“Eu prefiro morrer do que perder essa causa para um negro.” “Não se deve dar pérolas aos porcos.” “Os africanos cheiram mal.” “Os negros têm lábios grossos e nariz avantajados porque seus antepassados olhavam para gorilas e macacos nas selva.” Essas são algumas das frases racistas que líderes religiosos brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), entre eles seu líder máximo, Edir Macedo, teriam dito a bispos e pastores em Angola, onde a igreja está instalada desde 1992.
As denúncias de racismo são feitas por religiosos angolanos que romperam com a direção brasileira da Iurd, comandada pelo bispo Honorilton Gonçalves, e a acusam de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, discriminação, imposição da prática de vasectomia e intromissão na vida conjugal dos pastores e bispos.
Liderados pelo bispo Valente Luís Bezerra, no final de junho deste ano os religiosos angolanos romperam com a direção brasileira da igreja e assumiram o controle dos templos em 15 das 18 províncias [estados] do país. A revolta dos angolanos começou em novembro de 2019, quando foi divulgado um manifesto com críticas e denúncias à direção da Universal.
Em 24 de julho, o Diário da República publicou o resultado de uma assembleia da igreja em Angola determinando a dissolução da diretoria, a destituição do bispo brasileiro Honorilton Gonçalves da direção da instituição e a inclusão do bispo Valente Luís Bezerra como coordenador da Comissão de Reforma da Iurd em Angola. A Universal se manifestou dizendo que o documento “não tem validade nem legalidade”.
“A reforma é a expressão da vontade dos membros, obreiros, pastores e bispos da igreja em Angola, que querem mudanças profundas no seio da instituição”, afirma, em entrevista à Agência Pública, o bispo Felner Batalha, membro da Iurd desde sua instalação no país africano e hoje assessor para os assuntos eclesiásticos e institucionais do bispo Valente Luís Bezerra.
Batalha afirma ter enviado, em janeiro de 2018, uma carta ao bispo Edir Macedo com denúncias e questionamentos sobre problemas da igreja no país. Em vez de receber uma resposta, relata, foi afastado do corpo de bispos. “É triste porque os problemas que hoje a igreja vive cá em Angola e um pouco por todo o mundo são de conhecimento do bispo Macedo, e, no nosso entender, ele poderia resolver isso de forma pacífica, corrigir as coisas que estão mal na igreja.”
Entre os abusos que acusam a direção brasileira de cometer, diz, “são mencionados crimes contra direitos humanos, crimes financeiros e, mais especificamente, evasão de divisas e branqueamento de capitais [lavagem de dinheiro]. Nós, como instituição religiosa, não podemos compactuar com esse tipo de atos de violação de direitos humanos e crimes financeiros. Queremos que a igreja, aqui em Angola, fique livre desse tipo de práticas.”
Em agosto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola fechou templos da Universal no país para investigar possíveis irregularidades cometidas pela igreja de Edir Macedo. Em comunicado, a PGR afirma que as apreensões resultam “do fato de existirem nos autos indícios da prática dos crimes de associação criminosa, fraude fiscal, exportação ilícita de capitais, abuso de confiança e outros ilícitos”.
Procurada, a Igreja Universal do Reino de Deus disse que todas essas questões já foram tratadas em notas que se encontram em seu site.
Leia abaixo a entrevista:
O que é a reforma e qual foi o contexto que levou ao rompimento com a direção da Igreja Universal?
A Igreja Universal em Angola é uma igreja de direito angolano. Portanto, ela é regida por estatutos próprios da igreja e da lei que regula o exercício da atividade religiosa em Angola, que obviamente se submete à Constituição da República do país. Ou seja, todos os atos da igreja e de seus representantes precisam obedecer a esses instrumentos legais. E, por ser uma instituição de direito angolano, todo patrimônio móvel e imóvel pertence à igreja em Angola.
A reforma é a expressão da vontade dos membros, obreiros, pastores e bispos da igreja em Angola que querem mudanças profundas no seio da instituição. E, quando falamos em mudanças profundas, estamos nos referindo a aspectos de práticas, bíblico-teológicos e, ainda, à atuação social da própria igreja. Em novembro de 2019, foi tornado público um manifesto pastoral onde ficam expressas as práticas erradas que eram perpetradas pela liderança brasileira.
