Não é só no Brasil que se discute se uma vitória da seleção pode favorecer ou não o governo e a reeleição; na Colômbia é grande a expectativa sobre possíveis efeitos políticos do desempenho do time de Pékerman.
Por aqui, não foram poucos os especialistas e acadêmicos que se pronunciaram sobre a possibilidade de favorecimento da reeleição da presidente Dilma Roussef em caso de vitória do Brasil na Copa.
Alguns meios de comunicação chegaram a extrapolar, prevendo até a queda das ações em caso de vitória do Brasil em um raciocínio tortuoso, mas com adeptos.
Para dar uma espiadinha em como anda essa discussão na terra de nossos adversários no futebol, vale ler essa análise de Juanita Léon, colunista de política do Silla Vacia, parceiro da Pública.
A colunista política colombiana cita diversos estudos sobre impacto político de vitórias esportivas na Europa e nas Américas. E conclui: o presidente Juan Manuel Santos, reeleito no mês passado, foi favorecido pela goleada da Colômbia sobre a Grécia na Copa do Mundo, um dia antes do pleito. E poderia contar com uma onda de otimismo favorável no início do novo mandato, em agosto, se a seleção de Pékerman conseguisse vencer a brasileira.
Poderia a seleção colombiana salvar Santos?
Por Juanita Léon
Durante a Copa do Mundo a única coisa que interessa é o futebol. Mas o futebol também é político. E o desempenho da seleção, de fato, pode ser determinante para o futuro imediato do presidente Santos.
Para um presidente que quase perde a reeleição apesar de oferecer a promessa de paz e de contar com todos os personagens influentes da política a seu lado – menos Álvaro Uribe – reforçar o favoritismo junto aos colombianos é uma prioridade para Santos na arrancada para o seu segundo mandato.
A uma semana do segundo turno, 46% dos entrevistados pelo Ipsos diziam que não votariam em Santos de jeito nenhum, e apenas 41% tinham uma imagem favorável do presidente. Resultado semelhante ao obtido pela pesquisa da Cifras y Conceptos, em que o favoritismo de Santos era de 42% enquanto 55% o rejeitavam. Na Gallup, ele se saía melhor, mas apenas 52% tinham dele uma imagem favorável, e isso porque sua situação tinha melhorado em relação a maio, quando era bem avaliado só por 38% dos colombianos.
O não-favoritismo de Santos andava junto com o pessimismo da população quanto aos rumos do país. Mais da metade de seus conterrâneos (57% segundo a Gallup) acreditava que a Colômbia estava no caminho errado. Só um de cada três colombianos considerava bom o rumo escolhido.
Combater esse pessimismo pode ser tarefa para James Rodríguez, Pablo Armero, Juan Gillermo Cuadrado e sobretudo para Pékerman, o técnico da seleção.
Há vários estudos que documentam o impacto político das vitórias no esporte. Um deles, sobre o Campeonato Nacional de Basquete nos Estados Unidos e seu impacto sobre as eleições e a imagem de Barack Obama mostrou que “a cada vitória do time dos entrevistados subia o favoritismo do presidente Obama em 2,3 pontos percentuais”.
Entre aqueles que eram fanáticos e estavam seguindo o torneio de perto, a vitória de seu time fazia subir em até 5 pontos percentuais a percepção favorável de Obama.
Na França, Jacques Chirac foi um dos ganhadores quando ‘Les bleus’ (os azuis, a seleção francesa) ganharam a Copa do Mundo em 1998 contra a seleção brasileira. A confiança dos consumidores alcançou o nível mais alto em 20 anos, segundo a BVA, uma das maiores empresas francesas de pesquisa, e os níveis de popularidade de Chirac dispararam, alcançando níveis mais altos do que em todo o seu primeiro mandato.
Uma janela de oportunidade
A julgar pela euforia dos colombianos com a seleção, Pékerman poderia impulsionar Santos se é que nós nos comportamos como os gringos. Antes mesmo das eleições ficou claro o efeito das vitórias no gramado nas eleições. O triunfo nacional acaba ‘despejando’ votos no presidente-candidato, como possivelmente aconteceu na Colômbia um dia depois da seleção de Pékerman golear por 3 x 0 a seleção grega na Copa do Mundo.
Mas, segundo vários estudos consultados por La Silla, essa janela de oportunidade é pequena: depois das eleições “as vitórias esportivas não têm tanto impacto”, como demonstra claramente um deles.
No mesmo sentido, uma pesquisa da Oxford Economics sobre o impacto econômico das Olimpíadas de Londres em 2012 sugere que a felicidade da população aumentou quando o desempenho das equipes foi melhor do que esperado mas o “impacto deixou de ser significativo depois de alguns dias”.
Concluindo, se a seleção tiver um desempenho tão bom quanto esperam os colombianos o grande beneficiário será Santos. Uma onda de felicidade coletiva poderá tomar conta do país até a sua posse em agosto. Dali para frente, terá que contar com sua própria performance.