Em março de 2016, a Agência Pública lançou o Mapa do Jornalismo Independente. Mapeamos mais de 80 iniciativas de jornalismo nascidas na rede Brasil afora. Perguntamos como essas organizações se financiam, quando foram fundadas e o que elas cobrem. Nesta quinta-feira (20), a SembraMedia, organização parceira que se dedica a apoiar empreendedores de mídia, lançou um relatório ainda mais amplo. Chamado “Ponto de Inflexão”, ele avalia o impacto gerado por organizações de jornalismo digital em quatro países da América Latina.
O estudo leva em consideração informações de 100 organizações: 25 do México, 25 da Colômbia, 25 da Argentina e 25 do Brasil (incluindo a Pública) e se aprofunda em questões como financiamento, impacto, vulnerabilidade, audiência e formação de equipes. Também é possível encontrar recomendações de como fortalecer uma organização de digital jornalismo.
Uma das grandes descobertas é que os jornalistas empreendedores não estão somente produzindo notícias, mas são agentes de mudanças: promovem melhoria das leis, defendem direitos humanos, expõem a corrupção e lutam contra o abuso de poder. Produzem jornalismo independente em países altamente polarizados do ponto de vista político.
O bom trabalho não vem sem retaliações; quase metade das organizações entrevistadas para o relatório reportaram ter sofrido ameaças ou ataques físicos por conta de seu trabalho. Mais de 20% admitiram ter evitado cobrir certos assuntos, pessoas e instituições por conta de intimidação. Outros enfrentam processos na justiça, ciber-ataques, auditorias intermináveis, perda de receitas publicitárias. No México, o jornalista Luis Cardona foi sequestrado por homens armados e ameaçado de morte por investigar os desaparecimentos de 15 jovens trabalhadores do tráfico de drogas. Cardona contou a história nesta animação.
É crescente o número de meios nativos da América Latina que desenvolveu negócios sustentáveis através do jornalismo partido do zero: mais de 70% começaram com menos de 10 mil dólares.
Verba publicitária ainda é chave
Para produzir o relatório, a SembraMedia separou as 100 organizações em quatro níveis. No nível mais alto estão organizações que têm mais de 20 milhões de acessos por mês e cuja principal fonte de receita é a publicidade. Já as organizações de nível intermediário contam com fontes de receita variadas, como consultoria, eventos, crowdfunding e publicidade.
A SembraMedia aponta mais de 15 formas de geração de receita – vale ler para ter ideias! Das organizações analisadas, mais de 65% informaram ter pelo menos três fontes de financiamento.
Segundo o relatório, os meios digitais independentes da América Latina estão cobrindo comunidades desatendidas, produzindo conteúdo original e escrevendo histórias sobre assuntos que antes eram tabus. “Desde o início, vimos o espaço onde se poderia publicar coisas que seriam difíceis de publicar na mídia tradicional dominante como nosso principal valor… Não estamos lutando por furos. Estamos interessados em aprofundar, mesmo que isso signifique que saímos depois dos outros. Um de nossos lemas é: ‘Não contamos primeiro, contamos melhor’”, diz Daniela Pastrana, diretora do Pie de Pagina, uma das organizações analisadas no México.
Para ter impacto, muitos dos meios independentes – assim como a Pública – trabalham para ter suas reportagens republicadas em veículos grandes ou internacionais. Essa prática, além de trazer credibilidade, provoca a pressão externa sobre governos. Dos sites pesquisados, 72% disseram que seu trabalho jornalístico original influenciou a cobertura de veículos de comunicação nacionais em seus países.
Outra descoberta do relatório é que 62% dos sites estudados tiveram mulheres envolvidas em sua criação. O número contrasta com a direção na imprensa tradicional no continente, ainda composta majoritariamente por homens. Dos 100, 57 contam com mulheres na direção.
Além dos números, a SembraMedia reúne histórias de diversos sites de jornalismo independente da América Latina. O relatório completo está disponível aqui.