Em convenções mundiais sobre desenvolvimento e ajuda humanitária, como o 4º Fórum para Efetividade da Ajuda Humanitária, que ocorreu no ano passado, os governos repetem sempre a mesma coisa: que a maneira mais eficaz e justa de administrar a ajuda internacional é deixar nas mãos dos governos que recebem o auxílio financeiro.
Mas uma nova pesquisa mostra que os governos doadores acabam muitas vezes investindo dinheiro público em empresas privadas – muitas delas sediadas nos mesmos países ricos.
Um novo relatório publicado pela Rede Europeia para Dívidas e Desenvolvimento (Eurodad, na sigla em inglês) examinou cerca de US$ 30 bilhões de investimentos no setor privado voltado para o desenvolvimento nos países mais pobres do mundo.
As doações foram feitas por governos europeus, pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) e pelo Banco Mundial, entre outros.
Quase metade desses investimentos foi para empresas dos países que fazem parte da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), cujos 34 membros reúnem mais da metade da riqueza mundial.
O estudo mostrou que muitas destas empresas contratadas são grandes corporações e suas subsidiárias. Cerca de 40% estão listadas em alguma das maiores bolsas de valores do mundo.
Dentre os 15 maiores investimentos do BEI e da Corporação Financeira Internacional do Banco Mundial (IFC, na sigla em inglês), dois foram para empresas sediadas no Reino Unido: Helios Towers e Vodafone Ghana. Ao mesmo tempo, apenas 25% das empresas financiadas pelo EIB e pelo IFC estão sediadas em países em desenvolvimento.
Até em paraísos fiscais
A pesquisa da Eurodad também descobriu que muitos dos grandes investimentos em ajuda internacional estão indo, na verdade, para empresas sediadas em paraísos fiscais.
O relatório foi além. Descobriu que 50% da ajuda dada pelo BEI foi enviada por meio de intermediários do setor financeiro. Esses intermediários financeiros incluíam bancos, hedge funds e fundos privados com sistemas de relatório extremamente opacos.
O resultado? É muito difícil de acompanhar como o dinheiro está sendo investido.
“Investimentos em empresas privadas onde são necessários e apropriados podem ser valiosos, mas há pouca evidência de que doadores e instituições internacionais têm um plano claro. Muito do dinheiro público acaba financiando empresas de países ricos. Muito pouco vai para nutrir o setor privado dos países mais pobres do mundo”, diz Jeroen Kwakkenbos, analista financeiro da Eurodad e autor do relatório.
Em conclusão, o relatório da Eurodad prevê que até 2015 um terço de todo o financiamento de governos de países ricos destinado a países em desenvolvimento irá acabar nas mãos de empresas do setor privado. O relatório pode ser baixado na íntegra, em inglês, através deste link.
Clique aqui para ler a matéria original, em inglês.