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Publicação foi feita dias antes da prisão do ex-deputado bolsonarista, que atirou contra a Polícia Federal

Reportagem
26 de outubro de 2022
12:25
Este artigo tem mais de 1 ano

“Nós temos a segunda força armada das Américas. Primeiro Estados Unidos, segundo Brasil. Temos dois milhões de atiradores e colecionadores. Nós temos disposição para a luta. Que eles venham!”, diz o ex-deputado federal bolsonarista Roberto Jefferson, presidente de honra do PTB, em um vídeo publicado no Instagram da Frente Evangélica Brasileira. O material, onde o político que cumpria prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica sugere uso de armas e violência contra adversários políticos, foi postado em 20 de outubro, dois dias antes de ser preso após iniciar um ataque a policiais federais. Jefferson disparou mais de 50 tiros de fuzil e três granadas contra os agentes que cumpriam mandado de prisão do STF.

Na postagem, Jefferson ainda fez ameaças diretas ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aos ex-presidentes Dilma Rousseff (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele também citou José Genoíno, ex-presidente do PT. “Vamos corrigir o erro da revolução”, disse, se referindo à ditadura militar, “que não podiam ter deixado vivo o Fernando Henrique, o Lula, o Genuíno, a Dilma.”

O vídeo recebeu 65 curtidas e foi reproduzido mais de 470 vezes. Ele foi divulgado enquanto o ex-deputado estava proibido de dar entrevistas e usar redes sociais. No dia seguinte à postagem, em 21 de outubro, Roberto Jefferson publicou um outro vídeo chamando a ministra Carmén Lúcia, do STF, de “prostituta”, “arrombada” e “vagabunda”. O material foi divulgado pela filha do ex-deputado, a também ex-deputada Cristiane Brasil (PTB). A decisão que ordenou a prisão dele por descumprimento de medidas impostas na ação penal da qual é réu, cita o conteúdo contra a ministra.

Reprodução de publicação do vídeo de Roberto Jefferson no Instagram da Frente Evangélica Brasileira
Em vídeo, Roberto Jefferson diz que políticos como Lula “não podiam ter ficado vivos” depois da Ditadura e afirma que seria preciso “corrigir o erro da revolução”

A Frente Evangélica Brasileira, que ajudou a divulgar as ameaças de Jefferson, é um grupo político que se apresenta como “interdenominacional, conservadora e patriota”. Ela diz reunir religiosos, empresários e políticos bolsonaristas, e promove eventos conservadores na Bahia. O próximo será dia 27, em Feira de Santana (BA), com participação do deputado federal Eduardo Bolsonaro, o ex-deputado Daniel Silveira — condenado a prisão por ataques ao STF, que recebeu indulto de Bolsonaro —, e o secretário da secretaria da Cultura, capitão da PMBA e ativista pró-armas André Porciuncula. Este ano, Porciuncula se candidatou a deputado federal na Bahia pelo PL, mas não se elegeu.

Durante a campanha, a mesma frente evangélica também promoveu eventos de campanha para o presidente Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, como um encontro de mulheres com a presença da primeira-dama Michelle Bolsonaro e da senadora e ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. O encontro aconteceu no dia 16 de outubro, em Feira de Santana.

Reprodução de postagem no Instagram da Frente Evangélica Brasileira 
Reprodução de postagem no Instagram da Frente Evangélica Brasileira 

Jacqueline Moraes Teixeira, antropóloga, professora do Departamento de Sociologia da UnB e pesquisadora do segmento evangélico, observa que a Frente Evangélica Brasileira “apesar de se apresentar como interdenominacional”, “reúne igrejas mais relacionadas a denominações de classe média, conservadores, sobretudo homens brancos”. “Não parece ser um movimento que tem uma capilaridade grande ainda. Tem, sobretudo, atuação localizada em Feira de Santana e envolvimento de políticos locais,” observa.

Um deles é o candidato bolsonarista ao governo baiano, derrotado no primeiro turno, João Roma (PL). A frente usou suas redes sociais para divulgar materiais do político, que participou de um evento realizado pelo grupo em maio deste ano. No encontro também estava o diretor da frente e coordenador do Ministério Família Projeto de Deus em Feira de Santana, Nelson Navarro. Além de evangelista, ele também se apresenta como palestrante motivacional e especialista em treinamento empresarial. Na página da igreja, que tem 16 mil seguidores no Facebook, há um post de divulgação da Frente Evangélica Brasileira em apoio a Bolsonaro, publicado em 28 de setembro, que diz: “BOLSONARO 22, PARA LIVRAR O BRASIL DO COMUNISMO, INIMIGO TERRÍVEL DO CRISTIANISMO!!!”.

Material de campanha do candidato João Roma foi reproduzido nas redes sociais da frente evangélica
Material de campanha do candidato João Roma foi reproduzido nas redes sociais da frente evangélica

Roberto Jefferson, pregador evangélico

Em maio do ano passado, a Frente Evangélica Brasileira realizou um evento conservador que teve Roberto Jefferson como principal preletor. Entre “glórias a Deus” e “aleluias”, Roberto Jefferson, que se batizou em uma Assembleia de Deus, no Rio de Janeiro, no ano passado, e vem sendo defendido pelo pastor assembleiano Silas Malafaia, fez um discurso acalorado contra o “marketing do gayzismo” e pela defesa da “família cristã”.

“A verdadeira liberdade está em poder crer na palavra de Deus. É a liberdade da qual não abrimos mãos e por ela verteremos o nosso sangue”, disse.

Reprodução do evento com Roberto Jefferson
Reprodução do evento com Roberto Jefferson

Ele estava acompanhado por lideranças evangélicas, como o pastor bolsonarista Joel Serra, presidente do Movimento Cristão Conservador, que foi candidato a deputado federal este ano pelo PTB. Serra mobilizou comitês de campanha para Bolsonaro pelo Brasil, nas chamadas Casas da Pátria. O pastor também levou apoiadores para a manifestação em apoio ao presidente, no dia 7 de setembro, na praia de Copacabana.

Este ano, Kelmon Souza, autointitulado padre Kelmon, substituiu Roberto Jefferson na disputa presidencial, fazendo uma espécie de dobradinha com Bolsonaro durante a campanha.

“Eu digo isso ao Bolsonaro… É lá que temos que ganhar, no Nordeste”, disse Roberto Jefferson durante o evento da Frente Evangélica no ano passado, confirmando sua proximidade com o velho aliado político e sua influência no planejamento da campanha de Bolsonaro, algo que o atual presidente e candidato à reeleição tenta negar. Depois do ataque aos policiais federais, Bolsonaro chegou a dizer que não tem foto com o ex-deputado e presidente de honra do PTB, informação que foi rapidamente desmentida.

A reportagem tentou contato com organizadores da Frente Evangélica Brasileira até a publicação, mas não recebeu respostas.

Reprodução Instagram
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