Buscar
Agência de jornalismo investigativo
Checagem

Três erros sobre os brasileiros devedores

Deputado do PMDB erra feio ao mencionar os brasileiros que estão com o nome sujo no SPC e Serasa

Checagem
13 de julho de 2016
12:00
Este artigo tem mais de 8 ano

“Temos mais de 60 mil pessoas com o nome na Serasa e no SPC. Essas pessoas não estão conseguindo trabalhar e não estão conseguindo ser consumidoras no mercado.” – deputado Mauro Pereira (PMDB-RS), em discurso no plenário da Câmara no dia 5 de julho.

Falso
Falso

O deputado Mauro Pereira afirmou em plenário que o número de pessoas nas listas do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e da Serasa supera 60 mil. Segundo ele, essas pessoas ficam impossibilitadas de trabalhar e não podem ser consumidoras no mercado. A frase está incorreta, segundo análise do Truco no Congresso, projeto de fact-checking da Agência Pública, feito em parceria com o Congresso em Foco.

Antes de mais nada, não é correto generalizar os dados obtidos por SPC e Serasa, já que os dois são birôs de crédito independentes e suas bases não são compartilhadas.

De acordo com os dados da Serasa Experian, em maio de 2016, 59,5 milhões de brasileiros de brasileiros estavam com o nome sujo por inadimplência. Já o SPC registra em maio 59,25 milhões de inadimplentes, o que representa 39% dos adultos economicamente ativos no Brasil. Os números são 1000 vezes superiores aos 60 mil indicados pelo deputado.

Pereira também derrapa ao afirmar que essas pessoas não podem trabalhar. Não há relação direta entre estar endividado e ter emprego fixo. O que existe é uma discussão jurídica a respeito da possibilidade de empresas verificarem na lista dos birôs de crédito o nome de candidatos de emprego. No entanto, isso também é discutível. A advogada Adriana Giori de Barros, do escritório BRG Advogados, explica que, segundo a lei 9.029/95, é proibida a utilização de práticas discriminatórias para efeitos admissionais ou de permanência no emprego. “Em muitas situações somente o fato de a empresa requisitar a consulta ao Serasa ou SPC pode ser configurado pela Justiça do Trabalho como prática discriminatória, ensejando a indenização por dano moral”, explica a especialista em direito trabalhista.

Outro deslize do deputado é dizer que pessoas negativadas “não estão conseguindo ser consumidoras no mercado”. Na verdade, ter o nome em uma dessas listas afeta apenas a possibilidade de fazer compras parceladas ou contrair financiamentos, já que os bancos e varejistas consultam esses registros antes de liberar o crédito. “Ela pode até ser registrada [no SPC] e continuar comprando parcelado. O registro dela não implica necessariamente que ela não vai obter crédito porque é o banco ou o varejista o responsável a conceder crédito, e não o SPC”, explica Renan Miret, analista de comunicação.

(Foto: Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados)
O deputado Mauro Pereira generalizou dados do SPC e Serasa, dois birôs de crédito independentes que não compartilham das mesmas bases (Foto: Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados)

Consultado pela reportagem, o assessor de imprensa do deputado Mauro Pereira disse que o dado utilizado pelo parlamentar em sua fala é referente apenas ao Rio Grande do Sul, estado de Pereira, e que foi retirado de sites como SPC e Serasa. No entanto, o SPC sequer possui dados estaduais. A Serasa Experian informa que o número de inadimplentes no estado é de cerca de 2,97 milhões de pessoas, o que corresponde a 5% da inadimplência nacional.

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Truco

Este texto foi produzido pelo Truco, o projeto de fact-checking da Agência Pública. Entenda a nossa metodologia de checagem e conheça os selos de classificação adotados em https://apublica.org/truco. Sugestões, críticas e observações sobre esta checagem podem ser enviadas para o e-mail truco@apublica.org e por WhatsApp ou Telegram: (11) 99816-3949. Acompanhe também no Twitter e no Facebook. Desde o dia 30 de julho de 2018, os selos “Distorcido” e “Contraditório” deixaram de ser usados no Truco. Além disso, adotamos um novo selo, “Subestimado”. Saiba mais sobre a mudança.

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes