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Eduardo Bolsonaro é um projeto de Steve Bannon

Filho de Jair Bolsonaro tornou-se peça fundamental em conspiração internacional com ex-estrategista de Trump

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25 de agosto de 2025
17:00

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As mensagens obtidas no celular de Jair Bolsonaro e publicadas na semana passada como parte do relatório da Polícia Federal (PF) evidenciaram que o único objetivo de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos é pressionar a Justiça brasileira e arrumar maneiras de livrar o pai da cadeia. O 03 tornou-se a peça fundamental na conspiração internacional para derrotar a consolidação do entendimento – bem sedimentado por aqui – de que o pai tentou dar um golpe de Estado usando desinformação como arma e os militares como braço forte. 

Talvez a revelação mais contundente seja o fato de que Bolsonaro tratava diretamente com o advogado da plataforma Rumble e da Trump Media, Martin de Luca, enviando documentos e trocando informações a serem citadas no caso aberto pelas duas empresas contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes, na Flórida.  

Por ser advogado da Trump Media, Martin funcionava como um dos elos entre Bolsonaro e Donald Trump, quando este queria chamar a atenção do presidente americano, segundo demonstram as mensagens. Me orienta uma nota pequena da tua parte, que eu possa fazer aqui, botar nas minhas mídias, pra chegar a vocês de volta aí”, escreveu Jair. Trata-se da lógica circular das redes: Jair queria produzir conteúdo agradecendo o post de Trump citando-o, que depois poderia ser usado em conteúdo americano – nas redes, nos tribunais, quem sabe um RT do presidente dos Estados Unidos?

Quem acompanha a trajetória de Eduardo Bolsonaro sabe que ele não era grande coisa como político antes de se aventurar no seio da extrema-direita americana. Escrivão da PF, resistiu a entrar para a política e seguir os passos do pai e foi um deputado federal medíocre: em 10 anos, aprovou apenas 2 projetos de lei. Nas eternas disputas entre os filhos para ver quem vai herdar o legado político, tinha pouca chance. Seu irmão Flávio, por exemplo, já havia sido “testado” como candidato à prefeitura do Rio em 2016.  

Até o ano de 2018, quando conheceu Steve Bannon. Na época, Bannon estava tentando extrapolar a fama que ganhara de “ideólogo” da direita populista e se tornar um líder real de um movimento internacional de lideranças, que chegou a chamar de The Movement. No ano seguinte, Eduardo foi escolhido por ele para ser seu representante no Brasil. Virou seu padrinho político. 

O The Movement esfriou, assim como esfriou a influência de Steve Bannon sobre Trump – ele foi escanteado no primeiro governo, o republicano afastou-se dele. Bannon seguiu, com seus canais e sua turma própria, representando um dos muitos grupos que disputam a pequena capacidade de atenção do republicano. Mas foi a partir desta relação que Eduardo foi introduzido a outros grupos da direita norte-americana, como Mercedes e Matt Schlapp, criadores do CPAC – Conservative Political Action Conference – que Eduardo trouxe para o Brasil. 

Esta nova aliança lhe posicionou como liderança na direita do continente, figurinha carimbada em todos os CPACs e interlocutor de outros líderes ascendentes como Javier Milei, que ele conheceu através do argentino Fernando Cerimedo, conforme revelamos na Agência Pública (e para quem Jair Bolsonaro pretendia pedir asilo contra a prisão, conforme a PF descobriu). 

Em janeiro deste ano, Steve Bannon lançou a candidatura de Eduardo Bolsonaro durante a festa paralela realizada por Bannon durante a posse de Donald Trump. Bannon disse que o 03 seria presidente do Brasil “em um futuro não tão distante”. Eduardo disse que poderia ser o candidato se o pai quiser. 

Para Bannon, seria o coroamento de um plano que ele chocou há mais de cinco anos, o de ter influência direta sobre o presidente do Brasil. Sua interlocução com Eduardo certamente já teve influência durante o processo de elaboração da teoria da fraude eleitoral, que seria a base teórica da tentativa do golpe de Estado. Durante as eleições de 2022, Bannon admitiu que estava em contato direto com a equipe de Bolsonaro. Foi ele ainda que insistiu no seu programa, logo depois do anúncio da derrota eleitoral pelo TSE, que Bolsonaro não deveria conceder a derrota. E, no dia 1 de novembro, sentado em seu programa War Room ao lado de Paulo Figueiredo, chamou os movimentos golpistas que bloqueavam estradas de “primavera brasileira”. 

Em 10 de novembro, logo após a vitória de Luíz Inácio Lula da Silva, Eduardo Bolsonaro viajou para os Estados Unidos onde se encontrou com Donald Trump no seu resort em Mar-a-Lago, na Flórida. Depois, ele foi para o sul da Flórida, onde almoçou com Jason Miller, CEO da rede social Gettr e que esteve duas vezes no Brasil apenas esse ano em eventos de apoio à reeleição de Bolsonaro. Além disso, ele conversou por telefone com Steve Bannon, como admitiu ao jornal Washington Post.

Portanto, a ida de Bolsonaro aos EUA, durante o período em que se cozinhava o golpe aqui no Brasil, em dezembro de 2022, também deve ser vista como um movimento que teve influência de Bannon. 

Os diálogos expostos pela PF no seu relatório mostram que Eduardo está no jogo de tentar manter a atenção que foi dada ao caso do pai pelo presidente americano. Segundo Eduardo, “mesmo dentro da Casa Branca tem gente falando para o 01: ‘ok, Brasil já foi. Vamos para a próxima’”. 01 é como ele se refere a Trump. 

A aliança de Bannon com Eduardo passa pela relação deste grupo com Paulo Figueiredo, e fica ainda mais clara diante da revelação feita pela Agência Pública e pela revista americana Mother Jones, de que até mesmo Paulo Figueiredo foi beneficiário do magnata chinês Guo Wengui, que foi durante anos o grande mecenas de Steve Bannon. Guo, um anticomunista ferrenho, foi condenado por nove crimes, entre eles lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo a Justiça americana, uma empresa de Guo teria pago cerca de 770 mil reais para Figueiredo por seu trabalho na rede social Gettr, fundada por Jason Miller, que também foi coordenador de campanha de Trump. Jason Miller é bem próximo aos Bolsonaro: através da Gettr, financiou eventos do instituto de Eduardo Bolsonaro e esteve no Brasil em algumas ocasiões, inclusive a manifestação pré-golpista do 7 de setembro de 2022 organizada por Bolsonaro.   

A chave para entender a ação de Eduardo nos EUA passa por esse apadrinhamento de Bannon. Como em todo governo, a influência do grupo varia de acordo com o momento. Logo no início da atual gestão, Bannon foi escanteado e perdeu enorme espaço para Elon Musk, passando a ser uma das vozes mais ácidas nas críticas aos “broligarchs” – os oligarcas das Big Tech como Elon Musk, Mark Zuckerberg e Peter Thiel – dentro do campo trumpista. Mesmo assim, Bannon deixou claro, em entrevista ao New York Times na época, que aceitaria as decisões tomadas por Trump com o rabinho entre as pernas. 

Agora, com o empenho de Trump, do Secretário de Estado Marco Rubio e do seu vice-secretário, Christopher Landau, em pressionar o STF e a soberania brasileira ao defender Jair Bolsonaro, Bannon encontra seu melhor momento neste segundo governo trumpista. É por isso que ele e seu grupo vão seguir apoiando Eduardo nos EUA e buscando ações cada vez mais estrambóticas e nada ortodoxas, bem a la Steve Bannon: a “luta” por Jair Bolsonaro dá um palanque a Bannon dentro do governo. 

O sucesso de Eduardo é o seu sucesso.  

Assim, é uma tremenda vitória de Bannon que Trump tenha afirmado, segundo foi noticiado pelo jornalista Paulo Capelli, que acreditaria ser possível derrotar Lula já no primeiro turno das eleições brasileiras de 2026, e que seu candidato favorito seria Eduardo Bolsonaro “devido à sua proximidade com agentes do governo dos Estados Unidos e alinhamento ideológico”. 

Se isso perdurar, Bannon estaria um passo mais próximo do coração de Trump. 

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