Nesta sexta-feira, indígenas Munduruku ocuparam durante sete horas o prédio da Funai na cidade de Itaituba, no oeste do Pará, impedindo a saída de funcionários, para exigir a demarcação da terra Sawré Muybu. A área é de ocupação centenária e já foi indicada para demarcação por técnicos da Funai, mas o processo está parado em Brasília. O relatório que identifica e reconhece a área como território tradicional está pronto há mais de um ano, mas nunca foi publicado pelo órgão federal.
Na área existem três aldeias que serão alagadas pela usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, cujos estudos de impacto ambiental estão em análise. Como a Constituição veda a remoção de indígenas, a demarcação da área inviabiliza a construção da usina. Os Munduruku pedem a publicação do Relatório Circunstanciado que identifica e recomenda a imediata demarcação da área.
Na ausência de manifestação da Funai, em outubro os Munduruku decidiram iniciar a demarcação de seu território por conta própria. Quatro quilômetros já foram abertos na mata. A ocupação do prédio da Funai foi feita depois que os indígenas acharam mais de 300 garimpeiros explorando as fronteiras de seu território em um local considerado sagrado para eles. Os garimpeiros disseram que só vão sair depois que a área for demarcada.
“Queremos que Brasília demarque logo nossa terra porque nós sabemos cuidar dela muito melhor que o Ibama ou ICMBio”, disse o cacique Juarez Saw Munduruku, ao que foi saudado por cerca de 40 indígenas com os gritos de “Sawe” – o que, na tradição Munduruku, é o equivalente a aplausos.
Flávio Azevedo, presidente interino da Funai, tarquia, sugeriu que os Munduruku fossem a Brasília para fazer uma reunião e conhecê-lo, já que ele ocupa o cargo há pouco mais de um mês.
“Não adianta nada, a gente já foi lá várias vezes. Se for para ouvir a mesma conversa que depende do ICMBio e de outros, a gente não vai”, disse o cacique Juarez Saw Munduruku, da aldeia Sawré Muybu. Juarez já foi para Brasília e fez reuniões com a ex-presidente interina da Funai Maria Augusta Assirati, que havia prometido aos Munduruku publicar o relatório. Mas ela deixou a presidência em setembro desse ano sem cumprir a promessa.
Sem um indicativo de que o governo daria uma resposta, os Munduruku decidiram no fim da tarde deixar o prédio ocupado para voltar à autodemarcação.
Mas eles temem que essa atividade gere a retaliação dos garimpeiros e madeireiros que já invadiram as fronteiras de seu território. “Se nós entrarmos em conflito com os invasores, o governo vai ter que se responsabilizar”, disse Maria Leusa Cosme Kaba, representante das mulheres do movimento Munduruku Iperêg Ayû.
A Agência Pública está no Tapajós acompanhando a disputa por uma das últimas fronteiras hidrelétricas da Amazônia. Em breve, mais uma reportagem investigativa. Aguardem!