Buscar
Agência de jornalismo investigativo
Checagem

Uma corrente de WhatsApp pode atingir todos os brasileiros?

Checamos como funcionaria o compartilhamento de mensagens pelo aplicativo se todo mundo repassasse o texto para pelo menos seis contatos

Checagem
6 de março de 2017
12:30
Este artigo tem mais de 7 ano
Correntes no WhatsApp afirmam que podem chegar a milhões em pouco tempo
Correntes no WhatsApp afirmam que podem chegar a milhões em pouco tempo. Foto: Marina Stroganova/Flickr

“Se você passar essa mensagem para 6 pessoas, em breve essa notícia atingirá todos os brasileiros.” – Trecho de mensagem divulgada em corrente no WhatsApp

Falso
A análise dos dados e de outras fontes mostra que a afirmação é falsa.

São frequentes as mensagens virais no aplicativo de mensagens WhatsApp com notícias, muitas vezes falsas, que terminam com pedidos para que o destinatário repasse o texto para diversos amigos. Além do texto acima, o Truco – projeto de checagem de fatos da Agência Pública – localizou outros finalizados com pedidos similares. Saber se essa informação está correta é importante porque mostra como notícias falsas podem se espalhar rapidamente pela rede.

Para verificar se uma corrente de WhatsApp pode de fato chegar a todos os brasileiros, como afirma a frase, a reportagem primeiro foi atrás de dados que permitissem fazer esse cálculo. Apuramos primeiro as estatísticas do setor de telefonia móvel no Brasil. De acordo com informações da Anatel, 243,42 milhões de linhas móveis estavam em operação no país em janeiro de 2017. Depois, levantamos quantas pessoas existem no país. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira estava estimada em cerca de 207,16 milhões de pessoas em 3 de março de 2017.

O número de linhas móveis é superior à população porque há pessoas que possuem mais de um número ativo, muitas vezes em diferentes operadoras. No entanto, nem todos os assinantes móveis no Brasil fazem uso regular do aplicativo WhatsApp, onde a mensagem verificada foi propagada. Segundo um relatório do fórum global Mobile Ecosystem, que monitora o uso de aplicativos de mensagens em nove países, 76% dos assinantes móveis no Brasil utilizam regularmente o WhatsApp. Portanto, o aplicativo tem cerca de 184,68 milhões de usuários ativos no país.

Consultamos a matemática Simone Batista, doutora pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), para verificar se é matematicamente possível que a mensagem atinja todos os usuários do WhatsApp no Brasil em pouco tempo. “A previsão matemática é que a corrente chegaria, mais cedo ou mais tarde, a todos que possuem WhatsApp”, confirma a professora. Segundo seus cálculos, se todos os destinatários da mensagem de fato repassarem o texto a outras seis pessoas diferentes das que já receberam, em 11 repasses a corrente atingiria 184,68 milhões de pessoas, ou seja, o total de usuários do aplicativo no país. Veja como foram feitas as contas.

A professora, no entanto, ressalta que é improvável que o cálculo reproduza fielmente a realidade. “O maior problema dessa estimativa é que muitos dos que recebem o texto recebem mais de uma vez. Para saber de verdade o resultado desse cálculo teríamos que estimar quantos usuários recebem repetidas vezes e tirar isto da soma, mas não existem dados suficientes para isso”, explica Batista.

Também é difícil estimar quantas pessoas de fato repassam a mensagem recebida. Estudos acadêmicos analisam a propagação de correntes de e-mail, que seguem uma lógica similar à das correntes de WhatsApp, embora tenham caído em desuso nos últimos anos.

Um artigo do programa de pós-graduação da Universidade de Juiz de Fora cita dados de um estudo da pesquisadora australiana Marjorie Kibby, da Universidade de Newcastle. De acordo com Kibby, 50% dos usuários da Internet afirmaram, em 2005, enviar pelo menos um e-mail de corrente por semana a algum familiar ou amigo, ainda que cerca de 44% desses usuários afirmassem ter algum problema com o recebimento de e-mails indesejados. As pesquisas de Kibby concluem ainda que usuários que utilizam o serviço de e-mail há menos tempo são mais propensos a repassar correntes do que usuários antigos. É possível que as mesmas tendências se apliquem hoje em dia em relação às correntes propagadas via aplicativos de mensagem, porém os estudos não fornecem estatísticas suficientes para avaliar quantos dos usuários de fato repassam as mensagens.

Ainda que em teoria pudesse chegar a todos os usuários do WhatsApp no Brasil, como a previsão matemática aponta, a mensagem não atingiria todos os brasileiros, por três motivos. Parte da população não possui linhas móveis. Além disso, nem todos estão dispostos a compartilhar mensagens desse tipo. E muitos assinantes de telefonia celular não fazem uso regular do aplicativo. Por isso, classificamos a frase como falsa, já que a análise dos dados e de outras fontes mostra que a afirmação está incorreta. Ainda assim, as contas mostram que informações erradas podem se espalhar numa velocidade extremamente rápida.

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Truco

Este texto foi produzido pelo Truco, o projeto de fact-checking da Agência Pública. Entenda a nossa metodologia de checagem e conheça os selos de classificação adotados em https://apublica.org/truco. Sugestões, críticas e observações sobre esta checagem podem ser enviadas para o e-mail truco@apublica.org e por WhatsApp ou Telegram: (11) 99816-3949. Acompanhe também no Twitter e no Facebook. Desde o dia 30 de julho de 2018, os selos “Distorcido” e “Contraditório” deixaram de ser usados no Truco. Além disso, adotamos um novo selo, “Subestimado”. Saiba mais sobre a mudança.

Leia também

Corrente no WhatsApp mente sobre mudança no Imposto de Renda

Por

De acordo com mensagem que viralizou no aplicativo, governo prepara decreto que "atinge diretamente a classe média"

Corrente erra ao considerar ilegal gravação de Temer sem autorização de juiz

Por

Ministro do STF aceitou os áudios como possíveis provas ao abrir inquérito, mas validade será analisada no processo

Notas mais recentes

Dirigente da Caixa Asset deixa sociedade com ex-assessor de Lira após reportagem


COP29: Cotado para presidir COP de Belém, Alckmin escorrega na ciência do clima


Restrições ao aborto voltam à pauta da Câmara e STF julga consequências das bets


Urbanização em áreas de risco de deslizamento triplicou nos últimos 38 anos no Brasil


Taxa de desmatamento da Amazônia bate o menor nível desde 2015; no Cerrado também cai


Leia também

Corrente no WhatsApp mente sobre mudança no Imposto de Renda


Corrente erra ao considerar ilegal gravação de Temer sem autorização de juiz


Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes