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Checagem

Carro incendiado em São Paulo não foi resposta à recusa de dinheiro com carimbo “Lula Livre”

Segundo a PM, motivação para atear fogo ao carro é diferente ao que tem se espalhado nas redes sociais

Checagem
9 de julho de 2018
12:00
Este artigo tem mais de 6 ano

“Dono de restaurante que recusou nota com Lula Livre tem carro incendiado” 

Publicada em 1o de julho, uma postagem no Facebook da página Partido Anti-PT relaciona a recusa de uma nota com o texto “Lula Livre” ao incêndio de um carro no bairro de Pinheiros, em São Paulo, no dia 30 de junho. O post do Partido Anti-PT traz o link de uma notícia publicada pelo site Imprensa Viva.

Segundo a postagem, Ângelo Tomi Leibovici, proprietário do restaurante Komy’s, teve seu carro incendiado naquele sábado. Leibovici ficou conhecido por se recusar a receber uma nota de dinheiro com um carimbo que dizia “Lula Livre” como pagamento em seu estabelecimento.

O post teve mais de mil compartilhamentos e cerca de 750 curtidas. Outras páginas, como a do Tenente Santini, vereador de Campinas, e Lula no Xadrez, também compartilharam o boato.

O Truco – projeto de checagem de fatos da Agência Pública – analisou o texto do post e atribuiu a ele o selo distorcido, já que ele utiliza informações verdadeiras para dar uma falsa noção da realidade. A postagem e o link contido sugerem uma correlação entre os fatos, como se o incêndio tivesse ocorrido por conta da recusa da nota. No entanto, não há no boletim de ocorrência do incêndio nenhuma menção ao caso da nota carimbada, que ocorreu quase dois meses antes. Na verdade, os fatos envolvem pessoas diferentes e a polícia foi chamada antes do incêndio porque o carro estava estacionado na frente da garagem do autor do crime.

No dia 9 de maio uma cliente do restaurante Komy’s fez uma publicação no Facebook relatando que o estabelecimento do empresário recusou sua nota carimbada com a imagem do ex-presidente Lula. Em resposta, no dia 12 de maio, o restaurante publicou uma nota de retratação ao acontecimento e se colocou disponível para aceitar quaisquer cédulas. Vale lembrar que, no começo daquele mês, circulava um boato de que o Banco Central teria proibido a rede bancária de aceitar as notas de dinheiro com o carimbo.

O caso da nota, no entanto, não tem relação com o incêndio do carro. Segundo informações contidas no boletim de ocorrência e repassadas ao Truco pela assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública (SSP), no dia 30 de junho, às 16 horas, na rua Zaparas, na zona oeste de São Paulo, o engenheiro Fábio Morganti Verciani, de 61 anos, foi preso por atear fogo no Honda CRV de Leibovici que estava estacionado em frente à garagem de sua casa.

Em entrevista à Agência Brasil o dono do restaurante disse que seu carro não impedia a saída pela garagem e que escolheu o local por causa da feira livre que acontece aos sábados na Rua Mourato Coelho e também pelos jogos da Copa do Mundo que interditam as ruas da região. Já o texto do site Imprensa Viva alega que o empresário deu a entender que havia outras motivações para o incêndio do carro, mas essa declaração não consta no boletim de ocorrência e nem na confissão de Verciani sobre o ocorrido, segundo a SSP.

A Polícia Militar foi acionada para a ocorrência de um veículo obstruindo a saída da garagem mas, quando chegou ao local, encontrou o carro em chamas. O Corpo de Bombeiros foi acionado para conter o fogo. Morganti foi detido em flagrante e direcionado ao 14° Distrito Policial. A SSP informou ao Truco que apenas disponibiliza as informações dos boletins de ocorrência por telefone e que não seria possível publicá-lo ou encaminhá-lo por e-mail.

A reportagem contatou a página Partido Anti-PT para solicitar a fonte da informação contida no post mas não obteve retorno. Não foi possível entrar em contato com a equipe do site Imprensa Viva já que a página não contém nenhum tipo de informação de contato, como email-s ou telefones.

Facebook/Partido Anti-PT

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Este texto foi produzido pelo Truco, o projeto de fact-checking da Agência Pública. Entenda a nossa metodologia de checagem e conheça os selos de classificação adotados em https://apublica.org/truco. Sugestões, críticas e observações sobre esta checagem podem ser enviadas para o e-mail truco@apublica.org e por WhatsApp ou Telegram: (11) 99816-3949. Acompanhe também no Twitter e no Facebook. Desde o dia 30 de julho de 2018, os selos “Distorcido” e “Contraditório” deixaram de ser usados no Truco. Além disso, adotamos um novo selo, “Subestimado”. Saiba mais sobre a mudança.

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