Buscar
Coluna

Por que olhar pra trás?

Pessoas, instituições e nações precisam entender como chegaram aonde estão para criar caminhos que apontem para a frente

Coluna
16 de março de 2024
06:00
Ouça Marina Amaral

Marina Amaral

16 de março de 2024 · Pessoas, instituições e nações precisam entender como chegaram aonde estão para criar caminhos que apontem para a frente

0:00

Quer receber os textos desta coluna em primeira mão no seu e-mail? Assine a Newsletter da Pública, enviada sempre às sextas-feiras, 8h. Para receber as próximas edições, inscreva-se aqui

Aniversário sempre faz a gente olhar para trás, vir caminhando na memória daquele ponto inicial até o que se comemora no presente. Não por acaso, é também um momento de pensar no futuro, planejar mais um ano, trazendo a bagagem do ano que passou. 

Foi assim neste aniversário de 13 anos da Agência Pública na sexta-feira (15), em que lembramos a esperança que a inaugurou com um sentimento de gratidão pelo que ela se tornou e de responsabilidade com o futuro. 

Daquela sementinha plantada com fé no jornalismo de interesse público e compromisso com os direitos humanos brotou uma organização que não para de se transformar, atrair profissionais de talento, leitores atentos, apoiadores generosos. 

Hoje somos muitos, mais de 40, a construir o presente e imaginar o futuro. A Pública se tornou melhor e maior que o sonho que a fundou.

Se a inquietação nos empurra adiante, a permanência dos nossos princípios dá consistência ao trabalho que fazemos. Os desafios que enfrentamos nesse caminho – até a grande pedra que foi o governo Bolsonaro – trouxeram aprendizado e novos motivos para “tocar para frente”. 

As aspas remetem à triste declaração do presidente Lula sobre a decisão do governo federal de silenciar o aniversário de 60 anos da ditadura e, junto com ele, apagar a luta de seus opositores e a dor dos familiares, que até hoje pressionam pela volta da Comissão dos Mortos e Desaparecidos, extinta no governo Bolsonaro. O presidente nem os recebeu em audiência, como contou a coluna de Rubens Valente. 

“Eu, sinceramente, eu não vou ficar remoendo e eu vou tentar tocar esse país para frente”, disse o presidente sobre os 60 anos da ditadura. “Eu estou mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023 do que com 64”, afirmou.

A comparação entre o golpe de 1964 e a tentativa de golpe de 2023, porém, apenas reforça a necessidade de refletir sobre o passado, reparar danos, cobrar um comportamento democrático daqueles que trouxeram de volta o anseio autoritário de 1964. 

Não se trata de “remoer”, palavra calculadamente ofensiva para quem insiste em lembrar. O passado ainda está bem presente na formação autoritária e violenta de militares e policiais, na injustiça que se perpetua nos corpos desaparecidos, na perseguição aos indígenas, no financiamento de atos extremistas por empresários sem nenhum escrúpulo.  

Falta expor e rejeitar com firmeza a tortura que nos envergonha, as mentiras que encobriram crimes ainda impunes, o papel lamentável de empresas e instituições – a última revelação sobre isso, aterradora, foi publicada nesta semana pela Pública.

Como disse Dilma Rousseff, a única presidente a ter coragem de instalar uma Comissão da Verdade sobre os crimes de ditaduras no país: “O Brasil merece a verdade. As novas gerações merecem a verdade e, sobretudo, merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia”.

É disto que se trata, presidente Lula. Não se faz um governo de “união e reconstrução” mutilando a história que nos trouxe até aqui. A extrema direita está bem viva, com a ditadura como estandarte do 8 de janeiro. Em cada militar que depõe sobre a tentativa de golpe no governo Bolsonaro, mora um garoto catequizado pelos ditadores do passado.

Sem coragem de enfrentar os militares e seus aliados golpistas que há décadas falseiam os fatos para manter seus privilégios – e um lugar no coração dos brasileiros que ignoram seus crimes –, não há como “tocar o país para frente”. 

Pelo menos não o país que todos nós, que escolhemos a democracia, queremos construir.

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Aviso

Este é um conteúdo exclusivo da Agência Pública e não pode ser republicado.

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes