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Reportagem

Como é a travessia ilegal de uma criança para os Estados Unidos

O guatemalteco Byron Darío, de 8 anos, ficou mais de um ano separado dos pais e detido em uma prisão no Texas

Reportagem
27 de setembro de 2019
11:27
Este artigo tem mais de 4 ano

O celular de David Xol toca no vilarejo de San Miguel Limón. Ele responde entusiasmado quando vê que o número é dos Estados Unidos. Do outro lado, uma voz rápida e mecânica de mulher pede que ele confirme o nome do seu filho para receber uma chamada. “Ele se chama Byron Darío”, diz David Xol. Em segundos, se escuta um menino falando em q’eqchí, uma língua maia falada na Guatemala.

O tom de voz de David Xol muda. Frágil, nervoso, cumprimenta seu filho, mas logo passa o celular a Florinda, sua esposa. “‘Quero falar com a mamãe’, foi a primeira coisa que ele me disse. Já não gosta de falar comigo”, suspira. Resignado, fica do lado de Florinda e escuta a conversa. Para ele, é uma tortura.

Desde que foi separado de seu filho e deportado dos Estados Unidos, em 28 de maio de 2018, essas ligações de dez minutos uma ou duas vezes por semana são o único contato que David Xol tem com seu filho Byron, de 8 anos. O menino estava, então, havia três meses em um albergue para crianças migrantes separadas de seus pais, em Baytown, no estado do Texas. Byron era uma das 565 crianças que estavam sob custódia do governo americano.

Os meses que se seguiram à separação foram insuportáveis para Byron e para seus pais, que vivem em Alta Verapaz, na Guatemala. Nas primeiras ligações, o menino chorava e implorava que seu pai fosse até ele. Perguntava por que o havia abandonado ali. Mas Byron já não chora: depois de três semanas, a tristeza se converteu em ressentimento pelo pai.

“Meu filho começou a me odiar. Me disse: ‘Por que você me deixou? Por acaso eu não sou seu filho?.’ Eu falei pra ele não dizer isso. ‘Se eu sou seu filho, encontre uma maneira de vir me buscar.’ Agora só quer falar com sua mãe. Ele falou para ela: ‘Meu papai está me tratando muito mal, porque ele me abandonou’. Não era minha intenção deixá-lo lá. A intenção era trabalhar por eles.”

A última vez que pai e filho estiveram juntos foi numa sala grande rodeada de grades, com outras 200 pessoas, em um centro de detenção no Texas. Dois guardas vieram buscar David Xol. Byron chorava, não entendia por que haviam colocado algemas nas mãos e pés de seu pai. Ouviu que seriam separados e entrou em pânico. Começou a gritar. David Xol lembra: “Papai, por que o homem falou que vão nos separar? Não quero que você me deixe. Por favor, se você vai, eu também vou. Quero ir para minha mãe e meus irmãos. Quero que você me leve de volta”, gritou Byron.

“Não, meu filho, não acredite nisso, é mentira. Eu não vou te deixar. Fique tranquilo. Isso é parte da viagem”, mentiu David Xol, acreditando que o governo dos Estados Unidos não chegaria a esse extremo.

“Mas, papai, por que estão te algemando? O que você fez?”

“Nada, filho, nós vamos chegar. Isso é só uma brincadeira.”

Por mais que David Xol tentasse acalmá-lo, Byron não acreditava nele. Com razão. Não era parte da viagem.
Dias antes, em abril de 2018, o governo de Trump ordenou que cada pessoa que cruzasse a fronteira ilegalmente com seus filhos fosse separada deles. “Será uma forte dissuasão”, afirmou o chefe de gabinete da Casa Branca, John Kelly, à rádio NPR em maio.

David Xol chora ao ouvir que seu filho não quer falar com ele do Texas

Em casa, pobreza extrema

O vilarejo de San Miguel Limón se encontra na região da Franja Transversal del Norte, no norte da Guatemala, em um vale de vegetação exuberante e terra fértil, próximo a um rio que desemboca no exuberante rio Chixoy. Lá, a vida passa devagar. Os habitantes se locomovem a pé ou de bicicleta entre os vilarejos. As crianças passam as tardes longas e ensolaradas brincando na água fresca do rio, enquanto suas mães lavam roupas. Parece um cartão-postal idílico.

Mas Alta Verapaz é o estado com maior índice de pobreza na Guatemala, mais de 83%. Até maio de 2018, o Ministério da Saúde havia registrado a morte de 25 crianças menores de 5 anos por desnutrição aguda. Em outras palavras, morreram de fome. A metade deles era de Alta Verapaz.

O vilarejo de San Miguel Limón é um cartão-postal da desigualdade. As casas não têm água potável e, de madrugada, os habitantes recolhem água do mesmo rio onde se banham e lavam roupas à tarde. Lá vivem umas 400 pessoas, segundo o centro de saúde de Chisec, centro urbano que fica a uma hora de ônibus dali. O hospital mais próximo se encontra em Cobán, a capital do estado, a 113 quilômetros de distância.

Florinda não sabe ler nem escrever e David foi alfabetizado graças a seu irmão mais velho. Muitos dos adultos, como Florinda e David Xol, nunca foram à escola.

Ainda que San Miguel Limón abrigue duas grandes empresas – a empresa produtora de óleo de palma Palmas de Ixcán e a empresa petrolífera Rubelsanto –, as oportunidades de trabalho são escassas. Há seis anos, quando a primeira chegou, patrocinou uma grade de metal e um computador para a escola do vilarejo, e duas vezes presenteou os alunos com cadernos, borrachas e lápis.

Há pouco mais de um ano, a Solel Bonel, construtora israelense acusada de subornos pelo primeiro-ministro e pela Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), terminou de construir a estrada que atravessa o meio do vilarejo e que deveria ligar os dois cantos do país, desde a fronteira com o México até o Caribe.

A produtora de óleo de palma e a petrolífera compraram os terrenos onde os moradores mantinham roças para sobreviver. Um deles contou à reportagem que, quando a Palmas de Ixcán começou a funcionar no município, trazia trabalhadores de outras regiões do país, até que o Conselho Comunitário de Desenvolvimento se opôs. Agora, metade do vilarejo continua plantando nas terras que ainda não foram vendidas à empresa, e a outra metade trabalha nas plantações de palma. Mas são condições de exploração: jornadas de trabalho de dez horas, seis dias por semana por valores de R$ 32,27 a R$ 37,65 diários, quando o mínimo legal equivale a R$ 48 – R$ 848 reais mensais, enquanto o salário mínimo é de quase R$1.600.

Até 2010, Palmas del Ixcán era propriedade da Green Earth Fuels LLC, que pertence aos fundos Riverstone Holdings, The Garlyle Group e Goldman Sachs, com investimentos de US$ 14 milhões. Desde 2016 é propriedade de outro consórcio, presidido por José Manuel Aguirre Vielmann, cuja família foi acionista do Banco Reformador, banco guatemalteco vendido em 2013.

Palmas de Ixcán foi uma das 16 empresas processadas pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, em inglês). A agência governamental americana acusou as empresas de violar direitos trabalhistas e, com isso, criar competição desleal no marco do Tratado de Livre Comércio entre os Estados Unidos e a Guatemala.

Em 2017, já com o governo de Donald Trump, o painel arbitral do tratado inocentou as empresas.

Florinda segura uma foto do bebê Byron

“Eu migrei para dar um futuro melhor ao meu filho”

“Aqui não se consegue trabalho com bom salário. Dizem que o estudo é a base do sucesso. Mas, como nós não estudamos, não tivemos como ter esse sucesso. Não temos como começar a trabalhar em uma empresa onde possam nos pagar o salário mínimo. Então temos que trabalhar na agricultura, que é o trabalho que se pode dar a qualquer um”, diz David Xol. Seus pais eram agricultores antes da chegada das empresas, quando o milho e o feijão ainda eram os principais cultivos.

David Xol só tem 27 anos. Nasceu em 1991. Florinda Xol nasceu em 1995. Ambos cresceram em San Miguel Limón, localizada na última zona que permaneceu em guerra civil na Guatemala – a guerra durou até 1996. Byron, seu primeiro filho, nasceu em 2010, quando Florinda tinha 15 anos e David, 19. Eles têm outros dois filhos, de 6 e 3 anos.

Há seis anos, David Xol teve sorte. Com apoio do seu irmão, conseguiu tirar um diploma para dirigir maquinaria pesada e, com isso, encontrou um trabalho em uma plantação de palma no qual lhe pagavam o equivalente a R$ 2 mil por mês, por 60 horas de trabalhos semanais.

O salário lhe possibilitou obter um empréstimo de R$ 24 mil no banco para comprar um pequeno pedaço de terra e ter a própria moradia. A casa de madeira, piso de terra e teto de aço laminado tem uns 4 metros de largura e uns 7 de comprimento. Possui dois espaços: uma sala com uma rede, uma TV, três cadeiras plásticas e uma estante para roupas; e um quarto com duas camas, onde dormem os cinco membros da família.

A prosperidade relativa da família Xol chamou atenção no pequeno vilarejo. Os rumores chegaram até a cidade de Chisec e provocaram uma situação inesperada. David Xol conta que, há três anos, membros de uma quadrilha de Chisec o agrediram por ele ter se negado a pagar uma extorsão e o deixaram ferido em uma estrada. No começo de 2018, os mesmos bandidos entraram em sua casa para roubar.

Pelo empréstimo, David Xol pagava cerca de R$ 1.482 por mês ao banco. Mesmo que a família se mantivesse com o que sobrava, viviam com um orçamento limitado. Em março de 2018, ficou sabendo de um vizinho que havia ido para os Estados Unidos com seu filho de 16 anos. A viagem deu certo e o homem encontrou trabalho. Foi a primeira vez que David Xol teve a ideia de ir para o Norte. Procurou um “coiote”, pessoa que ajuda na travessia ilegal, a troco de dinheiro.

“Às vezes Byron me dizia: ‘Papai, eu não quero sofrer como vocês sofrem’. Ele me via trabalhando desde as 4 da manhã, às vezes até as 10 da noite. E, ainda assim, meus filhos sofriam pouco. Às vezes ficávamos sem dinheiro, então eu tinha que pegar emprestado para que eles não sofressem. Um pai percebe quando a família não está bem. Tem que trabalhar para que os filhos saiam mais à frente, mas ainda assim é difícil.”

“Por isso você migrou? Para buscar algo melhor?”

“Para eles e para nós também. Mas nunca aconteceu. Em vez de sair mais à frente, mais para trás voltamos.”

David Xol cai em prantos. Seu segundo filho, César, o observa; ele também sente falta de seu irmão. Sobe na cama e encosta a cabeça no ombro do pai. “Me desculpem, mas a ausência dele me atormenta”, diz o pai, coberto de lágrimas.

David Xol observa sua família conversar com seu filho Byron

Trancados em caixotes por três dias

O “coiote” explicou a David Xol que havia dois preços. Seria cerca de R$ 50 mil para um adulto, o que incluía três tentativas com transporte desde a Guatemala até a fronteira do México com os Estados Unidos. Ou então ele poderia pagar a metade para um adulto com uma criança, mas seria uma só tentativa, porque a viagem terminaria depois de cruzar o rio Bravo, no Texas, onde pai e filho se entregariam à polícia americana e pediriam refúgio.

Não foi uma decisão fácil. Florinda e David Xol levaram dois meses para decidir.

“Acho que seria bom que ele aprendesse algo, lá ele pode aprender mais que aqui. Se você o levar, cuide bem dele e o coloque para estudar”, disse Florinda Xol ao marido.

Em 5 de maio de 2018, Byron e David Xol embarcaram em uma viagem brutal de 12 dias. A única coisa que levaram foi uma mochila com três mudas de roupa para cada um, cerca de mil reais para qualquer emergência – ou uma provável extorsão de policiais – pelo caminho, um celular, o documento de identidade de David e a certidão de nascimento de Byron.

Trocaram de “coiote” três vezes. A cada troca, as condições da viagem e o tratamento foram ficando mais desumanos. Dormiram várias noites junto de outros 45 migrantes no terceiro andar de uma casa em Villahermosa, México. Dormiram no chão, porque não havia camas. E havia apenas um banheiro. Duas vezes por dia recebiam uma porção de feijão com duas tortillas. Não tinham permissão para sair.

O combinado era que toda a viagem seria feita de ônibus. Mas, ao saírem de Villahermosa, os “coiotes” mudaram de planos.

Para o último trecho, enfiaram-nos em um furgão, deram uma maçã para cada um e os trancaram em caixas de madeira. Eram quatro pessoas em cada caixa, onde havia recipientes com tampa para urinarem. Antes disso, os coiotes confiscaram os celulares de todos, para que os sinais não pudessem ser rastreados, e deram comprimidos para que não defecassem. David Xol comprou bolachas para Byron, mesmo que os coiotes os tivessem proibido de comprar qualquer coisa além de água. “Eu levava guloseimas para o pequeno, dei minha maçã para ele. Eu, sim, aguentei a fome durante os três dias de viagem. Mas morreram duas pessoas, que não aguentaram. Só ouvimos os gritos das outras caixas quando se deram conta de que uma senhora já não respondia.”

Os coiotes não tiraram o corpo do furgão e tiveram que mudar um rapaz para a caixa onde estavam Byron e David Xol, porque ele não aguentava mais o cheiro do cadáver. Os familiares dessa senhora jamais saberão o que aconteceu com ela. Quando o furgão chegou a Reynosa, Tamaulipas, no México, os “coiotes” tiraram todas as caixas, menos a da senhora morta.

David Xol e seu filho cruzaram o rio Bravo, na fronteira do México com os EUA, em um bote à 1 da madrugada. Duas horas depois, foram detidos pela polícia fronteiriça americana e levados ao centro de detenção.

A casa dos Xol

A volta à Guatemala e a culpa que mata

Três semanas depois de ter saído rumo aos Estados Unidos, David Xol se viu outra vez na frente da sua casa. O sol estava quente como sempre, ouvia-se o mesmo barulho dos caminhões que transportam os frutos das palmas. E os sorrisos dos filhos Alan e César o receberam como sempre. Mas tudo era diferente. Florinda o viu através da porta aberta e começou a chorar. Não sabia que o marido estava a caminho de volta nem que o haviam separado de Byron.

David não sabia como contar.

“O que aconteceu? E o pequeno, onde está?”, perguntou Florinda.

“Ficou lá”, respondeu David Xol, tomado pela culpa.

Florinda começou a gritar. Alto. David ficou calado.

Ele carrega os gritos da esposa e o choro de Byron na consciência. Assim como a reprimenda do juiz do Texas, que ignorou as súplicas de David para que não o deportasse sem seu filho e acusou-o – com outros 60 migrantes – de usar o filho como “isca para chegar aos Estados Unidos”. E as broncas do pai e do irmão.
“Por que você fugiu? Se a pobreza não mata”, disse seu irmão – ainda que, sim, a pobreza mate de fome e de doenças.

A culpa está matando David Xol.

“Quando voltei para cá, pensei em me suicidar. Pelas dívidas. Pela falta do meu filho. E esses dias não tenho me sentido nada bem. O pessoal do banco veio me cobrar e eu não tenho dinheiro. Não é que eu não seja homem, mas estou ficando sem nada.”

“Nada é o mesmo aqui em casa sem ele”, diz David Xol enquanto olha para o canto do quarto

Nenhum apoio do seu governo

David Xol não recebeu nenhum apoio das autoridades guatemaltecas. Nem quando crescia nem antes de partir como migrante sem documentos. Nem quando esteve no centro de detenção no Texas. Nem desde que foi deportado.

O vice-ministro das Relações Exteriores, Pablo García, assegura que os consulados guatemaltecas nos Estados Unidos estão seguindo constantemente cada caso de menor que foi separado de sua família e que realizam visitas diárias a todos os albergues. No entanto, o ministério não se mexe para ajudar os familiares que foram deportados sem seus filhos.

Mas não parece ser esse o caso de Byron e David Xol.

O consulado da Guatemala em Houston, maior cidade do Texas, nem sequer responde às ligações telefônicas em horário de expediente, como comprovou o Texas Tribune, veículo texano aliado do site Nómada nesta investigação.

Nos Estados Unidos, Brian Marriott, o porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, entidade do governo que coordena os albergues que abrigam as crianças migrantes, disse ao Tribune que “sempre focam na segurança e interesse de cada criança” e que o governo “está trabalhando rapidamente para reunir essas crianças com seus pais”. Mas não oferece nenhuma explicação para o caso de Byron, que, à época da investigação, estava havia três meses separado de sua família.

Até agosto de 2018, 565 crianças migrantes continuavam separadas de seus pais, apesar de uma ordem judicial que obrigava o governo a reunir cada criança com suas famílias antes de 26 de julho de 2018.

Os pais de 366 crianças migrantes já tinham sido deportados aos seus países de origem.

David Xol vive em um limbo de abandono no próprio país e muito longe dos Estados Unidos. Não sabe que pode pedir apoio gratuito do Ministério das Relações Exteriores. Tampouco saberia onde e como pedir esse apoio. E não poderia perder os dias de trabalho para ir à capital procurar ajuda.

O testemunho da família Xol refuta a versão do governo dos Estados Unidos, que responsabilizou os migrantes pela separação de seus filhos porque eles supostamente teriam escolhido deixar seus filhos em solo estadunidense. Não foi o que aconteceu.

Byron, em uma foto do celular

O menino Byron no albergue

Byron, de 8 anos, ri ao telefone quando fala com seu irmão César, de 6. Byron diz que o tratam bem no albergue e que gosta da comida da cafeteria. Tem um amigo que se chama Anderson, um menino de Honduras.

“Te disseram quando você vai poder voltar pra Guatemala?”, perguntou a jornalista por telefone.

“Rápido. A moça falou pra gente que não muito tempo. Com meu papai.”

Byron completou 8 anos, confinado no albergue no Texas, em 24 de junho de 2018. A alegria de contar que ficou um ano mais velho se interrompe com uma segunda pergunta.

“Então já vai para os 9 anos. E como você comemorou seu aniversário aí?”

“Não, aqui não tive aniversário. Tchau, minha hora já acabou. Bye.”

O isolamento de Byron durou mais de um ano – precisamente, um ano e três meses – até que a Justiça americana decidisse enviá-lo de volta a seus pais.

Em 4 de setembro de 2019, o juiz Dana Sabraw pronunciou a decisão sobre o caso de David Xol e outros 17 migrantes em uma demanda coletiva levada por um grupo de ONGs e advogados. Trata-se de mães e pais centro-americanos separados de seus filhos durante a política de Tolerância Zero de 2018. Todos foram deportados para seus países sem os filhos.

O juiz Sabraw determinou que 11 das deportações foram ilegais, entre elas a de David Xol. No seu caso, foi demonstrado que ele foi coagido por oficiais a assinar um documento em que “voluntariamente” abria mão de seu direito de solicitar refúgio:

“A declaração mostra que [David Xol] não abriu mão de forma voluntária de seu direito. Especificamente depois que o primeiro agente não conseguiu convencê-lo a assinar o documento, outro agente foi chamado à sala de entrevista. O segundo agente ameaçou que, se ele insistisse em pedir refúgio, eles teriam que separá-lo de seu filho, que a separação poderia durar ‘pelo menos dois anos’. E que seu filho seria colocado para adoção”, diz a resolução do juiz Sabraw.

Agora, David Xol poderá voltar de forma legal aos Estados Unidos para se reunir com seu filho, que agora tem 10 anos. Poderá, além disso, dar início ao pedido de refúgio.

Os sites Nómada e Texas Tribune investigaram a história na fronteira entre México e Estados Unidos e no remoto vilarejo de Chisec, em Alta Verapaz, a 300 quilômetros da Cidade da Guatemala. Para a versão em espanhol, aqui. Para a versão em inglês, aqui. Tradução de Barbara D’Osualdo.

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