Megaprojetos defendidos pelo governo e por empresas prometem mudar a cara da Amazônia. A justificativa oficial para esses grandes empreendimentos é promover o desenvolvimento da região e do país. A realidade, no entanto, mostra um cenário muito mais complexo e contraditório. Populações inteiras são desalojadas, cidades e povoados têm de lidar com a chegada de milhares de moradores – e com os problemas dessas migrações – e muito pouco da riqueza produzida fica nas áreas afetadas. Esse debate, ignorado por boa parte da sociedade, é o tema de “Amazônia Pública”, primeiro livro-reportagem produzido pela Agência Pública.
A obra reúne as reportagens da série homônima Amazônia Pública, publicada no final de 2012 no site da Pública. Três equipes de jornalistas percorreram as regiões do rio Tapajós, do rio Madeira e de Carajás, que convivem com os resultados de investimentos feitos tanto pelo governo como por empresas, entre julho e outubro de 2012. Os textos foram atualizados para a publicação e três reportagens complementares aos temas abordados foram incluídas. A série venceu o Prêmio Jornalistas&Cia/HSBC de Imprensa e Sustentabilidade 2013 e foi finalista do 7º Prêmio Allianz Seguros de Jornalismo.
O evento de lançamento do livro vai ocorrer no dia 14, na praça Roosevelt, centro de São Paulo, a partir das 16 horas. A Pública vai promover uma mesa de discussão com o tema “O projeto de desenvolvimento da Amazônia e seu impacto nas populações locais”. Terminado o debate, as edições em português e inglês do livro serão distribuídas gratuitamente. A obra foi produzida com o apoio da Climate and Land Use Alliance (Clua), fundação internacional ligada às questões climáticas.
Haverá também a exibição de fotos e vídeos do projeto e de depoimentos, gravados especialmente para o evento, de pessoas ligadas à cultura da Amazônia. Entre os que participaram estão Aurélio Michiles, Milton Hatoum e Fafá de Belém, que respondem à pergunta: “Qual Amazônia você quer?”. Veja uma prévia do depoimento de Fafá no YouTube. Às 19 horas, começa a projeção de imagens criadas pela artista multimídia Veruscka Girio. Começa a tocar também o set preparado pelo DJ Madruga, que inclui ritmos amazônicos como o carimbó.
As três regiões visitadas pelos repórteres da Pública mostram aspectos diferentes e também complementares dos megaprojetos previstos ou em construção. O rio Tapajós, ainda preservado, sofre a ameaça de um complexo de sete hidrelétricas. Técnicos do governo realizam os estudos preliminares para a construção de duas delas, São Luiz do Tapajós e Jatobá, sem consultar grupos indígenas Munduruku e ribeirinhos que serão desalojados. Com as notícias dos projetos, garimpos ilegais aumentaram e, de olho na energia barata que virá, grandes mineradoras preparam-se para explorar a região.
Duas grandes usinas – Santo Antônio e Jirau – começaram a operar no rio Madeira e têm provocado problemas recorrentes para os moradores das cidades vizinhas. Bairros foram sugados pelo rio, que é rico em sedimentos e teve o seu comportamento alterado pelo represamento. Pequenas cidades inflaram rapidamente, sem terem infraestrutura urbana para comportar a rápida mudança. E funcionários das obras enfrentam péssimas condições de trabalho, resultado da pressão para terminar rapidamente as duas hidrelétricas.
No território dominado pela mineradora Vale, a cidade de Canaã dos Carajás prepara-se para as consequências do projeto S11D. A sigla dá nome à mina que será aberta pela empresa para retirar minério de ferro da Serra Sul da Floresta Nacional de Carajás, próxima ao pequeno município. Com isso, a produção deve dobrar até 2016. Mas a riqueza não costuma melhorar a vida de quem mora por ali. Cidades próximas de outras minas da Vale, como Parauapebas e Marabá, convivem há décadas com a pobreza e violência.