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Reportagem

Nos bastidores, empresários buscaram EUA para evitar retaliação do Brasil ao algodão

Documento diplomático mostra os esforços de grupos como a FIESP contra guerra comercial

Reportagem
30 de junho de 2011
15:00
Este artigo tem mais de 12 ano

Em 2009, depois de quase oito anos de batalhas jurídicas e diplomáticas, a Organização Mundial de Comércio autorizou o Brasil a retaliar os Estados Unidos em função dos subsídios concedidos pelo governo norte-americano aos produtores de algodão do país.

O valor total da retaliação poderia chegar ao total de US$ 829 milhões da compensação destinado ao fundo do algodão, acordado no ano passado, é de US$ 147,3 milhões (cerca de R$ 236,9 milhões) ao ano até 2012.

Empresários brasileiros, porém, temendo a eclosão de uma guerra comercial que envolveria outros setores da economia, procuraram intermediar uma solução negociada, de acordo com um telegrama diplomático de fevereiro de 2010, revelado pelo Wikileaks.

O documento cita a Amcham, Câmara Americana de Comércio, e a Federação de Indústrias de São Paulo (Fiesp). Conforme o telegrama, Luiz Gabriel Rico, CEO da AmCham-Brasil, se empenhava em ajudar a encontrar uma solução construtiva para a disputa e teria conversado sobre o assunto com o então ministro de Comércio, Miguel Jorge, e a secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Lygia Spindola.

Rico teria sugerido um “gesto de boa vontade” da parte dos Estados Unidos para dar espaço político ao governo brasileiro para evitar retaliação.

De acordo com Rico, a preocupação era de que a lista de produtos afetados pela retaliação brasileira fosse maior do que se imaginava. Segundo ele, os setores de tecnologia de informação e indústria farmacêutica estavam entre os que mais temiam “retaliações cruzadas”, que poderiam atingir setores de serviços e de propriedade intelectual.

Em um esforço para oferecer soluções concretas, Rico disse ao cônsul geral dos EUA que havia encomendado um estudo da consultoria Prospectiva, para descobrir que tipo de concessões poderiam ser oferecidas aos brasileiros interessados no mercado norte-americano, fornecendo uma base para as negociações.

A Fiesp também estaria conversando com setores da indústria brasileira – particularmente ligados a carne, etanol e algodão – para estudar o que interessaria como compensação.

A novela continua

Mesmo com todos os esforços do empresariado nacional, o governo brasileiro chegou a divulgar, no dia 8 de março de 2010, uma lista com cerca de 100 itens dos EUA que seriam sobretaxados no Brasil, incluindo paracetamol (que teria alíquota de improtação de28%), cremes de beleza (36%), algodão (100%), leitores de códigos de barras (22%), entre outros.

A dois dias da entrada em vigor da retaliação brasileira, o governo dos EUA cedeu e conseguiu o adiamento das represálias ao se comprometer com a retirada dos subsídios para exportação do algodão e com a criação de um fundo de US$ 147,3 milhões anuais até 2012, administrado pelo Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), destinado a programas de pesquisa e apoio à produção.

No último dia 16 de junho, a Câmara dos Representantes dos EUA decidiu suspender o pagamento da compensação pelos subsídios, o que ainda precisa ser votado no Senado e sancionado pelo presidente Barack Obama. Caso prevaleça essa posição, o governo brasileiro já acenou que poderá retomar o processo de retaliação comercial.

Os documentos são parte de 2.500 relatórios diplomáticos referentes ao Brasil ainda inéditos, que foram analisados por 15 jornalistas independentes e estão sendo publicados nesta semana pela Agência Pública.

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