As revelações trazidas pelas reportagens da série “Todos os amigos de Nunes”, publicadas pela Agência Pública entre abril e julho deste ano, suscitaram representações no Ministério Público Estadual (MPSP). A série mostrou que decisões do prefeito Ricardo Nunes (MDB-SP), candidato à reeleição, beneficiaram pessoas próximas a ele.
A mais recente é do dia 29 de julho, quando o vereador Toninho Vespoli (PSOL-SP) acionou o MPSP para apurar os termos do contrato entre a prefeitura de São Paulo e a Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos (Sobei), que administra 15 creches terceirizadas.
A Pública mostrou, em 29 de julho, que a prefeitura pagou R$ 7 milhões para a Sobei mesmo após ter recebido uma decisão judicial segundo a qual não era obrigada a fazer o pagamento. O acordo se refere à recomposição de perdas de aluguel de imóveis usados pela Sobei. Nove dos dez contratos beneficiados, porém, são de imóveis em nome de um dos fundadores da Sobei, Benjamin Ribeiro, e um sócio dele, Sérgio Janikian.
Nunes conheceu Ribeiro na maçonaria – a loja maçônica que ambos frequentavam funciona no mesmo endereço da Sobei. Ribeiro e Janikian foram doadores de campanhas eleitorais passadas de Nunes. Os contratos com pessoas próximas ao prefeito, que beneficiam a própria Sobei, vão contra as leis municipais.
Na mesma semana em que a reportagem foi publicada, a Polícia Federal (PF) indiciou mais de cem pessoas por desvios na gestão de creches pela prefeitura e disse que continuará investigando Nunes. Pessoas ligadas ao prefeito trabalharam em entidades investigadas e em uma empresa “noteira”, segundo descrição da PF, que fez um repasse para empresa da família do prefeito.
“Ricardo Nunes está, possivelmente, usando a máquina pública para fazer diversos esquemas e favorecer seus aliados, amigos e doadores de campanha”, disse Vespoli. “O MP e demais órgãos de controle precisam agir o quanto antes.”
Em julho, a presidenta do PSOL-SP, Débora Lima, moveu uma representação no MP contra Nunes para investigação de crime de responsabilidade e improbidade administrativa em relação à desapropriação de cinco imóveis na região central da capital paulista, motivada por denúncias apresentadas em reportagem da Pública.
Mesmo com dívida de R$ 10 milhões, a prefeitura vai pagar cerca de R$ 20 milhões pela desapropriação dos cinco imóveis. Um deles é o de Fauzi Nacle Hamuche, sócio-administrador da Axel Empreendimentos Imobiliários e “confrade” do prefeito.
A outra investigação do MP motivada por reportagens da Pública se refere à compra de armadilhas para combater o mosquito da dengue vendidas pela empresa de outro amigo de Nunes. Marco Bertussi e o prefeito são fundadores e dirigentes de uma mesma associação de controle de pragas. A Pública revelou também que as três empresas que participaram da licitação têm ligação com Bertussi.
O MP abriu investigação e anexou as reportagens. O promotor Paulo Destro pediu informações para a prefeitura e convocou oitivas. Bertussi foi chamado duas vezes para prestar depoimento, mas não compareceu. Haverá uma nova tentativa no fim do mês.