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O fotógrafo André Mantelli acompanhou a caminhada liderada por mulheres indígenas em território Zapatista em nome da aspirante a candidata nas eleições presidenciais

Ensaio
13 de janeiro de 2018
20:09
Este artigo tem mais de 6 ano

Antes do primeiro canto dos galos, a caravana que acompanhava o Conselho Indígena de Governo e sua porta-voz Marichuy já se desenhava entre a neblina: 12 ônibus e mais de 50 veículos, entre caminhonetes, furgões e paus de arara e automóveis particulares, se preparavam para sair até a cidade de Guadalupe-Tepeyac, primeira parada de uma série de cinco em uma semana de jornada em território zapatista, em Chiapas, estado do sul mexicano. O percurso desde San Cristóbal de Las Casas, que normalmente seria de cerca de quatro horas, chegava a 18 por causa do tamanho da comitiva.

Apesar de ser a maior população indígena das Américas em números absolutos, os povos originários do México pouco tiveram representatividade junto aos governos. Por isso, em uma decisão inédita, o Congresso Nacional Indígena, organização autônoma que representa os 43 povos indígenas distribuídos em 523 comunidades de 25 estados mexicanos, com apoio fundamental do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), resolveu eleger um Conselho Indígena de Governo composto por 156 conselheiros que indicaram sua porta-voz (“la vocera”), María de Jesús Patricio Martínez, para constar nas cédulas eleitorais como candidata independente à Presidência – uma possibilidade aberta apenas nas eleições de 2018. Conseguir isso não é fácil: são necessárias quase 870 mil assinaturas de apoio em um aplicativo online, fato que cria muitos obstáculos considerando-se as características econômicas e a localização geográfica do público-alvo.

La vocera Marichuy, como é também conhecida, é mulher nahua da região de Jalisco e defensora da medicina popular tradicional e fitoterápica. Desde outubro de 2017, ela e outros conselheiros viajam em caravana pelo país.

Afirmam que a jornada não é para atrair votos nem pela disputa de poder, mas para chamar os povos a se unirem e se organizarem em defesa de suas culturas, tradições, territórios e integridade política, e sobretudo para juntos lutarem pela vida. É a reação a um histórico de violações e da ausência do Estado, apexar do México ser signatário do convênio 169 da OIT, que garante os direitos dos povos indígenas, e dos acordos de San Andrés com os povos mexicanos, nunca cumpridos pelo governo. Marichuy não se cansa de repetir: “Precisamos nos organizar, não tanto para agora, mas principalmente para depois de 2018, quando as coisas estarão mais difíceis”.

Aqui, a política que propõem coloca no papel de protagonistas os de “baixo”. Por isso, além de indígenas, as mulheres têm papel central: basta notar que em toda a caravana – e em movimentos insurgentes políticos do México – são elas que ocupam e comandam grande parte dos espaços.

Durante os eventos que acompanhei, tudo girou em torno da mulher: as oradoras foram mulheres, as assistentes, majoritariamente mulheres; e os discursos foram preparados por e para mulheres. Outra característica notável dessa jornada foi a grande quantidade de jovens, mostrando que o movimento zapatista está se renovando.

No início da cerimônia em Oventik, o último dos caracoles (como são chamadas as regiões administrativas dos municípios autônomos rebeldes zapatistas) da caravana, quase todos cantaram o hino nacional mexicano de peito cheio. O discurso de luta, resistência e autonomia é também a afirmação dos povos originários, que reclamam seu lugar de pertencimento ao país. E isso parece estar muito claro no próprio slogan de campanha do Concejo Indígena de Gobierno: “Nunca más un México sin nosotros”.

As fotos abaixo mostram parte da caravana por 38 povoados na região dos cinco caracoles em Chiapas, entre 13 e 19 de outubro de 2017.

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