A tradicional Marcha das Mulheres do ABC paulista será realizada este ano em São Caetano do Sul (SP), com protesto em frente à sede da Casas Bahia, na rua Samuel Klein, neste sábado (22). O trajeto foi propositalmente escolhido em razão das acusações de abuso infantil e exploração sexual contra o fundador da empresa, Samuel Klein, reveladas pela Agência Pública em uma série de reportagens e no podcast Caso K, lançado em 2024.
“É uma violência para todas as mulheres ter essa rua com o nome de um homem com o histórico dele, que abusava de crianças. Um desrespeito com as mulheres da cidade”, disse Neusa Raineri, coordenadora da Frente Regional do ABC de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, que articula a marcha junto com vários coletivos feministas das sete cidades da região. O evento começa às 9h, com concentração na frente da Câmara Municipal da cidade.
A marcha deste ano tem como tema “Unidas na luta pela vida de todas as mulheres e do planeta! Contra o fascismo, por justiça e democracia”. Na edição passada, o evento reuniu cerca de 200 mulheres em São Bernardo. Este ano, elas protestam pelo “fim dos feminicídios” e contra o “desmonte das políticas públicas de combate à violência contra a mulher” no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Entre as principais reivindicações estão atendimentos 24 horas na delegacia da mulher da região, construção de mais casas-abrigo, que oferecem atendimento a mulheres com risco de morte, e de casas de passagem, onde pessoas em vulnerabilidade social encontram acolhimento. “São Caetano, por exemplo, tem um Centro de Referência Especializado em Saúde da Mulher, o Centro Integrado de Saúde da Mulher e serviço para pessoas trans, mas ainda percebemos que existe uma carência de atendimentos especializados”, explicou Raineri.

Rua Samuel Klein
A passagem da marcha das mulheres pela rua Samuel Klein é mais um capítulo da luta feminista pela mudança do nome do logradouro. A rua passou a se chamar Samuel Klein em 2018, durante o mandato de José Auricchio Júnior (PSD), quando a Câmara de Vereadores da cidade aprovou um projeto proposto por Pio Mielo (MDB), na época presidente da casa legislativa.
Em 2021, depois que as primeiras revelações da Pública contra o fundador da Casas Bahia vieram à tona, movimentos feministas protestaram em frente à sede da empresa, em São Caetano do Sul. Na época, vereadoras do mandato coletivo Mulheres por Mais Direitos lançaram um abaixo-assinado para pressionar a prefeitura pela mudança do nome para rua 8 de março, em homenagem à luta das mulheres, e do Centro de Especialidades Médicas do bairro, que também recebeu o nome do empresário, para Maria Odília Teixeira, primeira mulher negra a se tornar médica no Brasil.
“O abaixo-assinado tem hoje mais de 4 mil assinaturas”, disse a vereadora Bruna Biondi (PSOL), que faz parte do mandato coletivo. “Teve uma boa adesão das mulheres da cidade, que entendem que não se deve homenagear um estuprador. Agora a decisão precisa ser encabeçada pelo Executivo, mas nunca conseguimos que o poder público nos recebesse”, contou. A vereadora explicou que o atual prefeito, Tite Campanella (PL), é sucessor e aliado político de Auricchio. Ela considera “absurdo o silêncio da prefeitura da cidade” diante das denúncias.
Em janeiro deste ano, Michael Klein, filho de Samuel Klein, recebeu o título de cidadão sul-são-caetanense. A iniciativa foi dos vereadores Olyntho Voltarelli (PSD) e Daniel Córdoba (PSD). “Ainda que ele não tenha um envolvimento tão claro e direto com o esquema de exploração sexual, demonstra a disposição do poder público nesse caso, mesmo com toda a organização das mulheres sendo contrária a esse tipo de homenagem”, considera a vereadora.