Entre janeiro e agosto de 2024, o Brasil registrou 6,5 milhões de casos prováveis de dengue, um crescimento de 300% em relação ao mesmo período do ano anterior. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), parte desse aumento já é consequência das mudanças climáticas, o que levou o governo federal a antecipar o início do “Movimento nacional de enfrentamento à dengue e outras arboviroses [doenças virais transmitidas por insetos]”. Só neste ano, cerca de 5 mil pessoas morreram em consequência da dengue.
“Com a questão climática evoluindo para que o planeta fique mais aquecido, nós resolvemos antecipar o lançamento da nossa campanha para que a gente tenha tempo”, afirmou o presidente Lula em coletiva hoje (18), no Palácio do Planalto. O plano prevê investimento de R$1,5 bilhão do orçamento do MS em ações como prevenção, vigilância e combate aos vetores, em parceria com os estados e municípios, com o objetivo de diminuir os casos da doença já no próximo verão. “Não é uma tarefa só da saúde, é uma tarefa da sociedade brasileira vencer a dengue”, defendeu o presidente.
A ministra Nísia Trindade enfatizou que os efeitos das mudanças climáticas já são sentidos na saúde das pessoas e podem afetar o combate às arboviroses, ainda mais graves em crianças, gestantes, idosos e pessoas com comorbidades. “Falta de água e acúmulo de lixo são os fatores mais importantes para essa proliferação do mosquito. Quando a gente fala de falta de água, não vamos esquecer que nós estamos vivendo uma grande seca no nosso país. Então, a atenção para a questão ambiental tem que ser absoluta e total”, acrescentou.
Em entrevista à Agência Pública após a coletiva, Rivaldo Venâncio, secretário adjunto de Vigilância em Saúde e Ambiente do MS, afirmou que a emergência do clima já está afetando a proliferação da dengue no Brasil. “Nós percebemos que no verão agora, 2023 para 2024, houve uma antecipação do pico de ocorrência da dengue em mais ou menos 10 semanas. Isso em decorrência às alterações climáticas, com certeza”, explicou.
Entretanto, ele alerta que não há “causa nem solução única”. “No caso dessa megaepidemia que nós tivemos agora em 2024, certamente a alteração climática contribuiu. No entanto, é bem provável que a não retomada na sua plenitude do trabalho que era feito casa a casa, o trabalho preventivo em relação aos focos do mosquito, também tenha contribuído”. De acordo com ele, a pandemia “desarticulou a sociedade como um todo”, e também algumas ações de combate aos mosquitos não foram retomadas.
O controle vetorial é um dos focos do plano, que prevê, por exemplo, o uso de métodos biológicos – como a soltura de mosquitos estéreis e o uso de bactérias que alteram o comportamento dos vetores –, além do uso dos fumacês.
Nísia Trindade também destacou a falta de saneamento básico, limpeza urbana e acesso à moradia como outros fatores que influenciam a proliferação de doenças. A definição de planos de contingência regionalizados e o diálogo com gestores municipais também estão entre as ações previstas, como parte da estratégia de preparação e resposta às emergências. “Dificilmente teremos o verão com o menor número de casos da história, mas temos isso como meta”, finalizou a ministra.