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Apyterewa: Indígenas se mudam de aldeias temendo retaliação por desintrusão de invasores

16 de outubro de 2023
17:00
Este artigo tem mais de 1 ano

Famílias indígenas Parakanã tiveram que sair temporariamente, com apoio da Funai, de duas aldeias na Terra Indígena Apyterewa, no sul do Pará. Os indígenas temem retaliações dos invasores em consequência da operação de desintrusão do território indígena deflagrada pelo governo federal no último dia 2 e que continua em andamento, sem prazo para acabar. A invasão prosperou durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), transformando Apyterewa na terra indígena mais desmatada no país no período.

Conforme a operação de desintrusão avança, a tensão aumenta no território. Ao longo da semana passada, indígenas das aldeias Tekatawa e Kaeté se deslocaram para outras aldeias na terra Apyterewa. Segundo apurou a Agência Pública, os indígenas disseram que vão retornar às aldeias assim que a desintrusão for concluída.

Indígenas Parakanã estão deixando aldeia durante ação de desintrusão na Terra Indígena Apyterewa
Indígenas Parakanã estão deixando aldeia durante ação de desintrusão na Terra Indígena Apyterewa

Nesta segunda-feira (16), um vídeo que circula em rede social mostra o corpo de um homem que, segundo os invasores, teria sido atingido por um tiro disparado por uma equipe da Força Nacional na vila conhecida como “Renascer”, montada ilegalmente ao longo dos anos dentro da terra indígena. As circunstâncias da morte do invasor ainda serão apuradas pela Polícia Federal. Imagens do SBT Pará mostram que os invasores montaram e incendiaram pelo menos uma barricada em uma das vias de acesso à vila.

Desde o início da operação, o governo adverte os moradores para que se retirem imediatamente do local. Há ordens judiciais para a saída dos invasores expedidas tanto pela Justiça Federal do Pará quanto pelo STF (Supremo Tribunal Federal), com relatoria do ministro Luís Roberto Barroso. 

O governo federal mobilizou mais de 300 servidores de 14 órgãos diversos, como PF, FN, Funai e Ibama, e disponibilizou veículos para a retirada dos invasores, estimados em 2 mil. Parte dos invasores já se retirou voluntariamente, mas outra permanece resistindo em núcleos clandestinos, como a “Renascer”, onde ocorreu o episódio de violência na manhã de ontem.

Logo nos primeiros dias da operação, as equipes do governo encontraram dois postos de gasolina, 15 pontos de criação de gado e veículos com 200 bovinos, tudo inserido ilegalmente no território indígena ao longo dos anos. Numa fazenda vizinha da Apyterewa, a PF localizou dois trabalhadores rurais em condição análoga à escravidão.

No final de setembro, políticos do Pará tentaram impedir a operação, cujo início atrasou em cinco dias. Desde o começo, contudo, permanecem tentando cancelá-la por meio de pressões políticas em Brasília. Em redes sociais e vídeos que circulam na internet, políticos continuam propagando a ideia de que vão conseguir a paralisação da desintrusão, o que estimula a permanência dos invasores no território indígena. 

Em vídeo que circulou nesta segunda-feira, por exemplo, o prefeito de São Félix do Xingu (PA), João Cléber (MDB), diz que “as pessoas só saem dali se tiver indenização”. “Por isso, estou aqui avisando em [sic] vocês ter calma. A operação hoje de desintrusão Apyterewa será suspensa por ordem do presidente da República através do governador Helder Barbalho”, diz o prefeito.

A Agência Pública procurou diversas vezes o governo do Pará desde o início da operação para questionar o posicionamento de Helder Barbalho sobre a desintrusão, mas, até o momento, não teve resposta. O governador chegou a se reunir com o ministro Rui Costa no dia 28 de setembro, informação confirmada pela Casa Civil, que se recusou a confirmar se houve pedido para suspender a desintrusão.

Edição:
Imagem cedida à Agência Pública

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