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Citado em relatório enviado à CPMI do 8 de janeiro, Luis dos Reis é ainda investigado na fraude do cartão de vacina

Reportagem
28 de julho de 2023
01:24

O segundo-sargento Luis Marcos dos Reis, preso em maio deste ano na operação da Polícia Federal (PF) sobre a suspeita de fraude no cartão de vacina de Jair Bolsonaro, depositou mais de R$ 70 mil na conta do braço-direito do ex-presidente, o tenente-coronel Mauro Cid, no período de julho de 2022 a janeiro de 2023. A informação consta no relatório do Conselho de Controle e Atividades Financeiras (Coaf) ao qual a Agência Pública teve acesso. 

As transações entre Cid e Dos Reis foram apontadas pelo órgão como suspeitas: “Considerando a movimentação atípica sem justificativa e as citações desabonadoras na mídia tanto do analisado como do principal beneficiário, comunicamos pela possibilidade de constituir em vício do crime de lavagem de dinheiro ou com ela relacionar-se”.

Os dados foram enviados à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, que retomará os trabalhos na volta do recesso parlamentar, na semana que vem. Segundo o Coaf, Mauro Cid movimentou em seis meses – de 26 de julho de 2022 a 25 de janeiro de 2023 – o montante de R$ 3,2 milhões. A informação foi revelada pelo jornal O Globo

As transações bancárias do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que recebe salário de R$ 26.239, foram consideradas “atípicas e incompatíveis” pelo órgão que identificou ainda que Cid enviou mais de R$ 367 mil para os EUA em 12 de janeiro de 2023, quando ele se encontrava no país com Jair Bolsonaro. 

“Considerando a movimentação elevada, o que poderia indicar tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio, e demais atipicidades apontadas, comunicamos pela possibilidade de constituir-se em indícios do crime de lavagem de dinheiro, ou com ele relacionar-se”, destacou o Coaf em seu relatório que revela ainda que Mauro Cid teria autorização para fazer movimentações financeiras em nome do ex-presidente. 

Ainda de acordo com o Coaf, entre janeiro e maio deste ano, Mauro Cid teria depositado R$11.740,00 na conta de Dos Reis. Segundo os dados obtidos pela reportagem, o militar teria movimentado como “remetente e beneficiário” mais de R$ 151 mil no período analisado pelo órgão — o segundo-sargento recebe mensalmente R$ 13.346,79.

Cid e Dos Reis trabalharam juntos desde o início do mandato de Jair Bolsonaro, até agosto de 2022, quando Dos Reis foi transferido para o Ministério do Turismo. Em 3 de maio eles foram presos na Operação Verine, da PF, que investiga a atuação de associação criminosa suspeita de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.

Além de estarem envolvidos no escândalo do cartão de vacinas, os militares também teriam discutido um plano de golpe, conforme mensagens encontradas pela PF no celular de Mauro Cid – que enviou para Luis Marcos dos Reis, o que seria uma minuta para a decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem). A apreensão do celular de Mauro Cid pela PF também trouxe à tona a participação do sargento nos atos golpistas, conforme revelado pelo UOL

Em suas redes sociais, Dos Reis fez ataques a Alexandre de Moraes, do STF, defendendo seu impeachment, e estimulou o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19. Em currículo publicado no site do governo federal após assumir o cargo no Ministério do Turismo, ele incluiu que sua principal atividade no órgão era ser o “Responsável pelo atendimento das demandas Pessoais do Sr. Presidente da República”.

Dos Reis também é investigado por sacar dinheiro vivo e pagar contas da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. De acordo com investigação da PF, ele recebia recursos da Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais para Construção, que tem contratos com o governo federal. 

Relatório do Coaf sobre as contas da Cedro, também enviados à CPMI ao qual a Pública teve acesso, indicam “aparente incompatibilidade entre o porte/estrutura, vis à vis, o volume transacionado a crédito analisado”. O que, de acordo com o órgão “supostamente pode demonstrar que cliente esteja utilizando a conta para transacionar recursos provenientes de atividades não declaradas”. Além disso, foram identificados na análise da movimentação financeira o envio de R$ 8.330,00 via transferências interbancárias ao sargento dos Reis.  

De acordo com análise do Coaf, a Cedro movimentou R$ 33.272.706,00 no período de 1 de janeiro de 2020 a 30 do 4 de 2023, sendo que R$ 16.609.427 foram em débitos e R$: 16.663.279,00 em créditos – valor apontado como incompatível. 

A Pública tentou contato com Mauro Cid e Luis Marcos dos Reis mas não obteve retorno até a publicação. Também não conseguimos contato com o ex-secretário de Comunicação Social Fabio Wajngarten e com representantes da Cedro. O espaço segue aberto para manifestação de todos os citados. 

*Colaborou Bianca Muniz

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