Buscar
Nota

STF julga suposto “assédio judicial” do governador de Mato Grosso contra jornalistas

26 de abril de 2024
17:05

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia liberou para julgamento, entre os próximos dias 3 e 10 de maio, o processo que decide se houve “assédio judicial” do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União), contra jornalistas de Cuiabá.

Como reportado pela Agência Pública, profissionais e entidades de imprensa denunciaram o bolsonarista por supostamente usar a Delegacia de Repressão a Crimes Informáticos (DRCI), da Polícia Civil do estado, para “criminalizar” quem cobriria “criticamente” sua gestão.

A DRCI moveu uma operação contra os jornalistas Alexandre Aprá e Enock Cavalcanti e apreendeu aparelhos eletrônicos, telefones celulares, além de pedir a prisão preventiva de Aprá. 

Segundo decisão da ministra relatora do caso no STF, Cármen Lúcia, a operação do governo Mauro Mendes caracterizou-se como um “cerceamento à liberdade de imprensa” e a apreensão de aparelhos e telefones “pode permitir a exposição de fontes e métodos de investigação jornalísticos” – “revelando censura judicial incompatível com a Constituição”.

Por meio de sessão virtual, na qual os ministros apenas registram seus votos, os membros da Primeira Turma do STF deverão ratificar, ou não, a decisão da relatora. Também fazem parte da Primeira Turma os ministros Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Luiz Fux.

Em 12 de abril de 2024, a ministra do STF deu razão aos jornalistas na reclamação contra o governador e o Núcleo de Inquéritos Policiais da Comarca de Cuiabá, ligada ao Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso (TJMT).

Foi esse setor do TJMT que autorizou a Operação Fake News 3 contra os jornalistas Alexandre Aprá e Enock Cavalcanti e o comunicador e empresário Marco Polo Pinheiro no dia 6 de fevereiro deste ano. Os três são investigados por supostamente formarem uma “associação criminosa”.

Os alvos da operação e entidades de defesa da classe alegam que o governador tem praticado “assédio judicial” contra críticos à sua gestão. Um levantamento do sindicato dos jornalistas no estado (Sindjor-MT) aponta a existência de inquéritos abertos contra pelo menos 18 profissionais da imprensa, incluindo casos com controvérsias envolvendo o Ministério Público de Mato Grosso (MPMT).

Com base na denúncia contra o governador, o grupo de jornalistas formalizou queixas ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). O Observatório da Violência contra Jornalistas e Comunicadores Sociais, coordenado pelo secretário nacional de Justiça do MJSP, Jean Uema, acompanha o tema desde março – quando o caso chegou ao STF.

A ação dos jornalistas no Supremo conta com o apoio formal da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), do Instituto Vladimir Herzog e do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso (Sindjor-MT).

“Milícia digital”: Perante o STF, defesa de Mauro Mendes renova ataques

Segundo apuração da Pública, a defesa de Mauro Mendes tem insistido nos ataques contra os três alvos da Polícia Civil de Mato Grosso. A advogada Natali Nishiyama alega que a reclamação a ser julgada pela Primeira Turma foi criada para ludibriar o Supremo.

A defesa do governador renovou críticas contra os jornalistas, chamando-os de uma “milícia digital contratada para planejar ataques” contra ele, seus familiares e aliados.

Sem apontar quem seriam os possíveis contratantes, os advogados de Mauro Mendes baseiam seu argumento no parentesco de um dos alvos com um desafeto político do governador. Marco Polo Pinheiro é irmão do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), outro que contesta decisões do TJMT. Emanuel Pinheiro foi afastado do cargo duas vezes pela Justiça, em 2021 e 2024, por suspeita de irregularidades na Secretaria de Saúde do município e por investigação de suposta participação em organização criminosa.

A defesa de Mendes alega que o inquérito contestado pelos jornalistas teve endosso do MPMT e, em 2022, da Polícia Federal. A única operação da PF local sobre o tema ocorreu em 1º de outubro de 2022, mas não tinha como alvos Aprá, Cavalcanti ou Pinheiro.

Os advogados do governador pedem ao STF que a Procuradoria-Geral da República (PGR) emita novo parecer sobre o caso. A PGR inicialmente deu razão aos jornalistas, manifestando-se pela procedência da reclamação.

O advogado dos jornalistas, André Matheus, afirma ser preocupante “o uso reiterado da máquina pública, via Polícia Civil do Estado de Mato Grosso, para perseguir jornalistas que o governador acredita serem seus opositores, usando o termo ‘fake news’, tentando enquadrá-los na mesma ótica dos que pregam a abolição do sistema democrático de direito, pois isso é um uso deturpado do conceito para tentar criminalizar o trabalho de jornalistas no estado”.

A advogada Natali Nishiyama, representante de Mauro Mendes, não respondeu aos questionamentos da Pública. Caso se manifeste, a reportagem será atualizada.

Edição:

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Notas mais recentes

Funai e DPU reagem a denúncias de ameaças e prisões de indígenas Kanela em MT


Autismo: Falta unidade em atendimento, mas sobram projetos de lei, segundo especialistas


Vídeo mostra participação de Bolsonaro em depoimento sobre atentado a bomba no Riocentro


CNJ: Ano de 2024 já tem mais denúncias de violência contra mulheres no Judiciário que 2023


STF julga suposto “assédio judicial” do governador de Mato Grosso contra jornalistas


Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes