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“O Tapajós, no Pará, realmente é um rio mágico. Cheio de nuances, contrastes, luzes e cores. À primeira vista, águas calmas que correm sempre em frente; depois de 25 dias de imersão se sobrepõem as corredeiras, cachoeiras, banzeiros, redemunhos, espocos e rebojos. (…)” Com 810 km de comprimento, o rio Tapajós se tornou um ponto

Reportagem
12 de fevereiro de 2015
15:19
Este artigo tem mais de 9 ano

“O Tapajós, no Pará, realmente é um rio mágico. Cheio de nuances, contrastes, luzes e cores. À primeira vista, águas calmas que correm sempre em frente; depois de 25 dias de imersão se sobrepõem as corredeiras, cachoeiras, banzeiros, redemunhos, espocos e rebojos. (…)”

Com 810 km de comprimento, o rio Tapajós se tornou um ponto estratégico para os planos de crescimento do governo federal. Em um dos últimos rios amazônicos com potencial hidrelétrico inexplorado, é esperado para os próximos anos um conjunto de obras de infraestrutura, além de um complexo de sete hidrelétricas. A mais avançada delas é a UHE São Luiz do Tapajós, com capacidade para 8.040 megawatts e custo de R$ 30 bilhões.

A construção da usina, entretanto, alagaria a terra indígena Sawré Muybu, assentada em solo sagrado para o povo Munduruku. Desde novembro do ano passado, a Agência Pública acompanha a luta dos Munduruku para a demarcação de sua terra, identificada em um relatório que está parado na Fundação Nacional do Índio (Funai) desde o ano passado. Como protesto, os indígenas chegaram a ocupar uma sede da entidade em Itaituba (PA). Em entrevista exclusiva, a ex-presidente da Funai Maria Augusta Assirati revelou a interferência política no órgão.

Além da batalha dos Munduruku, mostramos também que mais de 2500 ribeirinhos que dependem do Tapajós para viver podem ser desalojados pela construção da usina, sem serem consultados pelo governo. E que, enquanto os projetos ganham o rio, a população de Itaituba encontra uma infraestrutura precária na maior cidade da região e teme ficar de fora da bonança do desenvolvimento.

Batalha pela fronteira Munduruku

Indígenas proclamaram a autodemarcação da terra que pode parar a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, a nova menina dos olhos do governo federal. Assentada em solo sagrado, a área seria alagada pela usina. “A gente não sai”, diz cacique. Assista à videorreportagem:

“Preocupados com os impactos no seu território como um todo, indígenas Munduruku de diferentes partes da bacia se uniram e elegeram a Sawré Muybu como um marco fundamental a ser defendido. Além das famílias que vivem lá, essa terra abriga o solo sagrado Daje Kapap’ Eipi, entendido como o local onde nasceram os primeiros Munduruku, os animais e o rio Tapajós. Dada sua importância espiritual e o contexto de conflito político, o local se aproxima do que seria uma Jerusalém Munduruku.

‘Esse é o portão de entrada do nosso território, viemos proteger a terra para nossos filhos e netos. Para o futuro’, diz Saw Rexatpu, guerreiro e historiador Munduruku, ao fim de um dia de trabalho na picada da autodemarcação. ‘Nossos bisavós morreram lutando aqui e nós vamos pelo mesmo rastro. Se eu morrer aqui, deixo a minha história’. Ele viajou três dias para acudir ao chamado de Juarez Saw Munduruku, o cacique da aldeia Sawré Muybu.

Mas e se a estratégia der errado e o governo mandar sair? ‘A gente não sai’, responde o cacique, sem abalar o semblante tranquilo. E se a polícia tirar à força? ‘É o fim do nosso mundo, porque a gente só sai morto.’”

A terra em disputa

O governo quer construir nove usinas na bacia do Tapajós e Teles Pires. Os impactos devem afetar as terras Munduruku como um todo.

São Luiz do Tapajós alagaria partes importantes da Sawré Muybu. Além dela, mais duas usinas foram projetadas ao redor dessa terra indígena.

Um aviso à Funai

De Itaituba (PA), a reportagem da Agência Pública acompanhou a ocupação dos Munduruku à sede da Funai. Eles exigiam a demarcação das suas terras, ameaçadas pela UHE São Luiz do Tapajós. Leia mais e confira a galeria com fotos da ocupação.

Na primeira entrevista desde que deixou o cargo, ex-presidente fala sobre a interferência política na Funai, liderada pela Casa Civil e pelo Ministério da Justiça. E revela a manobra do governo para licenciar a usina de São Luiz do Tapajós. Leia na íntegra.

Ninguém os ouviu

As usinas hidrelétricas do rio Tapajós devem desalojar mais de 2500 ribeirinhos e matar os peixes dos quais sobrevivem, mas o governo se recusa a consultá-los. Saiba mais.

Um rio em disputa

— O que o povo faz?

— Não, meu filho, eles querem fazer uma barragem aqui . Aí nós vamos sair daqui, vamos embora não sei pra onde.

Às vésperas de perderem suas terras para mais uma mega usina hidrelétrica estratégica para o governo federal, comunidades do Rio Tapajós, um dos mais preservados do país, preparam-se para defender o que é seu. Assista ao documentário, dirigido por Márcio Isensee e Sá:

Lá vem o progresso

No oeste do Pará, a cidade de Itaituba concentra obras estratégicas para o governo federal, mas, diante da infraestrutura precária, seus moradores temem ficar fora da bonança do desenvolvimento. Confira.

Amazônia Pública

Entre julho e outubro de 2012, três equipes de repórteres da Agência Pública percorreram diferentes regiões amazônicas. Entre elas, a bacia do rio Tapajós, onde a movimentação do governo federal para construir usinas hidrelétricas nos próximos anos já começava a impulsionar a mineração, ameaçando um mosaico de áreas protegidas.

Relembre as reportagens e confira as fotos do projeto:

A realização dessas reportagens só foi possível graças a uma bolsa da organização Mongabay.

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