Entre essas práticas, são mencionados crimes contra direitos humanos, crimes financeiros e, mais especificamente, evasão de divisas e branqueamento de capitais [lavagem de dinheiro]. Nós, como instituição religiosa, não podemos compactuar com esse tipo de atos de violação de direitos humanos e crimes financeiros. Queremos que a igreja, aqui em Angola, fique livre desse tipo de práticas.
Quando falamos de crimes de direitos humanos, também estamos a falar de discriminação que existia no seio da igreja e era perpetrada pela liderança brasileira contra os pastores nativos. E também de muitos casos da prática forçada de vasectomia. Também há casos de pastores que, por engravidarem suas respectivas esposas, sofreram represálias. A princípio, 330 pastores subscreveram o manifesto pastoral.
E, quando falamos de reforma no sentido espiritual, acreditamos que a igreja tem uma missão específica de ajudar as pessoas a chegarem até Deus. E o que se notou de um tempo para cá é que a liderança brasileira tem um foco muito material. Tudo que era feito nos cultos na igreja estava focado no aspecto financeiro. Seja qual fosse o movimento ou propósito de fé, era realçado o aspecto financeiro. E muito dos membros e obreiros aqui em Angola reclamavam junto aos pastores angolanos que a igreja estava materializada, que tudo que se fazia na igreja era com foco na vertente financeira. Isso nos faz acreditar que Deus quer que a igreja seja reformada e seja livre desse tipo de prática. E é por essa razão que os pastores angolanos decidiram então fazer o manifesto e seguir avante com a reforma.
Depois do manifesto pastoral, depois que tudo veio a público, no dia 24 de julho deste ano, com base nos estatutos da igreja, se convocou uma assembleia extraordinária que destituiu a antiga liderança da direção da igreja. E elegeu a comissão de reforma como a comissão de gestão legítima da Igreja Universal em Angola. Portanto, neste momento em que vos falo, a comissão de gestão, à luz dos estatutos, é o órgão legítimo para representar a Igreja Universal, quer dentro ou fora do país, diante das autoridades públicas e, também, diante de qualquer instituição privada.
No manifesto, há denúncias de casos de racismo. O senhor pode dar exemplos?
A maior parte dos atos, seja de racismo ou outros crimes denunciados, não foi cometida pelos brasileiros em geral, e sim por um grupo específico, ligado à liderança brasileira, que fique bem claro.
Um exemplo concreto da discriminação racial que presenciamos ocorreu na pessoa do próprio bispo Macedo, em uma das conferências que fez com Angola, direcionada só para Angola. Ele defendeu uma teoria de que os negros tinham lábios grossos e nariz avantajados porque nossas antepassadas que viviam nas florestas e bosques, as mães, quando estavam no estado de gestação, olhavam para gorilas e macacos na selva e, por conta disso, seus filhos nasciam com as características desses animais. Eu e todo os pastores presentes nesta videoconferência somos testemunhas. Eu fui um dos interlocutores que questionei o bispo a respeito dessa teoria. Isso ocorreu em janeiro de 2018.
E há outros casos, como de falarem que “os africanos cheiram mal”. Há uma frase que foi dita por um dos pastores ligados à cúpula da igreja em Angola, o Luís Gonçalves, sobrinho do bispo Honorilton Gonçalves. Ele disse: “Não se deve dar pérolas aos porcos”, referindo-se a um condomínio pastoral onde moram pastores. Ele defendia que esse condomínio não deveria continuar com a igreja porque, em outras palavras, tinha muito conforto para porcos. São claras declarações de racismo.
O próprio bispo Gonçalves, no ano passado, quando já tinha se iniciado o movimento de reforma, numa reunião em que só havia cidadãos brasileiros, disse: “Eu prefiro morrer do que perder essa causa para um negro”. Ele se referia ao bispo Valente Luís Bezerra.
No manifesto, há também a denúncia da não participação de angolanos em cargos de direção da igreja e privilégio dados aos bispos brasileiros. Pode falar a respeito?
Não se trata de cargos de direção, mas de lugares estratégicos da igreja. Eu questionei o bispo Macedo sobre isso numa carta enviada a ele. E questionei o motivo de os lugares estratégicos da igreja, administrativos e financeiros, serem ocupados só por bispos, pastores e esposas brasileiras mesmo nós estando em Angola. Isso é claro. Se a senhora chegasse naquela altura aqui em Angola e fosse visitar a administração da igreja, veria que em todos os setores importantes da igreja só havia cidadãos de nacionalidade brasileira.
