Buscar
Nota

Indígenas repudiam “fala preconceituosa” de Gilmar Mendes no julgamento do marco temporal

31 de agosto de 2023
21:50
Este artigo tem mais de 1 ano

Indígenas repudiaram e qualificaram como “preconceituosas” as falas do ministro Gilmar Mendes durante o julgamento sobre o marco temporal no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (31).

Na tenda montada em frente ao tribunal para que acompanhassem a sessão, lideranças fizeram discursos indignados contra afirmações feitas por Mendes em intervenção no voto do ministro André Mendonça. 

Integrante mais antigo do Supremo, Mendes disse ter ouvido de um militar que, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima – assolada por uma grave crise humanitária causada pelo garimpo ilegal –, indígenas “se tornam garimpeiros” por falta de opção de sobrevivência. “E nós criamos um tabu para explorar essas áreas”, disse, em aparente defesa da legalização da mineração em terras indígenas. 

O ministro declarou ainda que, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, também em Roraima, o “imenso território” coexiste com uma “piora das condições de vida”. “A notícia que se tem é que depois do encerramento do arrozal que lá tinha, de 5 mil hectares, muitos desses índios que ali trabalhavam foram catar lixo em Boa Vista”, disse em referência à retirada de produtores rurais após julgamento do STF que reconheceu a demarcação contínua da área em 2009.

Na manifestação em frente ao tribunal após as declarações de Gilmar Mendes, Ernestina Macuxi, do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e moradora de Raposa Serra do Sol, sugeriu que o ministro visitasse o território “para falar a verdade”. “É mentira quando ele fala que nós, indígenas, estamos morrendo de fome, catando lixo no lixão. Estamos trabalhando de modo sustentável na nossa mãe terra, recuperando a nossa mãe terra, que foi poluída e destruída pelos fazendeiros”, destacou. 

Ela foi fortemente aplaudida ao classificar as falas de Mendes como “criminosas, injustas e preconceituosas para com os povos indígenas”.

“Nós esperamos minimamente o respeito da Suprema Corte. Tem que ter postura, cumprir com as normas constitucionais”, pontuou ao microfone Dinamam Tuxá, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). “E falas como essa não têm nada a agregar, a somar. Pelo contrário, só fomentam a destruição, divisão e o ódio contra os povos indígenas”. 

A Apib repudiou publicamente as afirmações do decano, que ainda manifestará sua posição em relação ao marco temporal para terras indígenas. 

O julgamento foi retomado ontem (30) com o voto de André Mendonça, favorável à tese, assim como já havia se posicionado Kassio Nunes Marques. Hoje, Cristiano Zanin e Luís Roberto Barroso se somaram ao relator Edson Fachin e a Alexandre de Moraes, que anteriormente recusaram o conceito jurídico. Portanto, até o momento, o placar é de quatro votos a dois contra o marco temporal.

O debate continuará na semana que vem. Além de Gilmar Mendes, ainda votarão os ministros Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber e Cármen Lúcia. Entre o movimento indígena, há expectativa de que as duas últimas se posicionem contra a tese, o que seria suficiente para que a Corte decida por sua rejeição.

Edição:

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Notas mais recentes

Brasil Paralelo gastou R$ 300 mil em anúncios contra Maria da Penha


Kids pretos, 8/1 e mais: MPM não está investigando crimes militares em tentativas de golpe


Investigação interna da PM do Maranhão sobre falsos taxistas estaria parada desde julho


Semana tem reta final do ano no Congresso, Lula de volta a Brasília e orçamento 2025


Ministra defende regulação das redes após aumento de vídeos na “machosfera” do YouTube


Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes