Num universo de 5.565 municípios brasileiros, menos de 700 municípios possuem secretarias dedicadas exclusivamente a mulheres, segundo a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. Esse cenário, segundo ela, prejudica a execução dos projetos elaborados em Brasília. “Podem botar bilhões no Ministério das Mulheres, mas nós não temos como executar se não tiver Secretaria das Mulheres no município, porque para quem é que eu vou repassar a verba?”, destacou Gonçalves durante café da manhã com jornalistas mulheres na manhã desta sexta-feira (2).
Segundo Gonçalves, a meta é chegar em dezembro de 2026 com duas mil secretarias municipais voltadas para as mulheres, pouco mais de 35% do universo total. “Agora tem um novo processo eleitoral. Eu acho que é possível, já no início do ano que vem, nos encontros de prefeitos, nas visitas, começar a discutir sobre isso”, ressaltou.
A ministra destacou que está articulando para que o tema seja debatido internamente nos partidos e incluído como pauta nas campanhas municipais. “Só assim que nós vamos resolver esse processo. É com muita disputa. Para mim, ter secretarias municipais de Mulheres significa estar dentro dos espaços de poder”, defendeu.
Segundo Cida Gonçalves, quando cobrados em relação à criação das secretarias das Mulheres, os prefeitos justificam que não têm condições de criar uma nova estrutura. “Aí eu não tenho como executar o recurso”, observou a ministra. De acordo com ela, os gestores municipais costumam delegar os projetos da pasta para as secretarias de Assistência Social e Direitos Humanos. “Só que qual é o problema? Geralmente não é prioridade”, lamentou.
“População precisa voltar a se indignar com violência contra mulher”
Com baixo orçamento para executar políticas públicas, a ministra das Mulheres aposta em uma mobilização nacional pelo feminicídio zero para reduzir os índices de violência contra mulheres, que aumentaram durante sua gestão, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024.
O Ministério das Mulheres foi, proporcionalmente, o mais afetado pelo contingenciamento do governo federal, perdendo 17,5% do orçamento. “Nós pedimos para não mexer no Ministério das Mulheres”, contou. “Para as mulheres, nós não vamos cortar. Se for cortar, nós vamos cortar no gerenciamento administrativo. Nós vamos diminuir viagens, nós vamos diminuir uma série de coisas, mas nós não queremos que isso afete as mulheres e os projetos”, explicou Cida Gonçalves.
A ministra defende que o movimento pelo feminicídio zero seja semelhante ao que ocorreu na década de 1990, no combate à fome. “Se a gente conseguir chegar no dia 31 de dezembro de 2023 com a maioria da sociedade dizendo que violência contra as mulheres é crime, eu acho que eu cumpri um fator estratégico e fundamental. Porque as pessoas voltando a se indignar com isso, eu acho que a gente já cumpriu um papel”, ressaltou.
Gonçalves destacou que a mudança cultural também precisa passar pelas lideranças do país, “inclusive, pelo presidente da República”. A ministra criticou um comentário machista, em tom de piada, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em relação ao aumento da violência contra a mulher após jogos de futebol. “Piadinha, nem do presidente da República”, finalizou.