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Depois que Nilcilene ganhou escolta, criminosos passaram a ameaçar as pessoas próximas a ela. Duas famílias já tiveram que fugir. Assista ao depoimento

Reportagem
29 de fevereiro de 2012
07:29
Este artigo tem mais de 12 ano

Enquanto a líder Nilcilene Miguel de Lima tem a escolta da Força Nacional, ela está a salvo da violência do sul de Lábrea, Amazonas. Mas a lógica é inversa para as pessoas ao seu redor. Desde que voltou ao assentamento onde vive, as famílias que mais lhe ajudavam no trabalho de liderança sofrem ameaças e agressões. Os grileiros e madeireiros que ela denunciou sabem que a missão da Força é apenas protegê-la e abusam da ausência de policiamento para retaliar.

Logo na primeira semana em que voltou para o assentamento, o irmão de Nilcilene, sua cunhada e sobrinha passaram a receber ameaças da quadrilha de pistoleiros.

A líder soube que algo estava errado no dia em que eles bateram na sua porta para avisar que estavam indo embora. “Nilce, não insiste, tenho o pai e meus filhos pra cuidar”, disse o irmão quando ela teimou em saber o que estava acontecendo. Seu nome não será publicado porque a reportagem não conseguiu localizá-lo. Nem mesmo Nilcilene sabe onde eles estão.

A mesma coisa aconteceu uma semana depois, dessa vez com o tesoureiro da associação da qual Nilcilene é presidente, a Deus Proverá. Os policiais que estavam no turno da noite levaram um susto quando ouviram gritos vindo do portão. De longe, a lanterna iluminou o casal: a mulher vinha abraçada a um crucifixo e o tesoureiro a ajudava a caminhar.

Segundo relato da líder, seu marido e dos dois policiais, o casal estava atordoado. Ela chorava muito e passou a noite na casa de Nilcilene repetindo como um mantra a frase “não deixa ele me pegar”.

Os policiais tentaram convencê-los a revelar o que havia acontecido, mas eles disseram que não podiam falar. Partiram pela manhã, deixando a terra pela qual lutaram para trás.

Em visita à casa, Nilcilene se emocionou ao ver o zelo com que o terreno foi deixado pelo tesoureiro e sua mulher. As plantas no sol, a casa de farinha limpa e o poço tampado. “Eu tô só”, suspirou em meio ao choro. “Me tiraram os braços e as pernas”.

Por telefone, o casal disse que não sabe quando vai voltar. Eles não quiseram dar entrevistas, disseram apenas que tudo não passou de uma alucinação: “a gente tava perturbado, viu coisa que não era real”.

Nilce teme que o próximo alvo seja a família do segundo tesoureiro da associação, Carlos Roberto Rufato. Ele trabalha na lavoura e mora com sua mulher e quatro filhos de 4, 9, 10 e 12 anos, além da cunhada, de 12 anos. A mulher é merendeira na escola do assentamento – trabalho voluntário pois há um ano não recebe salário.

Carlos não quis revelar se a família já sofreu alguma ameaça desde que Nilcilene voltou. Ele teme dar qualquer informação sobre os problemas com os pistoleiros na região. “Falo nada, se não me caçam. Somem comigo rapidão. Mas coloque aí que precisamos urgente de um posto policial aqui”, foram suas poucas palavras.

Sua mulher, Cleire Mazario Rufato, lembra que também é preciso um posto de saúde e melhorias nas escolas. As aulas acontecem em quatro barracões construídos pelos moradores com duas professoras dando aula para 200 alunos  com idades diferentes, misturados na mesma sala. “Os meninos têm muita dificuldade para ler, precisa de mais professora para alfabetizar. E precisa contratar as merendeiras e comprar comida, que a merenda chega vencida”, diz.

Cleire pede desculpas pela introdução do novo tema. Não consegue falar só de uma demanda num lugar onde falta tudo. “Se tiver que escolher uma coisa, a coisa mais importante, é até difícil pesar na balança. O que a senhora acha mais importante da gente pedir: polícia, escola, posto de saúde, energia ou estrada?”

Leia mais:  Nilcilene, com escolta e colete à prova de balas: “eles vão me matar” 

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