Buscar
Agência de jornalismo investigativo
Checagem

Moraes só será revisor da Lava Jato em casos do plenário

Analisamos se o indicado para o STF vai mesmo ser responsável por revisar os processos da operação judicial

Checagem
21 de fevereiro de 2017
17:08
Este artigo tem mais de 7 ano
O ministro da Justiça licenciado, Alexandre de Moraes, em sabatina no Senado
O ministro da Justiça licenciado, Alexandre de Moraes, em sabatina no Senado. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

“Eu não serei o revisor da Lava Jato porque, em sendo aprovado, a cadeira em que eu estou aqui sendo sabatinado é para a cadeira na primeira turma. O revisor de todos os casos existentes da Lava Jato é o ministro Celso de Mello. Relator, ministro Fachin, que sucedeu em todos, absolutamente todos os casos da Lava Jato, sucedeu o ministro Teori Zavascki, e o revisor é o ministro Celso de Mello.” – Alexandre de Moraes, ministro da Justiça licenciado, durante sabatina no Senado em 21 de fevereiro de 2017.

Verdadeiro

Primeiro senador a sabatinar Alexandre de Moraes, Lindbergh Farias (PT-RJ) questionou se o ministro licenciado da Justiça possui a isenção necessária para ser revisor da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). “Vossa Excelência se considera isento para ser revisor da Lava Jato, para participar do processo?”, questionou.

Após se declarar “capaz de atuar com absoluta imparcialidade, absoluta neutralidade, dentro do que determina a Constituição”, Moraes corrigiu o senador petista quanto à possibilidade de ser o revisor dos casos da Operação Lava Jato no STF.

“Eu não serei o revisor da Lava Jato”, rebateu, explicando em seguida: “A cadeira em que eu estou aqui sendo sabatinado é para a cadeira na primeira turma. O revisor de todos os casos existentes da Lava Jato é o ministro Celso de Mello. Relator: ministro Fachin – que sucedeu em todos, absolutamente todos os casos da Lava Jato sucedeu o ministro Teori Zavascki – e o revisor é o ministro Celso de Mello”.

Diante da polêmica, o Truco – projeto de checagem da Agência Pública – recorreu ao Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (STF) para ver quem está com a razão. A vaga que Moraes poderá ocupar é, necessariamente, na primeira turma do STF, como ele sustentou. Edson Fachin liberou uma vaga no colegiado ao migrar para a segunda turma, onde tramitam todos os casos da Lava Jato, após a morte do ministro Teori Zavascki. Um sorteio entre os cinco integrantes da segunda turma definiu Edson Fachin como novo relator da Lava Jato.

Como determina o Regimento do STF, em seu artigo 24, nos casos de troca definitiva do relator o revisor também é substituído, devendo este ter entrado depois na Suprema Corte que o primeiro. Ao suceder Teori, Fachin também tomou o posto de juiz menos antigo do STF na segunda turma. Nesse caso, como não há ministro mais “moderno”, o revisor da segunda turma segue sendo Celso de Mello, mais antigo do Supremo.

Até aqui, portanto, Moraes tem razão: em princípio, ele não revisará os casos da Lava Jato, pois, se aprovado pelo Senado, ocupará uma cadeira da primeira turma do STF. Como disse o postulante, o relator da Lava Jato na segunda turma é o ministro Fachin, e a revisão está a cargo de Celso de Mello.

A pergunta de Lindbergh Farias, entretanto, não se restringiu aos julgamentos nas turmas. O presidente da República e os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal só podem ser julgados pelo plenário do STF. Foi assim com o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do mandato, por exemplo.

No plenário, vale a mesma regra: o revisor deve ser um ministro mais moderno que o relator. No caso de Zavascki, empossado em 2012, a revisão ficava sob a responsabilidade de Luís Roberto Barroso, que ingressou na Corte em 2013. Agora, com Fachin, recém-chegado ao tribunal, em 2015, a revisão em plenário caberá, necessariamente, a Alexandre de Moraes, caso se confirme sua chegada ao STF.

Na mesma fala em que respondeu a Lindbergh, Moraes comentou sobre esta possibilidade. “A questão da revisão que se coloca é se existir algum caso no plenário. A regra regimental é que o revisor no plenário é o ministro mais novo em antiguidade. O Fachin sendo o mais moderno – eventualmente, porque não existe nenhum caso no plenário –, em tese eu seria o revisor”, admitiu.

Embora tenha inicialmente negado que será revisor da Lava Jato, Moraes explicou corretamente o processo de escolha da relatoria e da revisão dos processos nas turmas e no plenário, e concluiu admitindo que, sim, será o revisor em plenário. Como a sabatina é um evento longo, o Truco levou em conta outros trechos da argumentação de Moraes na resposta a Lindbergh, evitando um recorte restrito, apenas da negativa inicial.

Como a análise do Regimento Interno do STF mostra que as informações repassadas por ele estavam corretas, a frase foi classificada como “Verdadeira”.

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Truco

Este texto foi produzido pelo Truco, o projeto de fact-checking da Agência Pública. Entenda a nossa metodologia de checagem e conheça os selos de classificação adotados em https://apublica.org/truco. Sugestões, críticas e observações sobre esta checagem podem ser enviadas para o e-mail truco@apublica.org e por WhatsApp ou Telegram: (11) 99816-3949. Acompanhe também no Twitter e no Facebook. Desde o dia 30 de julho de 2018, os selos “Distorcido” e “Contraditório” deixaram de ser usados no Truco. Além disso, adotamos um novo selo, “Subestimado”. Saiba mais sobre a mudança.

Leia também

Alexandre de Moraes, durante sabatina no Senado

Moraes acerta número de audiências de custódia de 2015 em SP

Por

Verificamos a frase do indicado ao STF sobre a quantidade de procedimentos desse tipo que foram realizados

Erro de Moraes: diferença entre homens e mulheres continua grande na magistratura

Por

Dados mostram que universalização do acesso entre os dois gêneros a postos de trabalho no Poder Judiciário ainda não ocorreu

Notas mais recentes

MPF recomenda à Funai que interdite área onde indígenas isolados foram avistados


Reajuste mensal e curso 4x mais caro: brasileiros abandonam sonho de medicina na Argentina


Do G20 à COP29: Líderes admitem trilhões para clima, mas silenciam sobre fósseis


COP29: Reta final tem impasse de US$ 1 trilhão, espera pelo G20 e Brasil como facilitador


Semana tem depoimento de ex-ajudante de Bolsonaro, caso Marielle e novas regras de emendas


Leia também

Moraes acerta número de audiências de custódia de 2015 em SP


Erro de Moraes: diferença entre homens e mulheres continua grande na magistratura


Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes