“O Brasil gasta anualmente um Plano Marshall (que reconstruiu a Europa após a Segunda Guerra Mundial) com o pagamento de juros.” – Jair Bolsonaro (PSL), em seu plano de governo “O Caminho da Prosperidade”, registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No trecho de seu programa de governo em que discute a redução de despesas com juros, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que o Brasil gasta com juros o equivalente às despesas que o governo dos Estados Unidos teve com o Plano Marshall. O candidato faz referência a um programa de auxílio empreendido pelo governo norte-americano que repassou bilhões de dólares, entre 1948 e 1952, para ajudar 16 países europeus a se recuperarem da Segunda Guerra Mundial. O Truco – projeto de checagem de fatos da Agência Pública, que analisa o que dizem os candidatos a presidente e a governador em sete estados – descobriu que a relação está correta.
O Brasil gastou, em 2017, R$ 400,8 bilhões com juros. Já o custo do Plano Marshall, em valores corrigidos pela inflação, foi estimado em US$ 103 bilhões pelo governo norte-americano em 2014. O valor equivale a R$ 404,8 bilhões, se utilizada a cotação de 17 de agosto de 2018 – quando ficou em R$ 3,93, segundo o Banco Central.
Nos Estados Unidos, as despesas do Plano Marshall são com frequência comparadas às da guerra do Afeganistão. Em julho de 2014, o Gabinete do Inspetor Especial para a Reconstrução do Afeganistão, órgão americano criado para monitorar as ações de reestruturação daquele país após a guerra com os Estados Unidos, divulgou um boletim para o Congresso americano. Em um trecho do relatório, o custo do Plano Marshall é comparado ao gasto do governo norte-americano na reconstrução do Afeganistão. Os analistas atestam que, em valores corrigidos pela inflação, o governo norte-americano gastou US$ 103 bilhões no Plano Marshall e US$ 109 bilhões na reconstrução do Afeganistão.
Especialistas ouvidos pelo site de fact-checking americano Politifact destacam que a comparação tem alguns problemas. Charles Maier, historiador de Harvard que pesquisa os resultados da Segunda Guerra Mundial, diz que o custo do Plano Marshall em porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) americano era muito maior do que a despesa com o Afeganistão em relação ao PIB de 2014.
Durante os anos do Plano Marshall, o gasto total com o programa de reconstrução da Europa era equivalente a cerca de 4,3% do PIB americano. Já a despesa de recuperação do Afeganistão entre 2002 e 2014 correspondia a cerca de 0,75% do PIB anual registrado.
Em 2017, o Brasil reduziu o gasto com juros nominais – de pagamento da dívida pública de União, estados e municípios – para R$ 400,8 bilhões, segundo nota técnica do Banco Central, equivalentes a 6,11% do PIB. O auge dos pagamentos foi em 2015, quando a despesa chegou a R$ 501,8 bilhões, o que representava 8,37% do PIB.