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O presidente dos Estados Unidos decretou a construção de um muro, mas não é assim tão fácil. Nesta reportagem, o site mexicano Animal Político explica tudo o que você quer saber sobre as implicações da obra, seus custos e possíveis entraves

Reportagem
16 de fevereiro de 2017
12:06
Este artigo tem mais de 7 ano

Em 25 de janeiro, Donald Trump assinou um decreto presidencial que prevê a construção de um muro de concreto na fronteira entre os Estados Unidos e o México para frear a imigração ilegal ao território norte-americano. Porém, tirar do papel uma obra dessa magnitude não é algo que pode ser feito do dia para a noite.

Existem dúvidas a respeito de como Trump financiaria o muro, já que o Congresso dos EUA tem de aprovar recursos para tanto e o México se nega a pagar – como deseja o presidente. Além disso, uma construção desse tipo implica um grande desafio técnico, que envolve impactos ambientais.

A seguir, levantamos os pontos-chave dessa discussão.

Por que Trump quer construir um muro?

A construção do muro foi prometida pelo presidente americano durante sua campanha eleitoral. Em seus comícios, era comum os simpatizantes gritarem “build the wall!” (“construa o muro”, em português). A intenção de Trump é frear a entrada de imigrantes sem documentação. Para ele, essas pessoas representam um problema em relação à criminalidade e emprego.

Certa vez, o magnata afirmou que o vizinho do sul não envia aos EUA seus melhores cidadãos, e sim criminosos e infratores – declaração que não repercutiu nada bem entre os mexicanos.

Já existe um muro na fronteira entre os dois países?

A fronteira entre México e Estados Unidos se estende por 3.152 quilômetros. E, sim, parte dela já é limitada por muros, cercas e outras barreiras físicas (algumas naturais) que impedem o acesso indiscriminado de pessoas e veículos. De acordo com o jornal USA Today, atualmente 1.049 quilômetros da fronteira contam com esse tipo de construção.

A construção dessas barreiras tem respaldo na “Lei da Cerca de Segurança” (“Secure Fence Act”, em inglês), que, aprovada em 2006 pelo então presidente George W. Bush, agora pode ser usada a favor do muro de Trump.

A maior parte das cercas do Texas, Novo México, Arizona e Califórnia foi levantada antes de Bush deixar o cargo. A construção foi concluída depois que o ex-presidente Barack Obama assumiu o posto, em 2009.

Já existem várias barreiras na fronteira entre México e Estados Unidos (Foto: Guillermo Arias/Animal Político)

Quanto custaria?

A princípio, Trump afirmou que a obra custaria cerca de US$ 8 bilhões, mas logo mudou o discurso, dizendo que os gastos poderiam atingir US$ 10 bilhões.

No entanto, estudo do grupo de pesquisa americano Bernstein estimou que os custos totais estariam entre US$ 15 e US$ 25 bilhões, levando-se em conta despesas com material e pessoal.

Quem pagaria pelo muro?

Durante sua campanha, Trump assegurou que obrigaria o México a arcar com a construção do muro. Posteriormente, no dia 11 de janeiro deste ano, ele disse que iniciaria as obras utilizando recursos públicos dos norte-americanos e que, no futuro, o México faria um reembolso, acrescido de impostos. O governo mexicano teme que ocorram restrições às remessas enviadas por trabalhadores mexicanos nos EUA para suas famílias.

Em 25 de janeiro, Trump insistiu na ideia do reembolso. Declarou que o muro começará a ser levantado em “alguns meses” e que seria benéfico tanto para o México como para os EUA.

Entretanto, não é certo que o Congresso norte-americano, de maioria republicana, vai liberar os recursos necessários à construção do muro. Segundo a congressista democrata Nancy Pelosi, da Califórnia, os próprios republicanos podem se opor ao gasto de US$ 14 bilhões que as obras devem envolver, de acordo com o New York Times.

Quais os obstáculos à construção do muro?

Em seu estudo, o grupo Bernstein frisa que a construção de um muro como o idealizado por Trump enfrentaria problemas relacionados à topografia, já que passaria pelo deserto do Arizona, montanhas íngremes no Novo México e rios. Além disso, seria necessário construir caminhos de acesso a certas áreas.

A região fronteiriça inclui também refúgios protegidos de vida silvestre, territórios indígenas e terrenos que dificilmente seriam vendidos por seus proprietários ao governo dos EUA, o que representaria entraves e custos adicionais.

Quem apoia a construção do muro?

O Pew Research Center revelou este mês que somente 39% dos norte-americanos entendem que a construção do muro é uma meta importante para a política de imigração. Contudo, entre os cidadãos republicanos, 67% afirmam que o muro é relevante. Já entre os democratas, o número cai para apenas 16%.

O muro provocaria danos ambientais?

Carlos de la Parra, especialista do Centro de Estudos Fronteiriços da Fronteira Norte, disse à BBC Mundo que o muro afetaria o fluxo de migração de espécies animais da região, inviabilizando alguns de seus caminhos.

As barreiras podem impactar também as bacias hidrográficas e vias fluviais, provocando até mesmo inundações, indicou uma reportagem da BBC.

A fronteira separa os estados da Califórnia, Arizona, Novo México e Texas de seis estados mexicanos: Baja California, Sonora, Chihuahua, Coahuila, Nuevo León e Tamaulipas.

Gerardo Ceballos, pesquisador do Instituto de Ecologia (IE) da Universidade Autônoma do México, mostra que os muros e cercas que já estão instalados na fronteira afetam a migração e os movimentos de mais de 800 espécies de vertebrados, principalmente mamíferos, répteis e anfíbios. Ele diz que essa situação se agravaria se o muro de Trump saísse do papel.

Qual é a postura do México?

O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, manifestou ser contra a construção do muro. Afirmou que os mexicanos não pagarão pelas obras e que não aceitará que os Estados Unidos confisquem parte das remessas enviadas pelos trabalhadores a suas famílias para financiar o projeto. “Não são negociáveis princípios básicos como nossa soberania, o interesse nacional e a proteção de nossos conterrâneos”, declarou.

Quantos mexicanos vivem clandestinamente nos EUA?

Em 2014, de acordo com o Pew Research Center, havia aproximadamente 5,85 milhões imigrantes ilegais de origem mexicana nos Estados Unidos. No total, à época, havia cerca de 11,1 milhões de pessoas vivendo clandestinamente no país.

O governo mexicano indicou, em novembro de 2016, que apoiaria a população mexicana de imigrantes ilegais para evitar que sofressem abusos diante da ameaça de deportações massivas durante o governo Trump.

Como se deram as mudanças da imigração de mexicanos aos EUA?

Um relatório do Pew Research Center divulgado em novembro de 2015 mostrou que 1 milhão de mexicanos e suas famílias deixaram os Estados Unidos para retornar ao México entre 2009 e 2014. No mesmo período, estima-se que 870 mil mexicanos tenham feito o caminho contrário. Ou seja, o retorno ao país foi superior à migração ao território norte-americano. O estudo revelava que uma das causas dessa mudança era a deterioração do mercado de trabalho nos EUA.

Crédito da imagem destacada: Flickr/Gage Skidmore

Reportagem originalmente publicada no site Animal Político. Leia aqui o texto original em espanhol. Traduzido por Anna Beatriz Anjos.

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