Buscar
Nota

Dono de imóvel sobreposto a terra indígena, senador quer votar Marco Temporal antes do STF

17 de agosto de 2023
19:36

Na sessão da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado que discutiu ontem (16) o projeto de lei sobre o Marco Temporal para terras indígenas (PL 2.903/23), a maioria dos parlamentares se uniu em torno de um objetivo: votar a proposta antes que o Supremo Tribunal Federal (STF) prossiga com o julgamento sobre o tema. Há a expectativa de que a Corte volte a debater a tese até o fim de setembro, nas vésperas da aposentadoria da ministra Rosa Weber, que deseja se manifestar sobre o assunto.

Em meio a figuras proeminentes do governo Bolsonaro, como os agora senadores Sérgio Moro (União Brasil-PR), Tereza Cristina (PP-MS) e Jorge Seif (PL-SC), que integram a CRA, um dos mais engajados na defesa do Marco Temporal foi o senador Jaime Bagattoli (PL-RO). 

Vice-presidente da comissão e membro da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), ele possui fazenda de pecuária parcialmente sobreposta à Terra Indígena (TI) Omerê, no município de Corumbiara (RO). A área é habitada pelos poucos sobreviventes dos povos de recente contato Akuntsu e Kanoê, vítimas de massacres nos anos 1970.

Se o PL 2.903/23 for aprovado com a mesma redação com que passou na Câmara, fica estabelecido que sejam demarcados apenas territórios ocupados pelos indígenas na data de promulgação da Constituição, em outubro de 1988. A princípio, a matéria, portanto, poderia beneficiar os negócios do senador. “Não podemos deixar que o Supremo atropele isso”, declarou. “Temos que respeitar nossos povos originários, os nossos indígenas, mas precisamos entender que essa Casa vai ter que resolver essa situação.”

A informação sobre a fazenda de Bagattoli foi revelada em junho por um dossiê do site De Olho nos Ruralistas que identificou parlamentares e financiadores de campanhas políticas com propriedades em territórios indígenas. Segundo o documento, a fazenda São José pertence à Transportadora Giomila, que tem como sócios o senador e seu irmão, Orlando Bagattoli. 

O imóvel foi registrado duas vezes em sequência: a primeira em janeiro de 2007, com 1,1 mil hectares, e a segunda em novembro do mesmo ano, com 3,7 mil hectares. À época, a propriedade era de outra família. Foi adquirida pelos irmãos Bagattoli em 2011, por meio da penhora de uma dívida contraída pelos antigos donos. Os registros foram feitos logo após a homologação da Terra Indígena Omerê, que ocorreu em abril de 2006. 

O dossiê identificou, com base nos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que a fazenda tem área de 0,5 hectare incidindo sobre a terra indígena. No entanto, informações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) indicam que a porção sobreposta – e portanto, irregular – é muito superior, de 2.591 hectares. O imóvel não consta no patrimônio de mais de R$ 55 milhões declarado por Jaime Bagattoli à Justiça Eleitoral no ano passado.

Em junho, durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, o senador citou a história e admitiu que parte da fazenda invade a terra indígena. “Inclusive, na propriedade, são dois lotes, que dão 3.716 hectares, e eu tive que desmembrar 1.118 hectares, só a parte aberta, e a parte toda da reserva foi homologada junto, mais 2 mil e poucos hectares, toda a mata foi homologada como reserva indígena”, afirmou, na ocasião.

A Agência Pública procurou Bagattoli mas não obteve retorno até a publicação.

Edição:

ELON MUSK é parça de Bolsonaro, Trump e benfeitor na Amazônia e no Rio Grande do Sul? Já se perguntou quais são as intenções de Elon Musk no Brasil? A Pública vai investigar os interesses e negócios do homem mais rico do mundo em nosso território. O magnata da tecnologia mundial promove desinformação e já é investigado por órgãos públicos em diversos países. O jornalismo independente da Pública pode trazer revelações inéditas sobre Elon Musk. Mas um trabalho desse tamanho só pode ser realizado com a ajuda de nossos leitores. Por isso precisamos de, pelo menos, 700 novos Aliados ao nosso lado nesta investigação, que vai render uma série de reportagens especiais.

Clique aqui e faça parte desta investigação!

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Notas mais recentes

Tribunais de contas de estados omitem aquisições de programas espiões ao STF


Empresário que transportou mala de joias de Bolsonaro nos EUA participa do CPAC Brasil


Brumadinho: Familiares de vítimas buscam justiça no STJ, mas encontram gabinetes vazios


Palestrante aponta discriminação em voo da Azul enquanto ia a evento do MP sobre racismo


Brasil Paralelo mira geografia e ciências sociais após curso que desinforma sobre história


Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes