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Horário de verão: como seu retorno poderia reduzir impactos ambientais

8 de outubro de 2024
04:00

O plano de contingência desenvolvido pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) e entregue ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em setembro, trouxe o horário de verão como uma das possíveis medidas para economizar energia devido à seca que afeta as hidrelétricas. A decisão se o horário de verão vai ou não voltar ainda não foi tomada pelo governo federal. O retorno do regime será decidido pelo presidente Lula somente após as eleições do primeiro turno e, caso aprovado, deve entrar em vigor apenas depois do segundo turno das eleições.

Mas, de acordo com Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), a medida beneficia o meio ambiente, que será menos impactado pela redução do uso de termelétricas e pelo adiamento da construção de novas usinas.

“A redução de impacto ao meio ambiente pode ser em função de emissões quando a gente está falando de redução de uso de térmicas para atender esse pico ou mesmo também da redução de impactos sócio-ambientais para se construir uma hidrelétrica”, explicou à Agência Pública. “Dependendo do tamanho da usina [hidrelétrica], […] de maneira geral, incorreram no alagamento de grandes áreas, no deslocamento de populações que foram tiradas do seu meio natural e foram readaptadas, entre aspas, em novos locais.”

Baitelo explica que o Sistema Interligado Nacional (SIN) é projetado não apenas para suprir a demanda média diária, mas para suportar os picos de consumo. “Não é exagero dizer que esse sistema é uma e meia, ou duas vezes, maior do que a média só para atender a esses momentos. O horário de verão busca gerenciar a demanda, tirar um pouquinho desse pico para que a gente possa usar energia de maneira mais eficiente”, afirmou. “É uma medida sem dúvida nenhuma que pode ser considerada de gestão de demanda, e a gestão da demanda é um guarda-chuva da eficiência energética.”

Segundo o pesquisador, a redução seria consequência do grande aumento de unidades consumidoras abastecidas por energia solar, que reduz a sobrecarga e permite uma melhor distribuição do sistema de matriz energética atual. “Não só a gente está reduzindo o uso de luz artificial […] como a gente também, agora que a geração solar está presente em mais de 4 milhões de unidades consumidoras, está aproveitando um pouco mais essa coincidência de ainda ter sol e das pessoas já estarem em casa, e poderem usar essa eletricidade que vem do sol no ar condicionado ou em qualquer outro uso”, explica.

“O horário de verão, por mais que ele seja temporário, [com ele] a gente está adiando investimentos nessa matriz elétrica. […] E ao adiar isso a gente está adiando os impactos inevitáveis de todos os tipos de geração de energia, principalmente os [impactos] fósseis, ou os de grande porte, [como] as hidrelétricas”, complementa.

A Geração Distribuída (GD) é liderada pela energia solar e permite aos consumidores gerar a própria energia. Segundo a Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), houve um crescimento exponencial nos últimos quatro anos da GD. Para Carlos Evangelista, presidente da ABGD, o crescimento da GD foi facilitado por fatores como o barateamento dos equipamentos, a redução do tempo de retorno de investimento e a criação de políticas públicas.

O horário de verão, implementado pela primeira vez em 1931, foi uma solução pensada para reduzir o consumo de energia elétrica no início da noite, quando a população chegava do trabalho e acionava a iluminação artificial em suas casas. No entanto, em 2019, o governo federal, sob Jair Bolsonaro, decidiu suspendê-lo, argumentando que seu impacto positivo havia se reduzido, visto que o pico do consumo já não ocorria entre 19h e 20h, mas sim por volta das 14h – momento em que o horário de verão não teria efeito.

“Os horários de maior consumo hoje são entre 13h e 15h, no meio do dia, exatamente por causa do ar condicionado, todas as empresas estão funcionando a mil. […] Esse horário coincide com a produção máxima do sistema solar fotovoltaico, onde o sol está mais forte e gera energia exatamente quando as temperaturas estão mais elevadas, aí vem o porquê do ar condicionado”, explica Evangelista.

Ao ser questionado sobre estimativa da redução de impactos, Baitelo explica que é complicado fazer esse cálculo, visto que naturalmente todo ano existe uma variabilidade em questão de chuvas, secas, e uso de termelétricas, e agora, com as mudanças climáticas, o cálculo fica mais impreciso. “Tudo isso influencia o quanto a gente precisa de [energia] térmica, sendo que a térmica é uma forma de geração emergencial. Somado a essas variáveis, a gente está passando por eventos extremos constantes, então a gente vai ter picos de calor que a gente não consegue prever e por isso é realmente complexo a gente saber quanto tem de [emissão de gases das usinas] térmica”, complementa.

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