Buscar
Nota

Times de futebol do Pará vestem camisa contra crise climática em apoio à COP30

7 de novembro de 2025
04:00

Nos principais clubes do futebol paraense, a crise climática, ao menos neste ano de Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém, não é um conceito abstrato, mas uma realidade que se veste. Literalmente.

Remo, Paysandu, Tuna Luso e até o modesto Caeté, do município de Bragança (PA), transformaram seus uniformes em mensagem ambiental explícita para suas torcidas, que, juntas, são estimadas em mais de 3 milhões de torcedores.

A mobilização inédita em torno das mudanças climáticas teve início com o Paysandu, ainda em dezembro de 2024, com o lançamento da coleção “Amazônia que Inspira”. A camisa remete às águas da região e os uniformes dos goleiros exibem as cores vibrantes de pássaros locais.

O arquirrival, Clube do Remo, foi ainda mais direto. O terceiro uniforme, batizado de “Desaquece”, traz a imagem de um pulmão amazônico com um dos lados em chamas e o escudo do alviazulino ao centro. A camisa é feita de fibras de garrafas PET recicladas e sem tintura química.

A Tuna Luso, com sua coleção “Viva a Amazônia”, e o Caeté, com o selo “Árvores Gigantes”, seguiram o mesmo caminho do Remo com camisas de fibras de garrafas PET recicladas.

No caso da Tuna Luso, um selo comemorativo da COP30, com um design que remete a um selo postal, destaca a importância cultural e ambiental da Amazônia para o evento. No centro da imagem, uma figura indígena em preto e branco. Sobreposto à imagem, um carimbo circular preto traz a inscrição “COP30 no Pará” em letras maiúsculas e, em um arco superior, a frase “O maior evento climático do mundo”.

Segundo a empresa Golkiper, que produz a camisa, “não se trata de alguém em especial, mas de uma imagem que contempla indígenas de modo geral”.

Em um estado onde o clássico Re-Pa é patrimônio cultural imaterial, ao lado do Círio de Nazaré, a mensagem é clara: o futebol, aqui, respira a floresta. E também sufoca junto diante dos índices de desmatamento da Amazônia, que persiste, apesar da diminuição apontada pelos dados mais recentes do Governo Federal.

Durante o campeonato estadual, o Parazão 2025, a federação de futebol local criou ações de sustentabilidade ao longo da competição sob o lema “O clima está mudando. O futebol também.” Segundo relatório da entidade, foram compensadas 1150 toneladas de carbono. Durante a competição, foi criado também o troféu “Craque sustentável”, para o jogador de destaque em cada partida do campeonato, vencido pelo Remo.

E o futebol na COP30?

A Agência Pública apurou que ao menos nos clubes da série A do campeonato brasileiro nenhuma camisa em 2025 fez referência à COP30 ou à conscientização quanto a mudanças climáticas e ambientais. Um estudo conduzido pela consultoria ERM a pedido da ONG Terra FC mostra que 78% dos clubes das Séries A, B e C estão em municípios com alto risco de eventos climáticos extremos nas próximas décadas.

O calor excessivo já altera horários de jogos, afeta o desempenho dos atletas e reduz a presença de torcedores — com reflexos diretos na receita dos clubes. Enchentes e queimadas, por sua vez, já forçaram o adiamento de partidas e causaram prejuízos estruturais. As perdas econômicas podem chegar a R$ 70 bilhões em 25 anos, segundo o relatório.

A Terra FC que usa o esporte como plataforma de mobilização climática pretende entregar um Manifesto do Futebol pelo Planeta durante a conferência do clima, numa campanha que, segundo eles, vem reunindo clubes de todo o país para trocar experiências e adotar práticas sustentáveis: da instalação de painéis solares à gestão de resíduos, passando pela comunicação com torcidas e comunidades.

Mas há um paradoxo que se torna maior quando se olha para o outro lado do campo: o das grandes entidades esportivas.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) terá um painel para apresentar seu novo plano de sustentabilidade na COP30. A FIFA, que costumava marcar presença em edições anteriores, não tinha confirmado participação até a publicação. O Comitê Olímpico Internacional (COI), signatário do quadro “Esportes para Ação Climática” da ONU, informou que irá se “engajar remotamente” e o Comitê Olímpico do Brasil (COB) também não irá, segundo reportagem do Globo Esporte.

Essas mesmas organizações se comprometem a reduzir pela metade suas emissões de carbono até 2030 e a zerá-las até 2040.

Edição:
Arte sobre fotos de divulgação/Agência Pública

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Vale a pena ouvir

EP 48 COP30 além da Blue Zone: a força da sociedade civil

Os destaques da segunda semana da COP, marcada por manifestações populares

0:00

Notas mais recentes

Rápido como o fogo: desinformação vira arma política sobre incêndio na COP30


Único réu absolvido pelo STF, general Theophilo seria peça chave do golpe para acusação


Céu da COP30: Federais detectam mais de 2.300 drones e “tomam o controle” de ao menos 190


Resex Jaci-Paraná: Gigante da carne condenada em R$ 24 mi por usar reserva para criar gado


PL Antifacção avança na Câmara, Lula negocia na COP30 e STF segue julgando golpe do 8/1


Leia de graça, retribua com uma doação

Na Pública, somos livres para investigar e denunciar o que outros não ousam, porque não somos bancados por anunciantes ou acionistas ricos.

É por isso que seu apoio é essencial. Com ele, podemos continuar enfrentando poderosos e defendendo os direitos humanos. Escolha como contribuir e seja parte dessa mudança.

Junte-se agora a essa luta!

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes