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Aniversário sempre faz a gente olhar para trás, vir caminhando na memória daquele ponto inicial até o que se comemora no presente. Não por acaso, é também um momento de pensar no futuro, planejar mais um ano, trazendo a bagagem do ano que passou.
Foi assim neste aniversário de 13 anos da Agência Pública na sexta-feira (15), em que lembramos a esperança que a inaugurou com um sentimento de gratidão pelo que ela se tornou e de responsabilidade com o futuro.
Daquela sementinha plantada com fé no jornalismo de interesse público e compromisso com os direitos humanos brotou uma organização que não para de se transformar, atrair profissionais de talento, leitores atentos, apoiadores generosos.
Hoje somos muitos, mais de 40, a construir o presente e imaginar o futuro. A Pública se tornou melhor e maior que o sonho que a fundou.
Se a inquietação nos empurra adiante, a permanência dos nossos princípios dá consistência ao trabalho que fazemos. Os desafios que enfrentamos nesse caminho – até a grande pedra que foi o governo Bolsonaro – trouxeram aprendizado e novos motivos para “tocar para frente”.
As aspas remetem à triste declaração do presidente Lula sobre a decisão do governo federal de silenciar o aniversário de 60 anos da ditadura e, junto com ele, apagar a luta de seus opositores e a dor dos familiares, que até hoje pressionam pela volta da Comissão dos Mortos e Desaparecidos, extinta no governo Bolsonaro. O presidente nem os recebeu em audiência, como contou a coluna de Rubens Valente.
“Eu, sinceramente, eu não vou ficar remoendo e eu vou tentar tocar esse país para frente”, disse o presidente sobre os 60 anos da ditadura. “Eu estou mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023 do que com 64”, afirmou.
A comparação entre o golpe de 1964 e a tentativa de golpe de 2023, porém, apenas reforça a necessidade de refletir sobre o passado, reparar danos, cobrar um comportamento democrático daqueles que trouxeram de volta o anseio autoritário de 1964.
Não se trata de “remoer”, palavra calculadamente ofensiva para quem insiste em lembrar. O passado ainda está bem presente na formação autoritária e violenta de militares e policiais, na injustiça que se perpetua nos corpos desaparecidos, na perseguição aos indígenas, no financiamento de atos extremistas por empresários sem nenhum escrúpulo.
Falta expor e rejeitar com firmeza a tortura que nos envergonha, as mentiras que encobriram crimes ainda impunes, o papel lamentável de empresas e instituições – a última revelação sobre isso, aterradora, foi publicada nesta semana pela Pública.
Como disse Dilma Rousseff, a única presidente a ter coragem de instalar uma Comissão da Verdade sobre os crimes de ditaduras no país: “O Brasil merece a verdade. As novas gerações merecem a verdade e, sobretudo, merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia”.
É disto que se trata, presidente Lula. Não se faz um governo de “união e reconstrução” mutilando a história que nos trouxe até aqui. A extrema direita está bem viva, com a ditadura como estandarte do 8 de janeiro. Em cada militar que depõe sobre a tentativa de golpe no governo Bolsonaro, mora um garoto catequizado pelos ditadores do passado.
Sem coragem de enfrentar os militares e seus aliados golpistas que há décadas falseiam os fatos para manter seus privilégios – e um lugar no coração dos brasileiros que ignoram seus crimes –, não há como “tocar o país para frente”.
Pelo menos não o país que todos nós, que escolhemos a democracia, queremos construir.