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Allan dos Santos agiu para ex-assessor de Moraes falar no Senado durante julgamento no STF

Blogueiro foragido tem prestado apoio a Eduardo Tagliaferro há meses e tem plano de levá-lo aos EUA

Reportagem
3 de setembro de 2025
14:00
Brasília - O coordenador do movimento Resistência Popular, Allan dos Santos, em acampamento no Parque da Cidade que defendem o afastamento da presidenta Dilma Rousseff (Elza Fiuza/Agência Brasil)
Elza Fiuza/Agência Brasil

Enquanto ocorria o primeiro dia de julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete políticos e militares por envolvimento na tentativa de Golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF), o Senado ouviu o depoimento de Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em audiência pública na Comissão de Segurança Pública. A Agência Pública apurou que o blogueiro foragido Allan dos Santos, atualmente nos Estados Unidos, esteve por trás da convocação de Tagliaferro pelos senadores.

A Pública mostrou que a estratégia dos senadores, capitaneada pelo filho de Jair, Flávio Bolsonaro – que é o presidente da Comissão de Segurança -, era questionar o julgamento do STF e ajudar a criar conteúdos para engajar nas redes sociais durante a semana. Enquanto o ministro Alexandre de Moraes reforçava que suas ações contra os réus seguiram o devido processo legal e eram respaldadas de provas, de outro, o ex-assessor alegava através de conversas vazadas de seu celular que o ministro teria forjado relatórios para justificar operações e prisões de aliados do ex-presidente.

A ação também utilizou o relatório da organização dos EUA Civilization Works, criada pelo jornalista Michael Shellenberger, que já falou com os mesmos senadores em agosto deste ano e defendeu a anistia a bolsonaristas. “Todos os casos de 8 de janeiro não têm legitimidade e são nulos. E têm que ser nulos, e tem que ser anistia”, disse aos políticos.

O depoimento de Tagliaferro foi transmitido quase na íntegra pelo canal do qual Allan dos Santos faz parte, o Revista TimeLine. “Fui em quem colocou o Eduardo Tagliaferro em contato com o Senado”, disse, durante a live. Durante a conversa, Tagliaferro expôs o número de telefone do telefone do procurador-geral da República, Paulo Gonet.

Desde o final de julho, quando foi anunciada a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, Tagliaferro tem feito aparições no canal de Santos. Em uma delas, o ex-assessor revelou que revelaria mais informações sigilosas do gabinete de Moraes no TSE. A ameaça fez com que a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentasse denúncia contra o ex-servidor.

Tagliaferro também responde por violação de sigilo funcional com dano à administração pública. Nesta terça-feira, 2 de setembro, ele teve seu canal de YouTube banido, o que ele atribuiu às investigações de Moraes.

Os eventos dividiram a atenção e a opinião de bolsonaristas. “Não sei de quem foi a brilhante ideia de convocar o Tagliaferro hoje para um depoimento bombástico em meio ao julgamento mais importante do país. Nem sei porque o próprio resolveu fazer essas revelações hoje. Tem gente que até tem boa intenção, mas carece de estratégia”, criticou o jornalista Paulo Figueiredo, que tem atuado ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA por sanções contra Moraes.

Tagliaferro e Santos mantêm contato há mais de um ano, atuando nos bastidores para o vazamento das conversas. “O Allan sabe que essas denúncias estão sendo planejadas há muito tempo”, afirmou Tagliaferro em live no dia 12 de agosto.

A reportagem pediu esclarecimentos a Allan do Santos através do email da Revista TimeLine. Não foi possível localizar informação de contato do ex-assessor Eduardo Tagliaferro. O espaço permanece aberto para manifestações.

Allan dos Santos está ajudando Tagliaferro em plano para ir aos EUA

Durante as lives, Allan dos Santos também afirmou que tem prestado apoio a Tagliaferro em plano para ir para os Estados Unidos. “Se Deus quiser o Tagliaferro estará em breve aqui nos Estados Unidos conosco”, disse no dia 30 de julho. “Sim, estamos trabalhando para isso”, respondeu o ex-assessor.

Lá, Tagliaferro poderia atuar junto a outros bolsonaristas para sancionar ministros e autoridades brasileiras. Durante depoimento ao Senado, o ex-assessor revelou que compartilhou os vazamentos de conversas com integrantes do gabinete do TSE com o governo dos EUA. “Todo o material que eu apresentei aqui a essa comissão já foi entregue a autoridades americanas para que elas tomem providências contra Alexandre de Moraes e a PGR”, disse.

Atualmente, o ex-assessor encontra-se na Itália, onde também atua para sanções contra autoridades brasileiras. “Eu tô atuando aqui no parlamento italiano, no parlamento europeu. Eu tenho alguns encontros e algumas reuniões no qual nós estamos apresentando aqui todas as denúncias, com todo o material, inclusive o material do Daniel Silveira, porque aquilo é um absurdo. Fazendo essas denúncias no parlamento italiano e europeu para que a Europa também aplique sanções a Alexandre de Moraes. Se tiver que ir no Tribunal Internacional nós também vamos. Em todos os lugares possíveis de fazer uma denúncia eu vou lá”, disse em entrevista ao canal da ex-juíza Ludmila Lins Grilo, afastada por uso indevido nas redes sociais e investigada pelo TSE por divulgação de desinformação sobre as eleições de 2022.

A informação foi reiterada à Revista TimeLine no dia 12 de agosto. “Eu tenho na primeira semana de setembro um encontro com um senador, com a Meloni, tenho também um encontro com um deputado de Portugal, um eurodeputado que a gente vai fazer uma movimentação dentro do Europarlamento”, afirmou Tagliaferro, que já teve pedido de extradição enviado pelo Ministério das Relações Exteriores.

Após seu depoimento ao Senado, o ex-assessor também ganhou o apoio dos senadores Eduardo Girão (NOVO-CE) e Magno Malta (PL-ES), que planejam ida à Itália para auxiliar na defesa de Tagliaferro e da deputada Carla Zambelli, que também enfrenta processo de extradição no país.

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