Agência de Jornalismo Investigativo

Na esteira da Rio+20 a Pública investiga o futuro da Amazônia a partir do elemento sempre esquecido do debate: o humano. Esta série de reportagens vai verificar como anda a educação na região norte a partir de jornalismo de dados.

2 de julho de 2012
10:39
Este texto foi publicado há mais de 10 anos.

Em março de 2010 o professor Roberto F. Cunha reproduziu em seu blog a reportagem intitulada “Pará ganha medalha na Olimpíada do Conhecimento”, publicada originalmente no Diário do Pará, jornal de maior circulação no Estado.

Na matéria, lê-se que o agraciado fora Victor Cunha, 18 anos, prata na ocupação “Eletrônica Industrial” da Olimpíada do Conhecimento do Senai, competição bienal de educação profissional.

O blogueiro Roberto Cunha provavelmente reproduziu a reportagem não apenas porque é professor: ele é pai do medalhista. Noscomentários ao post em seu próprio blog, o professor não escondeu o orgulho: “Parabéns filho, para você e todos da delegação. O Pará agrsdece”.

Naquela competição, o quadro de medalhas foi liderado por São Paulo, seguido por Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Paraná.  O Pará ficou entre os últimos. O representante da região Norte mais bem colocado foi o Acre: 21º lugar.

Diz-se no jornalismo que u cachorro morder um homem não é notícia, mas um homem morder um cachorro, sim. Daí o feito do jovem Victor merecer destaque no Diário do Pará: é fato raro um estudante da região Norte do Brasil estar entre os vencedores em competições desse tipo.

Compilados pelo movimento Todos pela Educação, dados do Saeb (Sistema Nacional da Educação Básica, programa do Governo Federal) indicam que os estudantes da Região Amazônica estão bem abaixo da média nacional quando o assunto é desempenho.

Números de 2007 (ver quadro) demonstram que a maioria dos meninos e meninas da região Norte apresentou desempenho abaixo do esperado para a sua série, tanto em Português como em Matemática. E a situação piora após alguns anos na escola: no último ano do Ensino Fundamental, o desempenho é sofrível.

Em Matemática, por exemplo: de cada 100 estudantes na 8ª série (9º ano) na Região Norte, menos de 10 têm desempenho adequado. Péssima notícia para um país que sofre com a falta de mão-de-obra técnica qualificada, especialmente em Engenharia, que depende da formação em Matemática.

Não parece tão difícil identificar as causas deste baixo desempenho dos meninos da Amazônia: corrupção e problemas de gestão aparecem associados ao sistema público de ensino na região Amazônica, ao menos no âmbito municipal, como veremos na segunda reportagem desta série.

Uma situação que contrasta com o vertiginoso crescimento econômico da região – afinal, Rondônia e Roraima estão entre os estados que mais crescem no país.

O resultado de políticas públicas ineficientes aparece nos dados desta reportagem: em pelo século 21, em plena “Era da Informação”, ainda há muitos analfabetos na região Norte.

Além disso, todos os Estados da região estão abaixo da nota média do Brasil no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da primeira etapa do Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries). O mesmo cenário, com exceção do Acre, se repete na segunda parte do antigo 1º grau.

E os problemas não se restringem ao Ensino Fundamental. As taxas de abandono no Ensino Médio são bastante altas na região, bem maiores do que a média nacional, atingindo quase 18% dos estudantes no Pará, por exemplo.

Uma parcela das gerações mais vividas da Amazônia não teve oportunidade de obter educação formal (veja dados sobre a proporção de pessoas que nunca freqüentaram a escola). A geração adulta atual comemora os raros feitos dos amazônicos na área do conhecimento.

E as futuras gerações de líderes da região?  Quase 100% deles está atualmente na escola, mas o retrato do desempenho dos alunos indica que o acesso não resolve a questão. Uma vez na escola, ainda há muito a ser feito para que os meninos da Amazônia recebam tanta atenção e investimento quanto a sua floresta.

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