municípios vizinhos para tentar levantar alguma informação do homicídio.
“Cheguei na Federal várias vezes e vi que não ia ter solução ali”, contou o parente em entrevista à Agência Pública. “Primeiro porque não teve perícia nem nada. Nós recebemos o corpo do Maxciel do jeito que chegou da rua. Nós tivemos que limpar. Já pensou a família ter que fazer isso? Era pra ir pro IML, fazer exame de balística, fazer exame criminal pra poder criar uma peça incriminatória. Se você ler a perícia que fizeram do corpo do Maxciel você não vai acreditar”, relata. Segundo ele, a perícia era muito vaga na descrição das lesões que causaram a morte do indigenista.
“Aí eu pensei: ‘o que eu vou fazer para ajudar no caso?”, afirma Pedro. Ele começou seus trabalhos visitando o Ministério Público Federal em Tabatinga, depois foi às polícias Federal e Civil na cidade em que Max morreu. Na sequência, partiu para Atalaia do Norte (AM), município mais próximo da base da Funai onde o ex-servidor trabalhava, ouviu e gravou conversas com comerciantes, taxistas, pescadores, indígenas e colegas de Funai de Maxciel. “Aí foi que eu ouvi sobre as ameaças que ele recebia, inclusive dentro de prédios da Funai”, disse.
Pedro ouviu sobre possíveis mandantes e executores do crime e entregou o material à PF. A resposta foi uma reprimenda. “Disseram para eu não me arriscar e deixar o trabalho de investigação para eles”, afirmou. Ele diz que consentiu com a orientação dos policiais federais, entregou a eles o material que produziu há aproximadamente dois anos, mas desde então não recebeu mais informações sobre o caso. Telefonou e foi à Polícia Federal várias vezes, mas só recebeu respostas protocolares.
Karina*, outra familiar, diz que ouviu de pessoas na cidade nomes dos dois executores que o balearam na Avenida da Amizade. Soube depois que os dois teriam sido mortos, mas a polícia nunca confirmou a informação. O inquérito permanece em sigilo. A PF não respondeu aos pedidos feitos pela Pública para comentar as investigações.
Filhas de Max viviam da renda dele e aparentam ter traumas psicológicos, dizem familiares
Desde então, restou a Pedro e aos demais familiares lidar com a dor. Ele conta que deu um emprego a uma das filhas de Maxciel, mas que a jovem não conseguiu seguir no serviço pois ela não conseguia se concentrar no trabalho. “Ela trabalhou comigo um tempo, mas eu tinha a impressão que ela era meio desligada, sempre falava no pai dela. Tocava no assunto. Inclusive eu até disse para ela: ‘olha, infelizmente ele não volta mais. Tem que seguir a vida, trabalhar’. Mas ela ficou meio desnorteada”, diz.
Karina diz que a única renda das filhas de Maxciel vinha da remuneração dele na Funai. “Elas ficaram sem renda nenhuma. Elas precisam de um apoio psicológico, precisam de um apoio financeiro”, diz.
Também a viúva de Maxciel falou à Pública e disse que não recebeu informações sobre investigação por parte da Polícia Federal.
Mariana*, outra parente de Maxciel ouvida pela Pública, disse que não queria que o ex-servidor ficasse nas bases da Funai próximas à Terra Indígena Vale do Javari. “Ele gostava daquela área, daquela mata, daquela base. Ele gostava do trabalho dele, só que eu não queria que ele ficasse ali. Chamava ele muitas vezes para ele vir embora de lá”, relembra.
Aras pediu informações e cobrou soluções do caso de Maxciel em contato com a PF
A Agência Pública apurou que o Procurador Geral da República, Augusto Aras, pediu informações e cobrou a elucidação da investigação relativa à morte de Maxciel Pereira dos Santos durante reunião realizada na visita do PGR a Tabatinga no último domingo. Aras conversou pessoalmente com um dos delegados da PF, mas que não é o responsável pelas investigações do caso de Maxciel.
Com a repercussão internacional do assassinato de Bruno e Dom, os familiares de Max esperam, enfim, uma solução para o inquérito do ente querido, que já dura quase três anos. “Se tivesse sido feito a tempo um trabalho em cima do caso do Maxciel, de investigação e elucidação, eu acredito que Bruno e Dom não estariam mortos hoje”, avalia Pedro.