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Na CPI, Delgatti implica generais na trama golpista

CPI dos atos golpistas pega fogo, complicando a vida de Bolsonaro e das Forças Armadas

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19 de agosto de 2023
06:00
Este artigo tem mais de 1 ano

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O depoimento de Walter Delgatti na CPI dos Atos Golpistas aponta não apenas para Jair Bolsonaro, mas para o general Paulo Sérgio Nogueira, com quem o hacker teria se encontrado cinco vezes entrando pela porta dos fundos do Ministério da Defesa. Nessas reuniões com o ministro e militares da área de tecnologia é que Delgatti teria orientado o relatório entregue pelas Forças Armadas ao TSE.

Para quem não lembra, o relatório não traz prova alguma de possibilidade de fraude no sistema eleitoral, mas não afasta que ela possa ocorrer, uma conclusão obtusa, mas na medida para ser usada como instrumento de propaganda contra as urnas eletrônicas. O que de fato aconteceu nas eleições passadas. 

Um efeito menor, porém, do que o pretendido pelo presidente Jair Bolsonaro, com quem Delgatti se encontrou por uma hora e meia no dia 10 de agosto de 2022. Segundo seu depoimento de ontem na CPI, o então presidente da República lhe pediu simplesmente que fraudasse uma urna eletrônica, prometendo-lhe indulto se fosse apanhado no crime. Delgatti também assumiria a autoria de um grampo – que teria sido feito por agentes estrangeiros (!) – contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Menos de uma semana depois da reunião entre o hacker e o presidente, Moraes seria empossado na presidência do TSE. 

Foi com esse briefing de Bolsonaro que Delgatti então se dirigiu ao general Paulo Sérgio Nogueira, levado pelo coronel Marcelo Câmara, já envolvido no caso das joias sauditas. Assim o hacker se tornou o ghostwriter do relatório das três Forças Armadas ao TSE, de responsabilidade, portanto, dos comandantes militares. O que, se comprovado, implica objetivamente as Forças Armadas na premeditação da tentativa de golpe – a segunda, não vamos esquecer – contra a democracia brasileira.

A presença dos militares nos atos golpistas, fartamente documentada, ultrapassa os complôs dos manjados generais do Planalto e os acampamentos ilegais diante dos quartéis. Ao que tudo indica, vai ser difícil segurar segredos explosivos apoiando-se nas versões fantasiosas da deputada Carla Zambelli e no silêncio do tenente-coronel Mauro Cid e de seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, também envolvido na suspeição de desvio de patrimônio público e em outros delitos, no caso das joias. 

Quase 60 anos depois do golpe militar que nos jogou na ditadura, os generais tentam se esquivar de sua responsabilidade, como fazem até hoje, em relação aos crimes cometidos sob seu comando, como nos lembram as recentes escavações no DOI-Codi, em São Paulo, onde tortura e assassinatos foram cometidos sob as ordens dos oficiais do Exército. 

Esperamos que, ao contrário de 1964, quando se aliou aos militares golpistas, a imprensa se coloque na linha de frente para cobrar a investigação detalhada dos que tramaram contra a democracia. Punir Jair Bolsonaro é necessário, mas não suficiente. É preciso exterminar a praga golpista dentro dos quartéis, onde “ainda lhe ensinam uma antiga lição”, como cantava Geraldo Vandré no sangrento ano de 1968. Uma reportagem da Agência Pública, de 2021, assinada por Lucas Pedretti, mostra que até hoje o livro do Centro de Inteligência do Exército (CIE) – envolvido nos crimes da ditadura – é utilizado para contar a história do período nas instituições de formação militar. 

A imprensa tem um papel fundamental para revelar o que os militares insistem em esconder, como provam os jornalistas que até hoje investigam a ditadura militar. Afinal, Bolsonaro saiu da Presidência, mas eles continuam no poder.

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