O senhor enviou uma carta ao Edir Macedo com reivindicações e questionamentos, então?
Sim, eu fiz uma carta em 2018. Pedi ao bispo brasileiro Carlos Alberto, que estava aqui àquela altura e liderava a igreja. E naquela época eu estava com transferência para ir ao Rio de Janeiro. Mas, antes da minha viagem, eu apelei ao bispo Macedo e falei dos problemas que a igreja estava a viver, que não havia liberdade de expressão no seio da igreja em nível mundial, e também dos problemas que a igreja estava a enfrentar aqui em Angola e que o bispo deveria rever essa situação. Até sugeri algumas soluções, entre elas que o bispo deveria colocar líderes nativos em seus respectivos países. Porque, da forma como a igreja estava a ser gerida, estava visível que a qualquer momento poderiam ocorrer cisões e que poderiam ter efeito bola de neve. Ou seja, se acontecesse em único país, poderia se repetir em vários outros países do mundo.
O bispo Macedo simplesmente ignorou, não respondeu. Abordei também de forma presencial o bispo Carlos, que estava aqui como líder. Manifestei o meu protesto e preferi não seguir viagem. Sofri uma represália. Fui afastado da direção e do corpo de bispos. Mas me mantive firme, continuei simplesmente membro de pleno direito da igreja.
É triste porque os problemas que hoje a igreja vive cá em Angola e um pouco por todo o mundo são de conhecimento do bispo Macedo e, no nosso entender, ele poderia resolver isso de forma pacífica, corrigir as coisas que estão mal na igreja. Na minha carta, eu disse ao bispo que aqui se faz evasão de divisas. Eu não disse algo que ele não sabia, pois ele sabe. Eu questionei: “Bispo, por que aqui se faz evasão de divisas se aqui estamos a recorrer aos bancos comerciais a solicitar empréstimos para honrar com os compromissos que a igreja tem aqui?”. Parece absurdo, porque estava a se fazer evasão de divisas, mas a igreja aqui estava pedindo dinheiro emprestado ao banco para pagar compromissos. Ele não pode falar que não sabe dos problemas, que são acusações infundadas. Ele tem ciência de que se faz evasão de divisas, de que há problemas em Angola. E, pelo modus operandi da igreja, nenhum líder ousa fazer algo sem o aval do bispo Edir Macedo, ninguém faria evasão sem o bispo dar o aval. E ninguém manda os pastores fazerem vasectomia sem uma orientação do bispo Macedo.
O senhor foi afastado por questionar as práticas?
Exatamente.
Qual era o cargo que o senhor ocupava em 2018, quando mandou a carta para Edir Macedo?
Até antes da minha transferência para o Rio de Janeiro, em janeiro de 2018, mas que não se efetivou por causa do meu protesto, eu era auxiliar imediato do bispo João Leite.
O senhor está na igreja desde quando?
Sou o primeiro angolano a ser ordenado pastor na Igreja Universal do Reino de Deus, fui o primeiro obreiro e o primeiro pastor a ser ordenado em Angola. Estou desde a fundação da igreja em Angola em 1991, tenho 46 anos.
Essas situações de racismo, pressão por fazer vasectomia e discriminação são recentes ou fazem parte da história da igreja em Angola?
A primeira vez que ouvimos falar de vasectomia foi na pessoa do próprio bispo Macedo, em sua primeira viagem missionária a Angola, em 1993. Temos que ser justos e verdadeiros: na época, a vasectomia não era imposta, se aconselhava e quem quisesse fazer fazia. Com relação às práticas raciais, nos primeiros anos não notamos isso. No entanto, por volta de 1996, o primeiro indício racial surge quando um dos bispos brasileiros, que tinha uma filha maior de idade, ouviu de outro bispo que este deveria mandar a filha para o Brasil porque estaria a correr perigo de a filha casar com um africano. Os casos mais marcantes [de racismo] começaram a surgir nos últimos três, quatro anos.
E a questão da não participação de angolanos em cargos estratégicos?
Nem vou falar sobre desde a fundação porque, quando a igreja estava a começar, os pastores que foram formados aqui não tinham experiência nenhuma, e é compreensível que por isso não assumissem nenhum cargo estratégico. Mas, depois de dez anos, já não se justificava. Os lugares estratégicos da Iurd, desde a fundação até antes do movimento de reforma, só foram ocupados por brasileiros. Há um caso de um bispo angolano que liderou, o Augusto Dias. Mas ele, mesmo como líder, dependia do aval do Brasil ou do bispo João Leite para as autorizações financeiras. Tirando esse caso único, em todos outros períodos os lugares estratégicos foram ocupados só por brasileiros.
A reforma é irreversível?
A reforma é irreversível porque está oficializada com a publicação da ata que destituiu a anterior direção, inclusive o bispo Honorilton Gonçalves. E que também elegeu o bispo Valente como coordenador da comissão de reforma. Isso está publicado no Diário Oficial, certificado pelo Ministério da Justiça de Angola. Os passos que dão cunho jurídico legal foram tomados e a reforma é irreversível.
Houve alguma tentativa de diálogo por parte das lideranças brasileiras, do bispo Edir Macedo, do bispo Honorilton, a fim de ouvir as reivindicações dos angolanos?
Não, não houve nenhuma. Pelo contrário, o discurso do bispo Honorilton Gonçalves foi: “Não conversamos com demônio, não conversamos com diabo”. E no segundo pronunciamento do bispo Macedo com relação ao problema em Angola, ele amaldiçoou os pastores angolanos, suas famílias e a descendência desses pastores.
Esse comportamento é coerente com um líder cristão?
A senhora pode tirar as suas conclusões. E nós esperávamos do bispo Macedo e do bispo Gonçalves uma outra postura.
O senhor teve ciência de denúncias de casos de xenofobia contra angolanos aqui no Brasil?
Gostaria de ter mais dados, informações da identidade deles, para podermos tentar ver junto com o consulado angolano em Brasília para pedir proteção a eles.
Os brasileiros residentes em Angola estão sofrendo xenofobia, como têm sido divulgado por veículos ligados à Universal?
A Record tentou transmitir para o Brasil que cidadãos brasileiros em Angola estão a sofrer atos de xenofobia e quero desmentir. Não houve e não há atos xenófobos contra brasileiros e contra outras nacionalidades. Os pastores brasileiros têm relação boa com pastores angolanos. Mesmo nesse período conturbado, temos conversado com pastores brasileiros e manifestado que não há nada contra eles, e sim contra as práticas da liderança brasileira. Os pastores brasileiros sabem que os pastores angolanos são irmãos em Cristo e são dois povos irmãos. Temos dito a eles que não receiem porque não vão sofrer nenhum tipo de violência nem xenofobia. Nós temos um bispo brasileiro em Cabinda [província angolana], sozinho, ele e a esposa, temos outro no Cunene, sozinho. O movimento de reforma começou em novembro do ano passado, e esses dois bispos estão sozinhos por lá. A maioria dos demais que estão são pastores e obreiros angolanos. Por conta da pandemia, não havia voos nem circulação rodoviária para a capital. Eles estão sozinhos e não há atos de violência ou xenofobia. Aquilo que a Record tentou transmitir para a comunidade brasileira no Brasil não corresponde à verdade.
A Record noticiou que houve violência na ocupação dos templos. O senhor confirma?
Quero lamentar que houve um incidente. Para ficar bem claro, esse movimento ocorreu em todo o país. São mais de 150 templos da igreja e 90% dos templos próprios e arrendados, alugados, estão sob jurisdição da comissão de reforma. Nesse movimento de mais de 150 templos, houve apenas um incidente na catedral do Morro Bento, onde um pastor da Iurd, brasileiro, foi acidentalmente ferido junto à sobrancelha. Achamos que a Record se aproveitou dessa imagem. Foi o único incidente, e, se a senhora vir as imagens, vai ver que esse pastor tem pele clara, e, se houvesse pontapés e socos, como o bispo Honorilton disse e a Record reproduziu, nós íamos ver hematomas no rosto desse pastor. Mas se a senhora vir as imagens, as fotos, vai ver que não tem nenhum hematoma. Foi um incidente que lamentavelmente ocorreu. Foi o único em dez meses, e nós lamentamos. Não há atos de violência contra cidadãos brasileiros e de outras nacionalidades.
O senhor disse que 330 pastores e bispos assinaram o manifesto. Há quantos pastores e bispos da Iurd em Angola e quantos apoiam a reforma?
Na altura que subscreveram o manifesto, em novembro do ano passado, eram 330, dos quais a maioria recuou depois e ficaram com o bispo Honorilton Gonçalves. Mas, em junho deste ano, mais de 300 pastores resolveram abraçar a reforma. Nesse momento em que falo com a senhora, no universo de 400 pastores angolanos, mais de 300 estão na reforma. Uma maioria esmagadora está na reforma.
Há pastores e bispos brasileiros que apoiam a reforma e estão aí no Brasil. Os que estão aqui, alguns já manifestaram seu apoio, mas, por temerem represálias, não podem manifestar publicamente.
Quantos templos os bispos e pastores da reforma assumiram?
Em Angola existem 18 províncias, que aí no Brasil vocês chamam de estados. Um deles é a capital, que é Luanda. Fora de Luanda, 15 províncias estão sob jurisdição efetiva plena da comissão de reforma. Temos duas províncias que ainda não estão, a do Cunene e a do Moxico, e tem mais uma terceira que não está a ter cultos da comissão de reforma. Em 15, suas respectivas igrejas catedrais estão sob a jurisdição da comissão de reforma. Em Luanda, temos perto de 150 templos, entre eles próprios e arrendados [no Brasil, seriam alugados], dos quais 110 estão sob jurisdição da comissão de reforma. E temos oito catedrais das quais quatro estavam sob jurisdição da comissão de reforma. Falo estavam porque a PGR, Procuradoria-Geral da República de Angola, apreendeu sete catedrais da Universal depois de ter feito algumas buscas e apreensões e informar à opinião pública nacional que existem grandes indícios de crimes praticados pela liderança brasileira. Tem um documento oficial da PGR em que justifica por que apreendeu os sete templos.
Quantas pessoas compõem a comissão de reforma e qual cargo o senhor ocupa?
De cargos diretivos tem o do bispo Valente, que é o coordenador; dois coordenadores adjuntos, que são o pastor Pedro Garcia, para assuntos internos, e a senhora Nádia Monteiro, para assuntos externos. Eu sou assessor do bispo Valente para assuntos eclesiásticos e institucionais
O que será a nova igreja reformada, haverá alguma diferença no conceito de igreja? Manterá o mesmo nome, templos?
A princípio, a igreja vai manter o nome porque é um registro oficial. Se um dia a igreja quiser mudar o nome, tem que ser uma decisão deliberada na assembleia geral da igreja, não pode ser uma decisão do líder do bispo Valente. O que vai mudar é o conceito. E daí o porquê da reforma. Porque, se continuássemos com o mesmo conceito, não haveria razão de se fazer reforma.
E qual é o novo conceito? De um tempo a essa parte, a igreja perdeu a essência da espiritualidade, a igreja era como se fosse uma permuta. “Você quer uma vida melhor, de paz, de harmonia na sua família? Quer ter prosperidade financeira no seu negócio? Então vá fazer um voto com uma oferta de dinheiro num envelope no altar.” Tudo praticamente girava em torno do financeiro. E o conceito do cristianismo é diferente, e é ele que queremos resgatar. Buscai em primeiro lugar o reino dos céus e a sua justiça e outras coisas serão acrescentadas. As coisas materiais, no nosso conceito da igreja que queremos ser, é a consequência de uma relação espiritual que o crente tem com Deus. Eu vou estabelecer minha relação com Deus porque eu reconheço que preciso de Deus, que ele é meu Salvador, o Senhor da minha vida, e dou a minha vida a ele. Se ele quiser me proporcionar uma vida abençoada, amém; se não, amém também.
É esse o conceito que precisamos resgatar, porque foi esse conceito que recebemos no início da nossa caminhada com Deus. Mas que ao longo dos anos se perdeu. Queremos erradicar da igreja isso de que, para ter algo na terra, tenho que dar x ou y em valores monetários. E no nosso conceito de igreja ela tem duas pernas: a espiritual e a social. Acreditamos que a igreja precisa ser mais atuante no seio da comunidade. Isso não se resume apenas ao espiritual. E além de doações, tipo cestas básicas, a igreja pode potenciar as comunidades com programas e projetos de conhecimento.
O que se evadiu de divisas aqui poderia ter sido aplicado em projetos com a comunidade. Desde 2011, nós, bispos e pastores angolanos da Universal, queremos construir uma universidade da igreja. Não compreendemos o porquê, mas a liderança brasileira vetou o projeto que tinha sido até apresentado para o ministério do Ensino Superior de Angola. O bispo Luiz André, que estava aqui na época, disse que recebeu ordem do Brasil para impedir que o projeto avançasse.