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Pesquisa inovadora mostra que o público americano apoia maiores cortes nos gastos de defesa do que os políticos propõem

Reportagem
11 de maio de 2012
14:02
Este artigo tem mais de 12 ano

Por R. Jeffrey Smith

Enquanto políticos e especialistas americanos estão divididos sobre o orçamento de defesa, há um consenso surpreendente entre o público: cortes muito mais drásticos do que o governo Obama ou os republicanos propõem.

A descoberta foi feita por uma pesquisa inovadora realizada pelo Center for Public Integrity, parceiro da Pública, o Program for Public Consultation e o Stimson Center. Os resultados mostram que não apenas os americanos querem cortes maiores, mas defendem cortes em todas as áreas militares: força aérea, marinha, exército, armas nucleares e mísseis de defesa.

De acordo com a pesquisa, na qual os entrevistados foram informados sobre o tamanho da orçamento de defesa e liam opiniões de especialistas a favor e contra os cortes antes de responder, 2/3 dos republicanos e nove cada dez democratas apoiam cortes imediatos – uma posição discrepante com as lideranças dos dois partidos.

A média total das respostas obtidas foi por um corte total de US$103 bilhões, uma porção substancial do orçamento atual de US$ 562 bilhões. A maioria dos entrevistados apoiou um corte de pelo menos US$83 bilhões. Ou seja, muito mais do que a proposta atual, de um corte de US$55 bilhões no final deste ano, de acordo com a lei aprovada em 2011. Na época, tanto o Pentágono quanto políticos disseram que o corte seria “devastador”.

“Quando os americanos vêem o tamanho dos gastos em defesa, em comparação com os gastos em outras áreas, opinam que a defesa deveria ser substancialmente afetada para reduzir o défcit”, diz Steven Kull, diretor do Program for Public Consultation e coordenador da pesquisa. “Ou seja, é claro que a polarização que se vê no Congresso não reflete a vontade dos americanos”.

Governo mantém orçamento apesar da crise

Cerca de 75% dos homens e 78% das mulheres discordaram da política atual da administração Obama, de manter o orçamento da defesa no mesmo patamar. Os mais jovens, de 29 anos para baixo, foram os maiores apoiadores: 92% querem cortes já.

A maior desavença com a posição do governo foi em relação aos gastos na guerra do Afeganistão: 85% dos entrevistados apoiam a posição de que “já é hora dos afegãos governarem seu próprio país e de nossas tropas voltarem para casa”. A maioria dos entrevistados apoia um corte médio de US$ 38 bilhões no orçamento de US$88 milhões – um corte de 43%.

Há uma discrepância ainda maior de opinião sobre uma proposta feita pelos republicanos na semana passada, de um gasto extra de US$ 3 bilhões em um novo destroyer naval, um novo submarino e mais mísseis de defesa. O candidato republicano à presidência, Mitt Romney, também apoia um aumento de gastos com defesa.

Quando se fala de gastos militares, os entrevistados defenderam um corte orçamentário de pelo menos 27% em armas nucleares — o maior corte de todos. Também apoiam um corte de 23% para o exército, 17% para a aeronáutica e 14% para mísseis de defesa. A maioria também defende a interrupção de grandes programas de armamentos, incluindo o avião de combate F-35 – um novo bombardeiro de longo alcance.

Enquanto os entrevistados filiados ao partido republicano em geral apoiam cortes menores, eles concordam com democratas e independentes que os orçamentos militares são muito altos. Os republicanos rejeitam apenas cortes orçamentários para as forças especiais e para certas áreas do exército.

A pesquisa

A pesquisa, conduzida em abril, foi feita de um jeito diferente de outras realizadas a respeito de gastos públicos no setor de defesa. Geralmente os entrevistados apenas respondem se apoiavam um corte no setor.

O foco dessa pesquisa, ao contrário, era sondar as atitudes do público buscando maior compreensão. Para isso, ela apresentou aos entrevistados informações neutras sobre como os fundos públicos estão sendo gastos e expôs a eles argumentos cuidadosamente elaborados e representativos dos dois lados. Os entrevistados então responderam o que gostariam que fosse gasto em áreas essenciais.

A metodologia da pesquisa e o número de entrevistados – 665 pessoas escolhidas ao acaso para representar a população americana – tornou suas conclusões estatisticamente confiáveis, com uma margem de erro de 5%.

Todos os argumentos prós e contra o corte de gastos em defesa atraíram apoio da maioria dos entrevistados, sugerindo que eles encontraram elementos que consideraram razoáveis nas posições de ambos os lados. Isso também sugere que a pesquisa resumiu de forma justa os pontos de vista contrastantes.

Por exemplo, 61% das pessoas concordaram com a afirmação de que os Estados Unidos tem responsabilidades especiais de defesa, já que é uma nação excepcional, enquanto 72% disse que o país está “representando demais o papel de polícia militar do mundo”. 54% concorda que cortar os gastos em defesa é problemático porque isso causaria diminuição nas ofertas de emprego, enquanto 81% – um dos pontos de maior consenso – concorda com o argumento de que o orçamento do país tem “muito desperdício” e que membros do Congresso aprovam gastos desnecessários apenas para beneficiar seus partidários.

A pesquisa sugeriu, em resumo, que a maioria das pessoas não vê o assunto como preto no branco, mas tem visões complexas sobre o relacionamento apropriado entre os gastos na área de defesa e o papel dos EUA no mundo. “A maioria dos americanos é capaz de considerar duas ideias conflituosas e, diferentemente do Congresso, reconhecer atenciosamente os méritos de ambas,” explica Stephen Kull. “E então [eles] tomam decisões difíceis e até ousadas.”

A pesquisa também mostrou que americanos reagem de forma diferente quando têm acesso a dados sobre o orçamento atual na área de defesa em diferentes contextos – fornecendo alguma visão sobre como partidários de cada lado do debate podem tecer seus argumentos para atrair apoio.

Quando enquadrada, por exemplo, dentro do contexto de gastos militares em outros países, ou dentro da porção do orçamento anual é direcionado à defesa, ou quando comparado com a quantia de dinheiro gasto para defesa durante a Guerra Fria, a maioria dos entrevistados disse que ficaram surpresos com o tamanho do orçamento dos Estados Unidos agora. Mas quando o orçamento foi comparado ao tamanho total da economia dos EUA, ou ao tamanho de dois outros leviatãs do orçamento federal – os gastos no serviço de saúde e segurança social – a maioria disse não estar surpresa.

Gastos muito altos

A descoberta mais consistente é que, para os entrevistados, os gastos militares são altos demais. A seguinte pergunta foi feita duas vezes, e de duas maneiras diferentes: qual deveria ser o orçamento? A maioria apoiou um corte de pelo menos 11 a 13% (e a média apoiou um corte de 18 a 22%).

Uma quantidade maior de pessoas defende cortes no orçamento de defesa (62%) do que cortes em gastos que não são de defesa (50%) ou um aumento de impostos (27%).

“A opinião dos americanos demonstrada por essa pesquisa dão um forte respaldo ao que deve acontecer depois das eleições: os legisladores devem cortar os gastos com defesa ainda mais”, diz Leatherman, analista do Stimson Center.

Não se sabe se a opinião dos americanos vai ter alguma influência sobre o Congresso e a Casa Branca. Como atestam muitos analistas, as políticas nos Estados Unidos costumam ser determinadas não pela opinião média da população, mas por convicções apaixonadas de minorias escandalosas.

Portanto vale notar as posições que, durante a pesquisa, foram amplamente apoiadas:

– Está na hora de deixar os afegãos cuidarem de si mesmos (43%).

– Há muito desperdício no orçamento de defesa (39%).

– Forças especiais são úteis e eficazes (36%).

– Estamos agindo como policiais do mundo todo de maneira demasiada (29%)

– Mísseis de defesa podem nos defender de fato (27%)

– Força aérea é crítica (26%)

– Armas nucleares têm pouca utilidade agora (26%)

– Gastos com defesa enfraquecem outras parcelas da economia (25%)

 

Clique aqui para ler a reportagem original em inglês.

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